Bela Vista do Paraíso - Desde que a prefeitura de Bela Vista do Paraíso (Região Metropolitana de Londrina) lançou um canal de denúncias à disposição da população, os relatos de descumprimentos das normas de prevenção ao novo coronavírus dispararam e o serviço do fiscal de posturas do município não parou. “Não tem respeito, toda noite são duas, três festas em residência ou chácara. A população está achando que é brincadeira, mas o bom é que muita gente está denunciando”, comenta Luciano Catelli. Ele atua como fiscal de posturas no período noturno, das 17h30 às 7h, e afirma que por noite recebe cerca de 30 denúncias. O município de 15 mil habitantes registra duas mortes por Covid-19, mostrando que a doença avança por todas as cidades do Paraná.

Imagem ilustrativa da imagem Bela Vista do Paraíso registra 30 denúncias diárias sobre coronavírus
| Foto: Micaela Orikasa - Grupo FOLHA

“Praticamente todas as denúncias se confirmam e a maioria é festa. Conversamos com o responsável e em algumas situações, se necessário, acionamos a Polícia Militar”, diz. De acordo com Catelli, o Disque Denúncia 24 horas foi divulgado há menos de uma semana nas redes sociais da prefeitura.

Entre as denúncias que a prefeitura vem recebendo, uma delas trata da circulação de um homem confirmado com a doença, mas não tem respeitado a regra de isolamento domiciliar. Nesse caso, Catelli diz que ele é encaminhado para a delegacia para assinar um termo circunstanciado e recebe uma multa no valor de R$ 297.

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COMÉRCIO

Com o comércio funcionando de segunda a sexta, das 8h às 16h, conforme o decreto municipal n° 080/2020, o movimento nas ruas tem se intensificado. Para a Gisele Salomão, coordenadora da Atenção Primária em Bela Vista do Paraíso, esse é o grande perigo.

“A nossa percepção, tanto da administração municipal quanto do departamento de saúde, é que as pessoas ainda não têm a real noção do que está acontecendo. Isso vem acontecendo em todas as cidades, mas aqui, como os nossos números começaram a crescer de semana passada para agora, a gente achou que as medidas iam ser cumpridas com mais força”, comenta.

A funcionária pública Paula Valoni, que atualmente integra a equipe de fiscalizadores nas ruas da cidade junto com a Vigilância Sanitária, comenta que nas últimas semanas, percebeu um "relaxamento" da população em relação às regras de prevenção.

“Muita gente não respeita o distanciamento e essa tem sido, basicamente, nossa função. Alertamos sobre a distância segura na frente de bancos e lotéricas e verificamos se o comércio em geral está fornecendo álcool gel, limitando o número de clientes e cobrando o uso de máscaras. Mas só pelo movimento de carros na avenida e de pessoas circulando, dá para imaginar que nem todo mundo está levando a doença a sério”, afirma.

'Doa a quem doer'

A FOLHA conversou com moradores e comerciantes da cidade e muitos relatos foram favoráveis a medidas mais duras para evitar um cenário ainda pior. “O meu movimento não caiu. Acho que é importante tomar medidas mais rígidas. Na minha opinião tem que fechar o comércio, doa a quem doer, pois o perigo está em todo lugar. Meus pais são de idade, meu irmão tem doença crônica, outro é especial e meu filho mora em São Paulo e não pode sair de lá. Não tem um dia que eu não acordo sem pensar na saúde de todos, de toda minha família”, desabafa Márcia Bodas Terassi, proprietária de um sacolão e mercearia.

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A vendedora Tuany Bertanha da Silva também concorda com o fechamento do comércio. “A gente vê muita gente sem máscara e saindo de casa sem necessidade. Acho que as pessoas só vão entender o que realmente está acontecendo e passar a ter medo se forem atingidas ou então, alguém muito próximo. Não adianta nada a gente se cuidar se o outro não está nem aí”, lamenta.

Já para Donizete Raimundo Araújo, que faz serviços gerais na Igreja São João Batista, a percepção de que a população está se resguardando é pelo movimento dentro e fora da igreja. “Antes da pandemia a praça ficava cheia, mas agora é só eu mesmo”, brinca, mas muda de tom rapidamente. “Não podemos parar de cuidar porque esse vírus dá medo. Ouvi falar que tem alguns doentes aqui na cidade, mas acho que a maioria está cumprindo certinho”, diz.

DUAS MORTES

O primeiro caso do novo coronavírus registrado em Bela Vista do Paraíso foi no dia 24 de maio. Desde então, os números vêm crescendo a cada boletim entre os 15 mil habitantes. No levantamento oficial divulgado na segunda-feira (15), são 18 confirmações da doença, quatro em investigação e 16 pessoas estão sendo monitoradas em domicílio. Dos casos positivos houve um acréscimo de oito pacientes em apenas cinco dias.

A doença também já provocou a morte de duas pessoas. A primeira foi registrada no dia 3 de junho e cinco dias depois, um homem de 91 anos, com comorbidades, chegou a ser encaminhado para o HU (Hospital Universitário) em Londrina, mas não resistiu e morreu na segunda-feira (8).

Os atendimentos para pacientes com suspeita da Covid-19 são concentrados na unidade de referência implantada no Hospital São Jorge e, segundo a secretaria de Saúde, a demanda aumentou mais de 50% nos últimos dias.

SERVIÇO - Denúncias sobre descumprimentos das normas de prevenção podem ser feitas para a Vigilância Sanitária, através dos telefones: 3242-3740 (das 7h às 11h e das 13h às 17h), e para o fiscal de postura por meio do 99807-6033 (Whatsapp 24h).