Canal da Anhaia continua o mesmo
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quarta-feira, 29 de março de 2000
Michele Muller
De Paranaguá
Os moradores das margens do Canal Anhaia, na Vila Guarani, em Paranaguá, no Litoral do Estado, continuam sob o risco de serem contaminados pelo vibrião causador da cólera. Um ano depois de registrado o caso que daria início à epidemia que causou a morte de três pessoas, as condições de saneamento do local ainda são precárias.
As famílias da região continuam tendo que conviver com a sujeira e o mau cheiro do rio, que serve como depósito do esgoto residencial da cidade. De março do ano passado até agora, a única mudança que pode ser percebida naquele cenário é a pavimentação de um pequeno trecho cerca de 50 metros da rua que passa ao lado do canal.
Na época da epidemia, nos prometeram que o rio seria canalizado. Por enquanto, nada foi feito para melhorar nossa condição de vida. A água é tão poluída que esses dias apareceram vários peixes mortos aqui, reclama a atendente Marli Lopes da Silva, moradora do local.
A dona de casa Maria Ribeiro dos Santos, cujo sobrinho foi uma das vítimas do cólera, conta que, atraída pelo esgoto, uma quantidade enorme de ratos e baratas acaba invadindo nas casas. Me acostumei a manter porta e as janelas sempre fechadas. Até porque o cheiro do rio é insuportável, conta.
O secretário municiapl da Saúde de Paranaguá, Walnei Bonnoto, lembra que agentes da secretaria deslocam-se periodicamente ao local, desde o ano passado, para dar orientações aos moradores. Se as condições não mudaram, ao menos uma coisa está diferente: agora eles têm noções de higiene, de qualidade dos alimentos e aprenderam a fazer o tratamento da água, diz.
O operário Júlio Carvalho dos Santos afirma que agora somente alimentos cozidos são servidos em sua casa. Ele é o pai de Flávia Stefani Matos dos Santos, de 10 anos a primeira pessoa contaminada pelo cólera em Paranaguá. Pelo que parece, a família pode ter aprendido algumas das lições, mas nem todos os ensinametos dos agentes de saúde estão sendo seguidos. Os vizinhos de Flávia contam que, em dias de calor, a menina é vista entre outras crianças banhando-se na Anhaia.
Fernando Real Alves da Silva, diretor comercial da Águas de Paranaguá (empresa responsável pelo saneamento do município) informou que as obras de coleta e tratamento de esgoto na região terão início em meados de abril. Ele explica que, até a época da epidemia, a empresa não tinha concessão para atuar naquele bairro. Mas a prefeitura nos concedeu a área e conseguimos recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Segundo Fernando Silva, o projeto está sendo desenvolvido por uma equipe que viajou, esta semana, para os Estados Unidos com o objetivo de conhecer novas tecnologias de saneamento. Somente nas regiões próximas ao canal, as obras estão orçadas em R$ 6 milhões, e irão atender cerca de 13 mi pessoas.
Desde que surgiram os primeiros casos de cólera na cidade, a Águas de Paranaguá passou a fazer o tratamento e a coleta do esgoto no pátio de triagem do Porto de Paranaguá foco principal da bactéria.