Hugo Gonçalves - o seu Hugo - de 95 anos, dedicou mais da metade deles para cuidar de um lar que abrigava crianças carentes e, hoje, é uma creche. Bem mais jovem, o comerciante Rodrigo Nogueira Serpeloni, de 33 anos, ajuda a construir casas para pessoas carentes há quatro anos. O que ambos têm em comum? A caridade faz parte da rotina do dois e trouxe muitos benefícios
à vida de cada um deles.
  Ainda que muitas ações de solidariedade estejam diretamente ligadas à religião, é na ciência que o altruísmo tem encontrado explicações. De acordo com estudos, já é possível comprovar que os resultados dessa atitude proporcionam bem-estar físico e mental a quem realiza.
  O psicobiólogo Ricardo Monezi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que a caridade atua nas esferas física, psicológica e social. ‘‘Ser caridoso traz satisfação e o organismo libera serotonina, endorfina e dopamina, substâncias relacionadas ao prazer. O cortisol, hormônio que em alto nível aumenta o estresse, é reduzido. A pessoa se torna mais resistente às doenças’’, esclarece.
  Conforme Monezi, na esfera psicológica, ‘‘a caridade ajuda o ser humano a ser mais otimista diante dos problemas’’. Ele cita um estudo desenvolvido em parceria com uma ONG que cuida de crianças com câncer em São Paulo. Há dois anos o psicobiólogo monitora da qualidade de vida dos voluntários. ‘‘Resultados preliminares indicam que todos demonstraram estar mais dispostos e otimistas’’, diz.
  E assim aconteceu com seu Hugo, que mesmo sem saber dos benefícios que a caridade poderia trazer, diz que depois de décadas trabalhando para o próximo, se sente muito bem com a vida que escolheu. ‘‘Se eu pudesse, faria tudo de novo, só que melhor, porque hoje tenho mais experiência. A caridade só trouxe coisas boas e me considero uma pessoa extremamente feliz.’’
Dedicação
  Nascido em berço espírita, desde jovem seu Hugo estava acostumado a ver os pais ajudando vizinhos e quem precisasse. Em 1953 deixou o emprego como administrador de fazenda para cuidar exclusivamente do Lar Marília Barbosa, em Cambé (Norte). ‘‘Vim para a inauguração e nunca mais fui embora.’’
  Quando chegou, eram apenas oito internos que moravam no local. ‘‘Esse número se multiplicou ao longo dos anos.’’ ‘‘Hoje, são 88 crianças que estudam em tempo integral’’, explica Hugo. ‘‘Considero todos eles como meus filhos, cuido com o mesmo carinho.’’
  Depois de vários anos envolvido no trabalho, a própria família não poderia ficar de fora. Tanto que um dos filhos toma conta da administração do local. ‘‘Eles cresceram nesse ambiente, vivendo com as crianças. Agora são os netos que também ajudam a cuidar da creche. Me sinto feliz em ver que eles seguiram pelo mesmo caminho’’, comenta.
  O segredo para tanto desprendimento, ele revela: ‘‘é só fazer tudo com muito amor. Mas é importante dizer que caridade não significa tirar da família para dar aos outros. Tudo tem que ser de uma forma natural, sem fanatismo. A recompensa? É receber todo esse amor de volta. E isso
me faz muito bem.’’
(Com Agência Estado)