O major Murilo Sinque de Paula, do 3º Comando Regional de Bombeiro Militar do Paraná, é autor do recém-escrito “Manual de Atendimento a Emergência a Pessoas no Espectro Autista”. A obra é uma combinação dos conhecimentos adquiridos como profissional de resgate e em pesquisas acadêmicas, mas principalmente de sua experiência pessoal. Ele é autista e tem um filho também neurodivergente.

“O livro é enriquecido pelas minhas experiências pessoais e acadêmicas, e traz um conteúdo que combina teoria e prática, oferecendo estratégias de comunicação e abordagens adaptadas às necessidades das pessoas autistas em momentos de crise”, comentou o oficial.

O objetivo da publicação é ser um guia prático e teórico para profissionais de segurança pública, educadores, familiares e demais interessados no tema. “Ele visa garantir um atendimento técnico humanizado às pessoas autistas em situação de emergência”, reforçou o autor.

PARA EVITAR EQUÍVOCOS

“A ideia é mostrar, pelos olhos da pessoa autista, o que as autoridades de segurança pública podem fazer para evitar equívocos no atendimento. Mostrar que reação essa pessoa autista pode ter e como mitigar a situação para que ela não escale a ponto de virar uma crise ainda maior”, explicou o major Sinque, que se descobriu autista depois de pesquisar o tema para compreender melhor a situação do filho, este diagnosticado quando tinha um ano e oito meses. Hoje, o Mateo tem quatro anos e meio.

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Previsto para ter sua versão física lançada em maio, o manual, escrito em texto didático e de fácil entendimento, atualmente está disponível de modo virtual. A obra está em vias de se tornar um curso de ensino a distância com videoaulas, com duração aproximada de seis horas no total. Este curso, que está em fase final de desenvolvimento, visa capacitar profissionais de segurança pública em todo o País. O objetivo é proporcionar um atendimento mais inclusivo e seguro aos cidadãos.

O manual será disponibilizado virtualmente para todos os bombeiros que se interessarem e também terá versões físicas distribuídas para utilização nas unidades da instituição.

INICIATIVA IMPORTANTE

Um dos pioneiros na discussão do tema dentro do CBMPR, o tenente-coronel Jonas Emmanuel Benghi Pinto, pai de uma jovem de 17 anos no espectro autista, destacou a importância dessa iniciativa. “É uma grande evolução. Coloca o Paraná e o Corpo de Bombeiros Militar do Paraná à frente no cenário nacional. Não só no atendimento às pessoas autistas. Estamos tratando aqui do autismo, mas não esquecemos quem tem deficiências como a auditiva, visual ou intelectual, por exemplo”, comentou.

Ele destacou ainda que esse processo de atendimento humanizado e inclusivo ganhou novo impulso institucionalmente em 2022, com uma instrução normativa técnica sobre o tema – definindo procedimentos de conduta em ocorrências envolvendo autistas –, seguida pela revisão de uma portaria que possibilita a redução da carga horária para quem tem filhos com TEA (transtorno do espectro autista). “Hoje estamos em um trabalho forte de conscientização, preparação e proteção, tanto do público externo, como do público interno, quando a gente fala em PCDs”, acrescentou.

FALAR COM CALMA

A 3º sargento Juliana Franceschi Forbeci viveu recentemente uma experiência envolvendo um homem neurodivergente. Um autista em crise se feriu após ser contido enquanto ameaçava uma mulher. Coube à bombeira o atendimento inicial, transcorrido com sucesso.

“A partir do momento que eu vi o crachazinho, percebemos que não era um caso rotineiro, que já era uma ocorrência especial”, explicou ela, que adotou o comportamento indicado para lidar com a vítima autista: falar com calma e explicar passo a passo o atendimento, evitando ao máximo o contato.

O manual foi apresentado aos bombeiros pelo autor da obra na quarta-feira (24), no quartel do Comando-Geral, em Curitiba, em alusão ao Abril Azul - mês da conscientização sobre o autismo.

(Com informações da Agência Estadual de Notícias)