“Pessoal, cidades em que os prefeitos não estão respeitando o decreto do governo estadual, deixando tudo funcionar normalmente, não poderão buscar atendimento médico em Maringá para tratar pacientes com o vírus”. Foi com esse recado, publicado nas redes sociais no domingo (28), que o prefeito de Maringá, Ulisses Maia, avisou sobre a organização de barreiras impedindo a entrada de ambulâncias de cidades da região que não teriam aderido ao decreto estadual. Entre respostas de apoio e críticas da população, o aviso levanta o debate sobre a negação de atendimento a pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).

Imagem ilustrativa da imagem Barreiras em Maringá colocam em debate a negação de atendimento a pacientes
| Foto: Gustavo Carneiro/22/01/2021

No aviso, as barreiras seriam para impedir o acesso de ambulâncias de três cidades especificamente: Cianorte, Mandaguari e São Carlos do Ivaí, com possibilidade de ampliação a outros municípios que não cumprissem o decreto estadual. Na noite de domingo, a prefeitura voltou a se manifestar, apontando que as cidades retornaram na decisão e que, por isso, Maringá iria instalar as barreiras, mas com ação educativa.

Em texto divulgado pela assessoria de comunicação, o prefeito chegou a dizer que: “Maringá não pode pagar a conta de outros municípios” e que “se o prefeito quer estar com sua cidade livre e com tudo funcionando, ele que arque com a responsabilidade de leitos”.

Na manhã desta segunda-feira (1º), o Paraná somou 3.650 pessoas internadas em leitos Covid, sendo que 616 estão aguardando transferência, segundo dados da Regulação de Leitos Estadual. A informação foi divulgada pela Sesa (Secretaria de Estado da Saúde). De acordo com a secretaria, estes são os maiores números desde o início da pandemia.

A taxa de ocupação de leitos no Paraná é de 92% das UTI’s e 72% de enfermarias. A situação mais crítica é na macrorregião Oeste, com 97% de ocupação de leitos de UTI, seguida pela macro Norte, com 94%, macro Leste, com 92% e Noroeste, com 82%.

Ederlei Alkamim, diretor da 15ª Regional de Saúde, explicou que o fluxo dos leitos não é coordenado pelo município. “A nossa posição é de que os leitos SUS são de uso macrorregional, são de uso do Estado, no que se refere à ocupação de leitos hospitalares. No que se refere a atendimentos fora da regulação do Estado, o município vai responder sobre essa questão”, afirma.

Portanto, o diretor explica que o fluxo deve continuar normal, sem intercorrência em relação ao não acesso desses pacientes aos leitos de enfermaria e de UTI. “Nossa regulação é macrorregional e isso permanece dentro do fluxo do estado, o município não se sobrepõe a esta questão. As outras situações sanitárias que o município colocou, cabe ao município responder se vai fazer alguma interdição de acesso a outros serviços de regulação do município”, afirma Alkamim.

A macronoroeste, que engloba cinco Regionais de Saúde (da 11ª a 15ª), possui 163 leitos de UTI SUS Covid-19 para adultos. Desses, 105 estão na 15ª Regional de Saúde de Maringá, sendo 10 em Colorado, 30 em Sarandi e 65 em Maringá. Dos seis hospitais que disponibilizam esses leitos, somente dois não estavam esgotados na manhã de segunda-feira.

Com isso, equipes da Vigilância Sanitária, Guarda Municipal e Secretaria de Mobilidade Urbana de Maringá fizeram barreiras sanitárias em cinco pontos de entrada na cidade. Segundo a prefeitura, as barreiras têm teor educativo para reforçar a importância de os municípios da região aderirem às medidas de prevenção contra a Covid-19.

EM LONDRINA

Durante a transmissão ao vivo pelas redes sociais que faz semanalmente, o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati, comentou neste domingo a decisão do prefeito de Maringá e disse que o município não negará atendimento a nenhum paciente.

Belinati pediu, porém, a compreensão da população e gestores das cidades vizinhas sobre a necessidade de toda a região tomar medidas conjuntas de combate à Covid-19. “Tivemos uma reunião muito produtiva com todos os prefeitos da região para que nós tomássemos medidas conjuntas porque essa é uma questão regional. Hoje, no HU (Hospital Universitário), metade dos pacientes é de Londrina e metade, da região. Não adianta nada tomarmos uma medida para Londrina e a região tomar outra.”

Os leitos de enfermaria exclusivos para Covid estão 100% ocupados no município, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde desta segunda. O índice de ocupação na UTI adulto chega a 94% e na pediátrica a 7%.

PONTA GROSSA

O secretário de saúde de Ponta Grossa, Rodrigo Manjabosco, afirmou que a cidade possui uma média de ocupação nas UTIs de 92 a 94%. A região aderiu ao decreto estadual e disse que vai adotar novas estratégias para desafogar o sistema de saúde. “A gente mudou o atendimento da Covid-19, a gente tinha a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) como referência, eu deixei na retaguarda para atendimento moderado e grave e transferimos pacientes leves para três unidades de saúde, com ampliação de horário para até 21 horas”, explica.

O secretário afirma que o município esteve em reunião com os prefeitos da região e também com comitê de urgência e emergência para discutir a situação. Até a segunda-feira, Manjabosco não soube dizer de cidades da região que não teriam aderido ao decreto.

Em conjunto, os prefeitos fazem pressão para que sejam incluídos mais 10 leitos em Castro e a prefeitura de Ponta Grossa estuda possibilidade de hospitais filantrópicos ampliarem a capacidade. “Nesse momento há dificuldade, porque não temos equipe. Não é equipamento e espaço físico, mas falta de profissionais de saúde o nosso maior problema”, afirma. Ele pede para que a população respeite o decreto para que haja retorno o mais rápido possível das atividades.

ATIVAÇÃO DE LEITOS

Desde o dia 22 de fevereiro até a manhã desta segunda-feira, 484 leitos foram ativados pelo governo estadual, segundo informou a Sesa. Destes, 189 são de UTI e 295 de enfermaria. Segundo a secretaria, essas ativações fazem parte da ampliação emergencial de leitos em todo o Paraná devido ao aumento da demanda por atendimento hospitalar de casos confirmados e/ou suspeitos do vírus SARS-CoV-2. Em Londrina, foram ativados 20 leitos de enfermaria no Hospital Zona Norte e 30 no Hospital da Zona Sul na semana passada. O Estado prevê ainda a ampliação de mais 54 UTIs e 43 enfermarias nos próximos dias.

A média diária de casos de Covid-19 nos últimos sete dias chegou a 3.724 no Estado - um crescimento de 48,5% em relação ao índice de 14 dias atrás. Nesta segunda, foram confirmados 3.196 novos casos da doença no Paraná, além de 17 óbitos. Agora, os números estaduais chegam a 645.621 confirmações e 11.598 mortos em decorrência da doença.

Em Londrina, o número de confirmados saltou para 37.876, com 203 novos casos nas últimas 24 horas. A média de casos nos últimos sete dias chega a 300,4, e já passa de 700 o número de óbitos em decorrência da doença, com mais quatro óbitos reportados pela Secretaria Municipal de Saúde no município.(Com Simoni Saris)