Ele entrou na residência e, depois de uma briga que chamou a atenção dos vizinhos, teria dado três golpes de faca na ex-mulher. Os filhos sofreram ao assistir à cena. A mãe não resistiu e morreu horas depois no hospital. O crime ocorreu em Londrina na noite de segunda-feira (6), o casal não vivia mais junto e mesmo assim a mulher foi agredida. Outras tantas continuam a conviver com o agressor e com um problema a mais: no isolamento social, isola-se também a violência e afasta-se a possibilidade de ajuda da comunidade. É preciso acolher. Pensando nisso, o coletivo EIG (Evangélicas pela Igualdade de Gênero) divulga campanha que visa levar conselho e orientação aos lares das mulheres que sofrem violência doméstica.

Imagem ilustrativa da imagem Campanha quer chegar aos lares de mulheres que sofrem com a violência
| Foto: Divulgação

“Mulher, vai tudo bem contigo?”. A pergunta que inicia o diálogo é também o nome da campanha inspirada em uma passagem bíblica em que uma mulher, após sofrer a perda de um filho, é questionada se estaria tudo bem e, mesmo devastada, responde que sim. “Imediatamente a gente pensa em quantas mulheres de nossas igrejas e comunidades de fé estão em casa nesse momento, em isolamento social, convivendo com o agressor, e quando você pergunta se está tudo bem, ela vai falar que sim, quando na verdade não está tudo bem”, fala Vanessa Carvalho de Mello, teóloga e coordenadora do EIG, no Paraná.

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| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A coordenadora aponta que o Brasil é majoritariamente religioso, com mais de 64% dos brasileiros se dizendo cristãos e 22% de mulheres evangélicas. Ao equiparar com os dados sobre a violência contra a mulher, se diz assustada com o número de agressores e violência dentro do universo religioso. “E nós perguntamos se está tudo bem, elas respondem que sim, mas não está tudo bem. São mulheres cristãs, evangélicas, católicas que estão sofrendo”, afirma.

CURSO DE FORMAÇÃO DE ESCUTA

Por conta disso, a campanha oferece um curso de formação de escuta ativa e empática para multiplicadores. “São cinco módulos bem fáceis de compreensão, com linguagem popular e direcionado para aquelas mulheres que normalmente acolhem testemunhos, escutam, aconselham em suas comunidades e também é destinado aos profissionais que atuam no enfrentamento de violência de mulheres evangélicas, porque existe uma linguagem, uma narrativa muito própria dessa cultura da mulher cristã”, afirma.

A proposta é tornar a metodologia do procedimento mais acessível aos multiplicadores, utilizando a linguagem do universo cristão para uma escuta acolhedora e com propósito de trazer soluções a essas mulheres que usam esse meio para buscar ajuda. "A pessoa desabafa, conta, e a pessoa que escuta diz que vai rezar, orar, pedir a Deus e termina ali. A gente precisa dar uma resposta coerente para isso e dizer que não termina aí, há muito mais o que fazer e o isolamento não é algo que nos impede de agir e combater a violência", defende.

Mais de 400 pessoas já se inscreveram para o curso gratuito, disponibilizado por meio das ferramentas digitais em parceria entre EIG e Koinonia - Presença Ecumênica e Serviço. As inscrições vão até o dia 31 de julho e deve ser concluído até o dia 31 de agosto, ao final, o aluno recebe um certificado de conclusão. Além do curso, o movimento também disponibiliza conteúdos sobre o assunto para os homens religiosos agressores e mulheres de fé que sofrem com a violência nas redes sociais do EIG.

CONHECIMENTO NECESSÁRIO

O coletivo faz parte da REVDF (Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar de Londrina), da SMPM (Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres). “Toda ação informativa e de sensibilização leva às pessoas conhecimento necessário para que elas reconheçam as formas de violência, procurem ajuda e consigam romper o ciclo da violência. Precisamos conversar sobre este assunto, para que todos ajudem. O enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher deve ser coletivo, por toda a sociedade”, fala Liange Doy Fernandes, secretária da Pasta.

A secretária aponta que há análises indicando aumento da violência doméstica e familiar contra a mulher durante a pandemia. Com a convivência com o agressor, fica mais difícil pedir ajuda. “É importante que elas saibam que devem procurar ajuda, pois os serviços da rede de enfrentamento continuam atendendo”, aponta a secretária.

Fernandes ressalta que toda as formas de violência (física, sexual, moral, psicológica, patrimonial, entre outras) podem ser denunciadas na Delegacia da Mulher. “Caso não queira denunciar, mas precisa do atendimento psicossocial e orientação jurídica para que consiga se fortalecer e romper o ciclo da violência, ela pode procurar o CAM (Centro de Referência de Atendimento à Mulher).

SERVIÇO

As denúncias de violência podem ser feitas por meio do 190 (Polícia Militar), 153 (Patrulha Maria da Penha), 180 (CAM) e na Delegacia da Mulher e promotorias especializadas. A inscrição para o curso de escuta ativa e empática pode ser realizada através do link: bityli.com/ftkVd.