Adestramento começa quando os cães estão com 53 dias de vida: treinamentos e atividades são constantes
Adestramento começa quando os cães estão com 53 dias de vida: treinamentos e atividades são constantes | Foto: Bruno Amaral - Defesa Social

No gramado entre a rua Joaquim de Matos Barreto e o lago Igapó, eles correm atrás de bolinhas e mordem brinquedos, numa grande diversão. Mas o que pode parecer uma simples brincadeira é treinamento sério e que vem somando na rotina da segurança pública. São os cachorros que fazem parte do GOC (Grupo de Operações com Cães) da GM (Guarda Municipal) de Londrina.

A unidade operacional da corporação existe de forma oficial desde fevereiro de 2017, entretanto, o serviço com o apoio animal já vinha sendo executado cerca de um ano antes. Atualmente são nove cães, das raças pastor belga Malinois, rottweiler e doberman. Eles desempenham funções específicas, como proteção, patrulhamento e faro de pessoas, entorpecentes e armas. Alguns possuem mais de uma especialização.

Segundo o supervisor do GOC, Jesse Vander Bortoto o adestramento começa quando o animal está com 53 dias de vida. As atividades duram, pelo menos, um ano e meio, até que esteja totalmente habituado a operar os comandos. Mesmo com os cães “formados”, os treinamentos continuam e são constantes. Os cachorros nunca têm contato direto com a droga, apenas com o odor.

“Conforme cresce levamos também para treinamento nos ambientes que vão atuar, como praças e academias ao ar livre. O cão de faro é mais dócil, o de patrulha é preparado para situações hostis. A sociabilização é muito bem feita. Do segundo ao quarto mês é a fase que ele decora tudo, seja bom ou ruim”, explicou. Os guardas do canil têm formação para a área e são cinotécnicos.

CUIDADOS

O cuidado com os cachorros é rigoroso, com uma rotina de limpeza e alimentação balanceada, assim como o controle de vacinas. Diariamente, durante a manhã, o agente Mario César Oliveira Neves higieniza os boxes, promove a manutenção dos equipamentos e repõe a ração. Durante a tarde é a equipe em serviço que realiza as intervenções. “Eles são verificados de hora em hora. Após a manutenção, só saem depois de duas horas, que é o tempo da digestão. Se não respeitar este período podem ter problemas de saúde”, destacou.

Os cães pertencem aos GMs e o trabalho é em comodato, com o município responsável pela ração e gastos veterinários. Normalmente, os animais fazem parte do canil até os oito anos. Com sete já é feita uma avaliação. “Aposentado”, ele pode ficar com o condutor, ser doado para um outro membro da corporação e, em último caso, oferecido à comunidade externa, a partir de uma série de regras.

ALTO NÍVEL

Bortoto afirmou que a retirada de drogas escondidas por criminosos em prédios e espaços públicos é uma das principais demandas do grupo. As informações para verificação costumam chegar por meio de denúncias e apuração do serviço reservado. A unidade também é demandada por outros órgãos, como PRF (Polícia Rodoviária Federal), polícias Civil e Militar e Receita Federal.

“Visamos muito o bem-estar do animal. É um cão esportivo, com alto nível de treinamento. Recebe ração da melhor qualidade e suplemento, porque tem um gasto de energia maior. Para tudo existe procedimento: entrar em uma casa, prédio abandonado, presídio. O cão de faro, por exemplo, otimiza o serviço. O que demandaria 15 pessoas, consegue localizar em segundos. O de proteção consegue ‘segurar’ mais de dez pessoas numa abordagem, porque gera impacto, maior até que uma arma de fogo”, elencou.

No caso de operação, a GM leva mais de um animal. Nas buscas, um acaba confirmando o que foi indicado pelo outro. Ao achar uma porção de droga escondida, por exemplo, o cão senta em cima do local ou demonstra outro tipo de reação. Em um dos casos, o cão localizou celulares e drogas que estavam escondidos dentro de uma geladeira. O aparelho tinha como destino a Cadeia de Cambé (Região Metropolitana de Londrina). Um cachorro possui, em média, 300 milhões de células olfativas. Os humanos têm cinco milhões.

Somente neste ano foram apreendidos, com o auxílio dos cães, 68 quilos de maconha, sete de cocaína e quatro de crack, além de 300 celulares oriundos do descaminho.

O cão de faro é mais dócil, o de patrulha é preparado para situações hostis
O cão de faro é mais dócil, o de patrulha é preparado para situações hostis | Foto: Bruno Amaral/Defesa Social

SOCIAL

Com toda a imponência que representam no campo da segurança, os cachorros ainda colaboram em ações sociais. Antes da pandemia de coronavírus, alunos de escolas iam até a Guarda Municipal conhecerem o canil, demonstrações eram feitas em palestras e até idosos recebiam as visitas dos animais, com o estímulo por meio da sinoterapia. Além disso, já foram promovidas campanhas de arrecadação de fraldas, roupas e eventos temáticos.

PRIVILÉGIO

Tutor da Hera, uma Malinois, o agente Sérgio Akira Nazima classificou o trabalho como um privilégio. “É diferenciado, temos o contato com o animal, criamos amor. Não nos preocupamos apenas com o trabalho, mas também com os cachorros”, relatou. “É como se estivéssemos trazendo alguém da nossa casa para trabalhar com a gente”, complementou Everton Merencio Machado.