Sertanópolis Construída por imigrantes e descendentes italianos, a capela do Distrito de Àgua das Sete Ilhas, no município de Sertanópolis (40 km ao norte de Londrina), chega ao 50 anos sem perder o simbolismo de uma época de esperança e prosperidade. O café impulsionava a economia da região na década de 50 e nada mais significativo que uma igreja, testemunha ocular da fé de dezenas de famílias, para simbolizar o cotidiano de uma comunidade essencialmente agrícola. Hoje, com o café dando lugar à soja e outras culturas de larga escala, a capela continua atendendo a zona rural de pelos menos duas cidades, sem o mesmo vigor é bem verdade, e sem a companhia de seus fundadores.
Na década de 50, cerca de 100 famílias italianas trabalhavam em Sete Ilhas plantando e colhendo café. A necessidade de praticar a fé cristã logo se tornou prioridade. Uma casa de madeira serviu de templo provisório, enquanto a liderança da comunidade encomendava a construção da capela a um mestre de obras catarinense. O agricultor Antonio Pissinati, de 67 anos, atual zelador e filho do fundador da igreja, é um dos poucos remanescentes daquela época. ''Lembro que aqui era tudo mato e a gente foi desbravando tudo e plantando café. Quem ficasse doente tinha que ser levado para São Paulo'', recordou.
A igreja foi inaugurada no dia 19 de fevereiro de 1956 a data continua até hoje rabiscada na calçada que cerca o templo mas o que precedeu os primeiros gritos de celebração, segundo Pissinatti, foi muito esforço e suor. Como o mestre de obras não poderia fazer tudo sozinho, contava com a colaboração da comunidade. ''Era feito um revezamento. Quem não estava na lavoura, ajudava na construção'', contou.
Ainda assim, a construção quase foi interrompida. O mestre de obras, que cuidou também da parte elétrica, acabamento e sistema hidráulico, ameaçou parar com tudo se não recebesse um aumento. ''As paredes estavam já todas de pé e no final das contas, tivemos que pagar mais''.
Meio século depois, o Distrito de Água das Sete Ilhas os desbravadores encontraram muitas ilhas na beira do Rio Tibagi e batizaram o local com esse nome é um retrato do êxodo rural e suas implicações. Pissinati, que aderiu ao movimento e hoje mora em Sertanópolis, disse que apenas 30 famílias vivem na localidade. ''Naquele tempo, viviam de três a quatro famílias em cada propriedade de 10 alqueires. Sobrava gente pra tudo que é lado. Hoje, tem pouca gente morando aqui, ainda mais com os problemas da agricultura'', lamentou Pissinatti, produtor de soja, milho e trigo.
Apesar desse declínio, a igreja continua cumprindo sua finalidade, só que em menor escala. As missas são celebradas sempre na quarta sexta-feira de cada mês e reúne em média 30 fiéis. Seu estado de conservação ainda está longe do abandono, mas alguns consertos se fazem necessários. Algumas paredes internas estão com a pintura descascando. As imagens estão intactas. O sistema de calhas, por outro lado, é o mesmo desde a construção e já não suporta o volume de águas em dias de chuva intensa, causando infiltrações.
A receita da paróquia é composta basicamente da arrecadação com as duas quermesses anuais, sem contar os descontos. ''Parte (dinheiro) vai para a igreja matriz de Sertanópolis e uma outra para o asilo dos velhos. Então, não sobra muito para a manutenção da igreja.''