É a partir de um conceito apresentado pelo Papa Francisco em uma encíclica publicada em 2020, a Fratelli Tutti, que a Igreja Católica no Brasil vai trabalhar este ano a Campanha da Fraternidade, que começou oficialmente nesta quarta-feira (14) de Cinzas, data que também marca o início da Quaresma. O tema escolhido pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para a campanha é Fraternidade e Amizade Social, tendo como lema para iluminar as reflexões o versículo bíblico do livro de Mateus: “vós sois todos irmãos e irmãs”.

LEIA TAMBÉM: Londrina receberá peregrinação das relíquias de Santa Teresinha

A ideia é de que a cultura do encontro seja promovida e incentivada. “Hoje percebemos uma inimizade presente na sociedade. As divisões muitas vezes nos atrapalham, as polarizações, são o sinal de que não nos consideramos verdadeiramente irmãos. Amizade social é um problema para a Igreja, mas também para os nossos governos, que têm que trabalhar esta questão com justiça e paridade”, destacou o arcebispo da Arquidiocese de Londrina, dom Geremias Steinmetz, que também falou da necessidade de “construir pontes” para se chegar a paz.

O despertar para o valor da fraternidade e da paz entre as pessoas, sejam elas cristãs ou não, deverá ser trabalhado pelas próximas quatro semanas nas atividades das paróquias e comunidades. “São as homílias, tudo que é tradicional na Igreja (precisa falar sobre este tema), por exemplo, a Via Sacra, a procissão e a missa penitencial. Temos que falar sobre a campanha da fraternidade para que as pessoas possam, de fato, compreender qual é o problema que nos atinge”, pontuou.

A campanha - que foi apresentada à imprensa londrinense durante coletiva nesta quarta - é promovida anualmente pela CNBB há seis décadas, com a 60ª edição em 2024. Cada ano um tema diferente é proposto. “Já refletimos sobre a fome, a Amazônia, os encarcerados. O tema deste ano nos convida a refletir sobre nós, nossas atitudes, posturas. Mudando a nossa atitude vamos mudar com os outros. Nunca foi tão premente olhar para dentro de nós mesmos. É um chamado para mostrar que pensar diferente não nos torna inimigos”, frisou.

Temática da campanha foi apresentada à imprensa em coletiva nesta quarta-feira
Temática da campanha foi apresentada à imprensa em coletiva nesta quarta-feira | Foto: Pedro Marconi

No Domingo de Ramos, que é um fim de semana antes da Páscoa, será feita a coleta nacional, em que as fiéis poderão doar durante as missas valores que vão ser convertidos a projetos sociais que vivem a amizade social a partir das ações. A destinação dos recursos será feita por intermédio da Cáritas.

MENSAGEM DO PAPA

O Papa Francisco divulgou uma carta nesta quarta-feira em que fala sobre o convite a formar uma “verdadeira fraternidade universal que favoreça a vida em sociedade”. “Infelizmente, ainda vemos no mundo muitas sombras, sinais do fechamento em si mesmo. Por isso, lembro da necessidade de alargar os nossos círculos para chegarmos àqueles que, espontaneamente, não sentimos como parte do nosso mundo de interesses, de estender o nosso amor a todo ser vivo, vencendo fronteiras e superando as barreiras da geografia e do espaço.”

ORAÇÃO, JEJUM E CARIDADE

Além da Campanha da Fraternidade, o tempo quaresmal para os católicos é um momento para reforçar a oração, o jejum e a caridade, relembrando os 40 dias em que Jesus Cristo ficou sozinho no deserto antes da crucificação, de acordo com o que narra a Bíblia. Coordenador da Ação Evangelizadora da Arquidiocese de Londrina, padre Alexandre Alves Filho refletiu a importância de ajudar o próximo a partir da experiência de se abster do que gosta.

“Vou deixar de comer chocolate (por 40 dias), de tomar refrigerante, cerveja, só que é preciso reverter este dinheiro. Do contrário é regime e não jejum. O verdadeiro jejum é quando eu pego o dinheiro que não gastei com chocolate, refrigerante e cerveja e dou para os pobres, a ajuda na coleta nacional”, orientou.

Pastoral Carcerária promove escuta e acolhimento de mulheres presas

A Campanha da Fraternidade da Igreja Católica neste ano joga luz sobre o encontro com os setores mais pobres e vulneráveis da sociedade. Diversas pastorais cuidam deste público na Arquidiocese de Londrina, entre elas a Carcerária, que faz um trabalho de evangelização junto a pessoas privadas de liberdade e as famílias. A assistência religiosa é prevista na Lei de Execuções Penais.

A pastoral tem como fundamento a frase extraída da Bíblia e dita por Jesus, registrada no livro de Mateus, “Estive preso e vieste me visitar”. “Esta pastoral visa eliminar o julgamento, a intolerância e sim cuidar como prática de misericórdia. Nós vamos até os presídios, cuidamos das famílias, tudo isso para dizer que estamos tentando e buscando, com fé, colocar em prática o mandamento de Jesus de Nazaré. A pessoa que está cerceada da liberdade também precisa ser reinserida na sociedade”, explicou o padre André Luis de Oliveira, pároco da paróquia Cristo Redentor e assessor da Pastoral Carcerária.

Em Londrina, o grupo atende as mulheres presas na cadeia feminina, com escuta e espiritualidade. As visitas são quinzenais. “Levamos a Palavra de Deus, mas escutamos as necessidades, angústia, promovemos a esperança. Por meio de parceria desenvolvemos cursos, como culinária, trabalhos na perspectiva da justiça restaurativa, trazendo sobre o mal que fizeram e o que pode ser resgatado para o bem, que elas têm direito de recomeçar a vida”, detalhou a coordenadora da mulher presa da Pastoral Carcerária, a assistente social Cristina Coelho.

A expectativa é de que as ações comecem nos próximos meses com os detentos da Casa de Custódia. “A nossa pastoral ainda é pequena, mas no próximo mês, com a visita de dom Geremias (arcebispo da Arquidiocese de Londrina) nas paróquias do decanato sul, teremos uma proposta de inserção maior nos presídios masculinos também”, comentou o padre. “Jesus, quando estava na cruz, tinha ao lado dele dois homens considerados bandidos. Um se converteu e naquele mesmo instante Jesus falou que ele estaria ao Seu lado no Paraíso. Nós, como Igreja, acolhemos”, ressaltou Cristina.