Caramujo africano se prolifera em Londrina
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sexta-feira, 21 de janeiro de 2005
Vanessa Navarro<br>Reportagem Local
O grande volume de chuvas registrado nos últimos dias reforçou em Londrina um problema existente em quase todo o País: a proliferação do molusco Achatina fulica, denominado vulgarmente de ''caramujo africano''. Exemplo do fato pode ser visto no Jardim Acapulco, Zona Sul da cidade, onde a reportagem da Folha encontrou nesta semana um foco de concentração da espécie. Moradores se surpreendem com o tamanho do caramujo exótico, mas desconhecem que eles podem transmitir doenças.
O descaso do proprietário de um terreno baldio localizado na Rua Ciro Sperandio, no Acapulco, fez com que o espaço, tomado por mato alto e entulho de construção, oferecesse condições para a proliferação do caramujo africano. A cada pedaço de tijolo ou vegetação remexida na área, os moluscos vão aparecendo. Em poucos minutos, dezenas deles podem ser vistos, esgueirando-se timidamente debaixo dos cascos com seus corpos viscosos. Nas casas vizinhas, os caramujos também são avistados subindo por muros e paredes externas.
''De uns dois meses para cá, aumentou a quantidade deles na rua. Quando chove a gente vê um monte desses caramujos, alguns bem grandes, maiores do que aqueles comuns'', conta Helen Orlando Simões, 17, residente defronte ao terreno baldio. Ela afirma que recomenda à sobrinha, ainda criança, que não toque nesses animais, embora não saiba ao certo que risco eles oferecem. Sueli Bernardes de Souza, 40, diretora de uma escola infantil instalada na mesma rua, não soube identificar a espécie mas se disse intrigada. ''Achei o tamanho bem incomum.''
De fato, o caramujo africano é maior do que a espécie nativa, chegando a medir 15 centímetros de comprimento por oito de largura e pesar 200 gramas. No Sul do Brasil, contudo, os maiores exemplares encontrados atingem 10 centímetros e 100 gramas. As informações são da veterinária Marilda Fonseca de Oliveira, responsável pelo controle de zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde de Maringá - cidade onde a disseminação desses moluscos forçou a prefeitura a promover uma campanha de erradicação (leia texto nessa página).
É consenso entre os órgãos de saúde que a espécie, nativa do leste e nordeste africanos, foi introduzida no Brasil na década de 80 - ilegalmente. A intenção era comercializar os caramujos como alternativa mais barata ao escargot, iguaria da culinária francesa. Sem sucesso, os criadores abandonaram esses animais no ambiente silvestre, onde a reprodução e o alastramento foram rápidos. A criação dos caramujos africanos é proibida por lei no País, mas eles já estão presentes em pelo menos 16 estados brasileiros.
Além do tamanho superior, o Achatina fulica é caracterizado por um corpo escuro acinzentado e um casco com listras bem delimitadas. Segundo Marilda, os caramujos africanos são facilmente vistos em paredes, muros e tijolos porque consomem o cálcio encontrado nesses materiais, a fim de fortalecer seus cascos. A umidade contribui para a proliferação. É em meio à vegetação, porém, que eles causam maior perigo. Além de devastarem hortas e plantações, os caramujos podem contaminar hortaliças consumidas pelo homem.
''Eles secretam a larva infectante através do muco que deixam ao se locomoverem. O risco à saúde está na ingestão de alimentos contaminados ou no simples manuseio de terra onde a larva foi depositada'', explica. A espécie, sozinha, não provoca doenças; ocorre que qualquer caramujo pode se contaminar no meio-ambiente com as fezes de ratos, por exemplo. Entre as doenças que podem vitimar o homem em decorrência dessa contaminação, a veterinária destaca a angiostrongilíase abdominal, cujos sintomas se assemelham aos de uma apendicite e que pode, ainda que raramente, levar à morte.