A senhora de costas curvas, personagem conhecida nas ruas centrais de Londrina, tem dois companheiros fiéis: o lenço sobre os cabelos e a bengala de ferro. A coluna se dobra ainda mais, em ângulo agudo, para avaliar outro metal, também chamado vil, também batizado mola do mundo, também apelidado grana. Quando a bengala da anciã aponta o cidadão que passa, não há dúvida: logo depois ela pede o metal. Usa tom baixo, perto da súplica. A bengala é sua antena monetária, o seu radar de esmolas. Chega a hora de fazer o balanço do dia. Ela se senta no degrau da escada. Os olhos se apertam para identificar precisamente as caras e coroas. Rugas de preocupação contam, dedo a dedo, o magro saldo de uma terça-feira qualquer. (Paulo Briguet)