O movimento é grande e a fé também. Todos os anos a FOLHA acompanha a festa que a Paróquia Santo Antônio de Cambé (Região Metropolitana de Londrina) prepara para o padroeiro da cidade, no dia 13 de junho, e sempre encontra histórias de muita devoção que se materializa em pães e bolos abençoados.

“Desde que conheci a história de Santo Antônio passei a ser devota. A gente se apaixona pelo que lê sobre a vida dele”, resume Terezinha Marlene Lima, que mora em Rolândia, também na região metropolitana de Londrina. Ela foi acompanhada por uma amiga e chegaram cedo à festa. “Não queríamos perder nada”.

Conhecida como uma das mais tradicionais festas dedicadas ao santo em todo o Estado, a programação é intensa. Começa às 6h com uma alvorada festiva e oração do Angelus, seguida de missas com a benção dos pães (às 8h e 12h).

Após a celebração, todos os fiéis podem levar os pães para a casa. “Santo Antônio é muito conhecido por ter ajudado os mais necessitados. As histórias contam que muitos frades sentavam à mesa para fazer as refeições e lhes faltava pão porque Santo Antônio já havia os distribuído entre os pobres”, comenta o padre Cristiano de Jesus.

Imagem ilustrativa da imagem Cambé festeja o padroeiro Santo Antônio
| Foto: Micaela Orikasa / Grupo FOLHA

Ele conta que as pessoas costumam guardá-los no meio de mantimentos como arroz e feijão para não faltar alimento em casa. Lima, que chegou cedo para a missa, fez questão de garantir a benção para toda a família levando seu próprio pão.

“Eu coloco em um vidro com trigo e açúcar. É impressionante como não estraga. Depois de um ano, eu venho e troco por um novo, mas tem que ser abençoado”, diz.

Doce pedido

Além dos pães, a festa de Santo Antônio em Cambé também é marcada por outros alimentos. A Paróquia comercializa cerca de 200 quilos de carne assada e prepara 14 mil pedaços de bolos “recheados” com a medalhinha do padroeiro.

Na imensa fila que se formou após a missa para garantir um pedaço do doce (vendido a R$ 4), estava Hugo Henrique Ribeiro Sanches, 26. Ele e a mãe Irene levaram 12 pedaços para a casa.

“A gente compra pela fé. Sei que o santo vai me trazer tudo", diz Hugo Henrique com a mãe Irene Ribeiro
“A gente compra pela fé. Sei que o santo vai me trazer tudo", diz Hugo Henrique com a mãe Irene Ribeiro | Foto: Micaela Orikasa / Grupo FOLHA

“A gente compra pela fé. Sei que o santo vai me trazer tudo. No momento estou procurando um amor, mas se não der, ele vai me ajudar a passar no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)”, comenta ao risos.

Mas se depender do desejo da mãe, o santo vai ter que “trabalhar” mesmo para arrumar um amor para ambos. “Dessa vez, vai. Quero casar meu filho e arrumar um namorado para mim”, revela animada.

E como dizem que desejo de mãe é quase uma ordem, Maria de Fátima Teixeira, 58, também aproveita a data para pedir que o santo arrume um casamento para a filha e abençoe os já casados.

Ela participa da festa desde pequena. "Durava o mês inteiro. São boas lembranças e por isso não dá para ficar de fora. Sobre o bolo, acredito que é uma proteção e também uma forma de ajudar a igreja”, afirma.

Imagem ilustrativa da imagem Cambé festeja o padroeiro Santo Antônio
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Toda a renda arrecadada com a venda dos assados e dos bolos é revertida para benfeitorias na paróquia e uma parcela é doada para a comunidade. “Neste ano vamos aplicar o dinheiro na construção do banheiro da igreja, pintar toda a estrutura e trocar a iluminação. Também recebemos um pedido de ajuda para a construção de uma igreja na cidade de Pau Brasil, que fica na Bahia”, conta o padre.

De acordo com ele, durante os treze dias que antecedem a festa a paróquia realiza missas diárias com a arrecadação de alimentos não perecíveis. Estes são doados para o Lar Santo Antônio, o abrigo Padre Manoel Coelho e os vicentinos.

“A festa não tem somente a finalidade de promover ajuda social, mas tem uma dimensão espiritual muito forte. As pessoas estão aqui também para agradecer as graças alcançadas, se confessarem”, destaca.

Protetor desde sempre

Muito antes da emancipação política de Cambé, em outubro de 1947, Santo Antônio já era o “protetor” daquela terra, que até então era chamada de Nova Dantzig. Há relatos de que ele é celebrado desde 1930 pelos primeiros habitantes.

A história popular aponta que um dos pioneiros, por ser devoto, trouxe consigo uma imagem do santo e desde então, ele se tornou o protetor dos cambeenses. Santo Antônio nasceu em Lisboa, mas evangelizou e morreu em Pádua, na Itália. É o santo mais venerado no mundo cristão e é conhecido também como recuperador de objetos perdidos.

Como parte da celebração do padroeiro, ainda hoje haverá uma missa solene às 18h, seguida de procissão. Ao final, será acesa a fogueira de Santo Antônio que dará início à quermesse.