Se para muitos o barulho da explosão dos fogos de artifício é sinônimo de festa e comemoração, para outros é de sofrimento. No caso das pessoas com transtorno do espectro autista, o estrondo dos rojões pode gerar até crises. Mãe de Matheus Henrique, 5, que é autista, a artista plástica, empresária e professora Regina Céli diz que para quem tem o transtorno em um nível mais severo, até uma gota de água que cai da torneira num balde faz mal, já que o som é amplificado.

"O barulho pode causar dores emocionais e mentais. É como aquele zumbido que escutamos após ficar próximo a uma caixa de som em volume alto, só que muito mais amplificado", exemplifica. "O rojão os assusta, dá pânico e pode causar uma crise terrível a ponto deles se machucarem. Para as pessoas em geral é normal, mas para quem sofre de algum distúrbio este tipo de barulho é um prejuízo enorme. Pode até colocar um tratamento a perder", acrescenta.

Para Céli, a legislação recém-publicada que rende multa para quem solta fogos de artifícios sonoros é positiva. "Tem que se pensar não somente na criança ou no animal, mas também no recém-nascido, idoso de repouso, pessoas com problemas cardíacos. Demorou para termos uma lei assim", acredita ela, que mantém uma página nas redes sociais para tratar do tema autismo e leva palestras de conscientização sobre este público.

CÃES
No reino animal quem mais sofre é o cachorro. O médico veterinário Wilmar Marçal destaca que o rojão para o cão é algo imprevisível. Além disso, a audição dele é muito mais sensível se comparada com a do ser humano. "O cão tem capacidade de captar a chuva e o próprio relâmpago, pois o instinto dele é de acordo com a natureza. Mas no caso do rojão o instinto não alcança, porque é algo do homem. O efeito sonoro para o cachorro é sete vezes maior do que para o humano. Isso para ele é pânico e medo. É ensurdecedor."

O professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina) elenca que o barulho gerado pelos fogos de artifícios podem acarretar diversas reações nos cães. "Alguns acabam fugindo, pulam cercas, são atropelados, se machucam. O índice de animais acidentados no Hospital Veterinário da UEL no final do ano é muito grande", relatou. Algumas medidas podem aliviar a consequência para o animal. "Pode-se colocar algodão no pavilhão auditivo, deixar o animal em ambiente fechado com música calma, medicação fitoterápica. São medidas paliativas", apontou.

Outras espécies sensíveis aos estrondos são os pássaros e bichos aquáticos. "O grande desafio é o respeito aos animais. É uma lei muito apropriada e atual. É muito mais fácil uma legislação que acabe com rojões sonoros do que ficar tampando os ouvidos de vários animais", opina Marçal. (P.M.)