Autor do projeto é contra grades na praça
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quinta-feira, 06 de janeiro de 2000
Emerson Cervi
De Curitiba
Um dos quatro arquitetos que projetaram o Centro Cívico de Curitiba na década de 50, Sérgio Roberto Santos Rodrigues, 72 anos, se surpreendeu ontem com a informação de que a praça Nossa Senhora de Salete está sendo cercada. Isso é lamentável, uma zona cercada descaracteriza todo o centro arquitetônico projetado para aquela área, disse. Sérgio Rodrigues tem um escritório de arquitetura no Rio de Janeiro e até ontem não tinha sido informado sobre as obras de revitalização da praça. Ninguém me consultou e como sou o único dos quatro arquitetos que ainda está vivo, só eu poderia autorizar modificações no acerto técnico da praça, afirmou.
A assessoria de comunicação da prefeitura informou ontem que será convocada para a próxima semana uma entrevista coletiva para explicar como ficará o local depois das obras. Segundo o arquiteto do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Reginaldo Reinert, a colocação do gradil vai aumentar a segurança no local. Segundo ele, haverá vários portões que permanecerão abertos durante o dia e parte da noite. Todos terão liberdade para transitar no local, a diferença é que com o aumento da segurança certamente a praça estará mais protegida contra atos de vandalismo, diz Reinert. Além disso, as ruas continuarão recebendo os desfiles cívicos durante o ano.
O Centro Cívico foi projetado por quatro arquitetos a partir de 1951, para as comemorações do centenário de emancipação política do Estado, em dezembro de 1953. Além de Sérgio Rodrigues, foram contratados pelo então governador Bento Munhoz da Rocha Neto o arquiteto paranaense David Xavier Azambuja e os cariocas Olavo Redig de Campos e Flávio Régis do Nascimento, já falecidos. Tenho consideração especial por Curitiba pela oportunidade que o governador Bento Munhoz nos deu, mas modificar a praça sem um estudo mais profundo é quase um crime, afirmou Sérgio Rodrigues.
Ele lembrou que em 1952 o projeto da praça aberta entre os três poderes do Paraná foi citado em um congresso internacional de arquitetura na França. Essa é considerada uma das boas obras da arquitetura brasileira daquele período e precedeu a praça dos Três Poderes de Brasília, projetada quase uma década depois, citou o arquiteto.
A justificativa de que a praça precisa ser cercada para aumentar a segurança no local e evitar excessos nas manifestações populares não convence Sérgio Rodrigues. A proposta de colocação da grade surgiu depois que os sem-terra foram despejados da praça, após seis meses de acampamento. O povo precisa de um espaço para manifestações, os abusos devem ser combatidos por um governo forte e não destruindo um patrimônio arquitetônico, concluiu.
O detalhamento técnico do projeto de revitalização da praça ainda está em fase de elaboração. A proposta prevê uma remodelação de toda a área verde, além da instalação de 18 quadras de várias modalidades esportivas, de uma pista de cooper, sistema de iluminação diferenciada e centro de apoio ao esporte que servirá de instalações para a polícia militar e guarda municipal, explicou o arquiteto do Ippuc.Arquiteto autor do projeto original do Centro Cívico disse que é lamentável a cerca na Praça Nossa Senhora de Salete
ReproduçãoPROJETOO governador Bento Munhoz da Rocha Neto mostra ao presidente Getúlio Vargas a maquete do Centro Cívico, que foi inaugurada em 1953 em comemoração ao centenário da emancipação política do Paraná