O assunto das ruas na manhã desta quarta-feira (01) foi a quarentena com regras mais rígidas anunciadas na terça (30) pelo governador do Paraná, Ratinho Junior. A medida que entrou em vigor hoje através do Decreto Estadual 4.942/2020, terá a validade, inicialmente, de 14 dias e envolve sete regionais de Saúde: Cornélio Procópio, Cianorte, Londrina, Toledo, Cascavel, Foz do Iguaçu e Curitiba.

A FOLHA circulou logo de manhã pelo centro de Cambé e Ibiporã, na RML (região metropolitana de Londrina) e observou um movimento normal no comércio. Filas começaram a se formar em frente às agências bancárias e casas lotéricas, e muitos aproveitaram para tomar café nas padarias e lanchonetes.

No calçadão de Cambé, Terezinha Elizabete de Oliveira aguardava a abertura de uma loja para pagar um boleto. “Estou esperando, mas será que as lojas vão funcionar?. Fiquei até preocupada porque tenho que pagar esta conta”, comentou a pensionista, concordando com o novo fechamento do comércio. “Se for para o bem das pessoas tem que fechar. Muita gente não está respeitando as regras”.

Às 10 horas, as lojas abriram normalmente. O proprietário de uma loja de calçados, que pediu para não ser identificado, disse que é preciso ter mais clareza nas decisões do governo estadual e municipal. “Qual decreto está valendo? Minha intenção não é contrapor qualquer decisão, mas até agora não recebemos nenhum comunicado oficial”, afirmou.

Ele, que é comerciante há muitos anos em Cambé, também se mostrou preocupado com a manutenção dos empregos. “O governo precisa dar mais segurança aos trabalhadores. Estamos vendo os índices do desemprego aumentar e uma hora o auxílio emergencial vai acabar. E essa dívida que o governo está ‘alimentando’, quem você acha que vai pagar? Todos somos vítimas”, desabafou.

Imagem ilustrativa da imagem Cambé e Ibiporã têm movimento normal no comércio nesta quarta
| Foto: Micaela Orikasa/Grupo FOLHA

Fiscalização

Amanda Lopes, moradora de Cambé contou que perdeu o emprego há um mês, depois de quase um ano de carteira assinada por uma loja em Londrina. “Fechar o comércio é uma medida muito prejudicial. O ideal é aumentar a fiscalização para garantir que todos continuem trabalhando e cumpram as recomendações de distanciamento e higienização”, opinou.

Cambé tem hoje, 216 casos confirmados do novo coronavírus e seis mortes pela doença. Das oito pessoas internadas, cinco estão em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e três em enfermarias. Outras 68 pessoas aguardam os resultados de exames. Até o momento, 163 pessoas se recuperaram da Covid-19.

O prefeito José do Carmo Garcia garante que a fiscalização tem se intensificado nos últimos dias e defende que os municípios devem ser analisados individualmente pelo governo estadual. “Não se trata de contestar o novo decreto, que é hierárquico e impositivo, mas na minha visão o certo seria atuar nos locais onde há aglomerações. Na semana passada, editamos o decreto municipal com aplicação de multa de R$ 2,4 mil e encaminhamento ao Ministério Público para abertura de processo criminal”, ressaltou.

Para o prefeito de Cambé, José do Carmo Garcia, os municípios devem ser analisados individualmente pelo governo estadual
Para o prefeito de Cambé, José do Carmo Garcia, os municípios devem ser analisados individualmente pelo governo estadual | Foto: Micaela Orikasa/Grupo FOLHA

Segundo a assessoria da prefeitura, desde o dia 25 de junho foram aplicadas 26 autuações em estabelecimentos comerciais, sendo duas em mercados pela falta de controle de entrada de clientes e o restante em locais que operavam fora do horário permitido.

Pela manhã, uma viatura da Polícia Militar fazia uma ronda pelo centro. O prefeito disse que irá encaminhar à secretaria de estado da Saúde um documento informando a situação de Cambé. “Preciso saber se a política que estou adotando contra a Covid-19 está dentro ou não dos protocolos. Alguém tem que auditar a organização dos serviços de saúde e de fiscalização dos municípios”, reforçou.

Sobre a abertura do comércio nesta quarta (01), Carmo voltou a dizer que entrará em contato com a secretaria estadual de Saúde para apresentar os dados da cidade e lembrou que pelo novo decreto, a fiscalização ficará a cargo da secretaria de Segurança por meio da Polícia Militar.

Ibiporã

Em Ibiporã, o fluxo de veículos e pedestres nas ruas era intenso nesta quarta (01). Uma comerciante que também não quis se identificar, reclamou da confusão que os decretos têm gerado entre a população. “Essa história de fecha ou não fecha complica a vida de todo mundo. Ninguém sabe o que fazer. Até agora não recebemos nenhum comunicado oficial”, comentou.

Para ela, o comércio fechou as portas no tempo errado. "Lá no mês de março, os números estavam baixos e todos fecharam por quase um mês e agora que os números estão aumentando, justificando essa medida, ninguém tem mais fôlego”, disse.

Imagem ilustrativa da imagem Cambé e Ibiporã têm movimento normal no comércio nesta quarta
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O movimento intenso nas ruas pode ser justificado pelo pagamento da aposentadoria no primeiro dia do mês e dos salários da prefeitura. “Além disso, com a notícia de que tudo ia fechar, muita gente deve estar aproveitando para resolver algumas pendências", completou.

É o caso do aposentado Naor Dias, que estava na fila do banco. "Eu precisava vir ao banco receber por mim e pela minha mãe que tem 91 anos. Não tenho ninguém que faça isso por mim”, respondeu. A autônoma Sueli Oliveira Santos também aproveitou a manhã para pagar um boleto. “Meu medo era de fechar tudo e eu ficar em falta com esse pagamento. Essa situação é muito complicada. Sei que manter o comércio fechado vai diminuir o número de casos, mas me diz como ficam os trabalhadores?”, indagou.

A assessoria da prefeitura de Ibiporã informou que o prefeito João Coloniezi estava em reunião pela manhã com membros do Coesp (Centro de Operações em Emergências em Saúde Pública) e Procuradoria Jurídica do município para discutir o assunto. No final da manhã, o prefeito recebeu representantes da Aceibi (Associação Comercial e Empresarial de Ibiporã) e agora à tarde, conversará com a Amepar (Associação dos Municípios do Médio Paranapanema). Só depois dessa reunião é que a prefeitura se manifestará.

No boletim divulgado no dia 29 de junho, Ibiporã somava 87 casos do novo coronavírus e 01 morte. No momento, 162 pessoas são monitoradas em domicílio e 108 casos já foram descartados.