Objetos mais visados são de bronze e cobre
Objetos mais visados são de bronze e cobre | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

Ibiporã - Dos mais novos aos antigos, é difícil encontrar um corredor em que, pelo menos, um túmulo não tenha sido alvo de criminosos no cemitério municipal São Lucas, em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina). O espaço atravessa uma “onda” de furtos. Em muitos jazigos, restou apenas a pedra de granito, com as marcas de cola do que foi levado, como cruzes, placas com informação da pessoa enterrada e a foto.

As peças visadas são as de bronze e cobre, incluindo as alças das lápides. Em alguns casos, sepulturas foram vandalizadas, com os materiais deixados para trás, porém, danificados. Mas em ambas as situações, o que fica é o prejuízo para as famílias e o sentimento de revolta. “Levaram duas placas do túmulo da minha filha. É a primeira vez que acontece isso. No túmulo do lado quebraram tudo”, indignou-se a agricultora aposentada Eufrásia Brito.

Com a mãe enterrada no cemitério há dez anos, a costureira Lourdes Barbosa contou que também passou pela desagradável experiência pela primeira vez. “É muita falta de vergonha de quem faz isso. Falta de respeito com a gente e com o falecido. Mas em outras épocas já tiveram vários furtos no cemitério”, relatou.

INSEGURANÇA

O cemitério fica ao lado do horto florestal, o muro é baixo e o lugar não conta com iluminação em seu interior. A maioria dos túmulos furtados fica próxima das entradas ou dos muros. Vivendo em Ibiporã há cinco décadas, a pensionista Janaina Toledo reclama da sensação de insegurança que toda a situação vem gerando.

“Antes vinha com tranquilidade, visitava todos os jazigos dos parentes, acendia vela. Era seguro. Hoje acabou tudo isso. Dá muito receio, o cemitério é grande, a impressão é de que ficam pessoas com má intenção escondidas. Passei a vir de vez e quando e paro no Cruzeiro, que tem mais movimentação, e rezo para todos. Já chega a falta de paz para quem está vivo, agora são os mortos. Não temos mais sossego”, desabafou.

PEDIDOS

Mutuários cobram a presença de vigilantes no lugar, em especial durante a noite, quando a maior parte das ações criminosas acontece. Também aponta a necessidade de aumentar a altura dos muros e até colocação de estruturas que inibiam a tentativa de pular, como concertina. Outra sugestão foi a instalação de postes de luz. “Precisa de alguém para fazer rondas urgentemente”, pediu Eufrásia Brito.

O casal Irani e Ismael Lisboa classificou todo o aborrecimento como “absurdo. A sepultura da família teve os vasos levados, para surpresa deles. “Temos que amigos em que pegaram tudo o que conseguiram dos túmulos. É uma vergonha ter que passar por isso. É necessário ir atrás de quem compra também, pois, está errado e ajudando no crime”, elencaram. O cemitério São Lucas tem mais de 20 mil pessoas enterradas.

Acostumado a levar os alunos para valorização da memória, o professor de geografia Rodrigo Fernandes da Costa acabou se tornando vítima. Dois túmulos da família foram violados, gerando tristeza. "Senti como se tivessem entrado a minha casa. Chorei muito ao ver, afinal, o túmulo é um espaço de história de quem foi responsável pela minha existência, formação. Como católico, o cemitério é um espaço sagrado como é um templo religiosos", frisou. "O cemitério é a reprodução da nossa sociedade", completou.

CÂMERAS

Segundo a secretária municipal de Administração, Daniela Dourado, o poder público entrou em contato com as polícias Civil e Militar e tem trabalhado em parceria. Além disso, tem tomado outras medidas, como instalação de dez câmeras de segurança, o que está sendo licitado. O cemitério já conta com alguns equipamentos. “Pedimos à população, que se souber de alguma informação, que repasse para a polícia quem são os receptadores, porque estão investigando”, garantiu.

Dourado ainda afirmou que a vigilância está sendo reforçada, com a presença de mais dois servidores na ronda. “Também estamos pedindo para a empresa contratada para o monitoramento de alarme ajudar. Será colocada iluminação de LED em pontos estratégicos. Percebemos que estão entrando pelo lado do horto florestal. O furto nos cemitérios é um problema na região.”