Espaço da zona leste foi cedido ao museu histórico e abriga, entre outros itens, uma máquina padronizadora de café
Espaço da zona leste foi cedido ao museu histórico e abriga, entre outros itens, uma máquina padronizadora de café | Foto: Vítor Ogawa

O IBC (Instituto Brasileiro do Café) foi criado em dezembro de 1952 para executar toda a política econômica do café. No entanto, o órgão foi extinto em 1990, depois que o preço do produto teve uma queda vertiginosa em função da superprodução e do rebaixamento da qualidade, ao mesmo tempo em que surgiam outras culturas mais lucrativas, como a soja. Some-se a isso a geada negra, que atingiu a região Sul no dia 20 de julho de 1975 e fez o café praticamente desaparecer no Paraná. Com isso, os diversos imóveis que pertenciam ao órgão acabaram perdendo a sua função original, que era estocar as sacas de café. Quase duas décadas depois, ainda existem muitos barracões vazios, que aos poucos ganham novos usos nas diversas cidades em que foram implantados. Recentemente, o assunto voltou à tona por causa de incêndios que destruíram imóveis localizados em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina) e Paranavaí (Noroeste).

O superintendente substituto da SPU/PR (Superintendência do Patrimônio da União no Paraná), Luciano Sabatke Diz, declarou que na época em que o IBC foi extinto havia 61 imóveis, dos quais 53 barracões espalhados por diversos municípios. “Muitos deles foram vendidos, outros alugados e vários deles foram repassados para outros órgãos.”


Os galpões foram construídos com recursos do confisco cambial do café, em que o governo realizava a compra de cambiais de exportação do café abaixo da cotação do mercado livre. A agência do IBC em Londrina, por exemplo, foi criada no início da década de 1960. A riqueza era tamanha que o Palácio do Café em Londrina foi inaugurado em 1969 com detalhes em mármore e pedras importadas. Hoje abriga a Justiça Federal.

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Além desse imóvel, quatro barracões do antigo IBC existem em Londrina. Em um deles, na zona leste, está o arquivo do Tribunal Regional do Trabalho. Outro barracão nas imediações foi cedido para o Hospital Universitário em 2008. O plano inicial era utilizá-lo para a implantação de um centro de saúde, mas o projeto não evoluiu e o HU tem utilizado o espaço para armazenar materiais inservíveis. E parte da área edificada está cedida ao Museu Histórico Padre Carlos Weiss. No espaço estão a exposição Memorial do Café, periódicos antigos e alguns outros objetos que não são possíveis de serem armazenados no museu, localizado na rua Benjamin Constant (antiga estação ferroviária).



Memorial do Café
“Os galpões tiveram importância no aspecto econômico. A produção era muito grande para a exportação, mas se colocassem toda aquela produção no mercado, o preço do café cairia bastante. Esses galpões foram utilizados para o armazenamento da produção excessiva”, explica a diretora acadêmica do Museu Histórico, Edméia Aparecida Ribeiro. “Hoje é patrimônio, é memória, é a história do município. São espaços que poderiam ser revitalizados para continuar servindo a comunidade.”


Um dos objetos que está nesse espaço é a máquina padronizadora de cafés Federighi, produzida em 1961. “É feita em madeira e vidros; é grande, moderna, muito bem produzida e muito bem acabada. Conseguia dar conta de uma quantidade grande de café. Ela representa a potência e a riqueza do café no Norte do Paraná de forma geral”, destaca a diretora.

Imagem ilustrativa da imagem Barracões do IBC - símbolos do auge do café
| Foto: Vítor Ogawa

Três anos de trabalho
No local também está uma exposição que pode ser visitada mediante agendamento prévio. Trata-se do embrião do futuro Memorial do Café. “Temos equipamentos, móveis, fotos do Armínio Kaiser que reproduzem o processo de produção; as pessoas que trabalhavam no sítio de café; a colheita de café; o processo de rastelamento para secar uniformemente; a quantidade de pessoas que trabalhavam; a pobreza também está representada; a imagem do café sendo abanado. Nem todas as pessoas que vieram para cá conseguiram enriquecer”, detalha.

Imagem ilustrativa da imagem Barracões do IBC - símbolos do auge do café
| Foto: Vítor Ogawa

O servidor Amauri Ramos da Silva trabalha há 33 anos no museu e explica que o cenário foi montado utilizando objetos resgatados do próprio acervo do IBC. Foi um trabalho de aproximadamente três anos. “Fizemos a coleta dos objetos no próprio galpão: telefone, máquina de escrever, máquina de beneficiamento, máquina de classificação e parte da biblioteca que estava no setor administrativo. A dificuldade é que estava misturado com material reciclável, com ferro e madeira”, observa.


Município planeja centro
logístico na zona oeste

Termo de cessão do espaço da zona oeste  para a prefeitura está em processo de análise
Termo de cessão do espaço da zona oeste para a prefeitura está em processo de análise | Foto: Vítor Ogawa

Um dos barracões localizados na zona oeste de Londrina está com o termo de cessão em processo de análise. Eles funcionaram por muito tempo como depósito de materiais inservíveis e também como local de transbordo de lixo de grande porte. Agora a maior parte do material foi leiloada, doada ou descartada. “Nosso plano é transformar o espaço em um centro logístico”, explica o secretário municipal de Gestão Pública, Fábio Cavazotti.


O centro logístico – que seria implantado em uma parte da área – serviria para centralizar o armazenamento das compras do município, como artigos de limpeza, material de expediente e câmara fria para guardar produtos adquiridos pela secretaria de Saúde. “Atualmente as compras são entregues nas secretarias, mas a estocagem é baixa.” O secretário ressalta que o centro logístico poderia garantir um estoque de segurança para suprir a população nessas eventualidades, além de gerar mais qualidade no recebimento do bem.


Cavazotti visitou o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de Curitiba e o centro logístico de Maringá (Noroeste), ambos instalados em antigas estruturas do IBC, e classificou os projetos como bons. “A divisão é simples, feita por alambrados. Não posso precisar quanto de investimento seria necessário e não temos como fazer licitação para aquele espaço sem a cessão do imóvel pela DPU/PR. Estamos aguardando a visita do representante, mas há um indicativo de que a cessão será tranquila”, argumenta Cavazotti, informando que o pedido de cessão é por 20 anos e renovável por mais 20.


O segundo barracão está cedido para a Polícia Rodoviária Federal.