Dados coletados pelo CIATox (Centro de Informações e Assistência Toxicológicas), do HU/UEL (Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina) mostram que Londrina é o município com mais solicitações de atendimento de acidentes com escorpiões em 2023.

Entre 1º de janeiro e 9 de outubro deste ano, o Centro registrou 649 solicitações de atendimento em todo o Paraná. Desse total, 167 são de Londrina. Cianorte (56 solicitações), Foz do Iguaçu (51), Cornélio Procópio (32), Primeiro de Maio (23) e Arapongas (18) aparecem na sequência.

Entre 1º de janeiro e 30 de setembro de 2022, o número de solicitações registradas pelo CIATox no Paraná era de 544, o que mostra que, neste ano, os casos aumentaram 19,3%.

Camilo Molino Guidoni, coordenador do Centro e professor da UEL, salienta que o serviço prestado pelo CIATox é consultivo e, por isso, há subnotificação dos casos. "O objetivo do CIATox é prestar uma assessoria, ou seja, dar instruções em casos de intoxicação, exposição a agentes tóxicos e acidentes com animais peçonhentos, que é o caso dos escorpiões. Nosso serviço atende profissionais de saúde, professores, estudantes e a população em geral, mas nem todos os casos que acontecem no Estado chegam até nós", detalha.

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INFESTAÇÃO NO PARANÁ

De acordo com Guidoni, o Paraná passa por uma infestação de escorpiões. "Apesar de os acidentes com escorpiões aumentarem com a chegada da primavera e do verão devido às temperaturas mais altas e às chuvas, recebemos contatos durante todo o ano", explica.

Algumas espécies de escorpiões, como o escorpião amarelo (Tityus serrulatus), apresentam excelente adaptação ao ambiente urbano e, por isso, oferece maiores riscos à população. Outras espécies do gênero Tityus também podem ser consideradas perigosas, como o escorpião marrom (Tityus bahiensis) e o escorpião-do-nordeste (Tityus stigmurus).

"O escorpião amarelo é natural do Cerrado brasileiro, mas chegou a praticamente todos os estados por conta do comércio e das entregas. A fêmea dessa espécie, além de se adaptar facilmente a diferentes ambientes, consegue se reproduzir sozinha, então a colonização de um novo local é simples", aponta a bióloga Marta Luciane Fischer, que atua como professora na PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Fischer explica que diferenciar as espécies de escorpião não é uma tarefa simples e, por isso, é fundamental que, ao ser picado pelo aracnídeo, o paciente capture o animal, registre uma imagem ou faça uma descrição detalhada ao serviço de saúde.

"Saber qual espécie de escorpião foi responsável pela picada é importante para nortear o atendimento que vai ser oferecido. A picada de um escorpião, mesmo que ele não tenha veneno, é sempre muito dolorosa, então a pessoa vai saber na hora que foi picada. Com isso, há grandes chances de o animal ser visto", conta.

O QUE FAZER APÓS SER PICADO?

A orientação da bióloga é reforçada pelo coordenador do CIATox, que aponta que, após uma picada de escorpião, o indivíduo deve buscar uma instituição de saúde imediatamente. "A maioria dos casos é leve e tem sintomas como dor e formigamento local, mas o paciente precisa passar por uma avaliação médica para diminuir os riscos de evolução do quadro."

Dessa forma, após ser picado, o paciente deve, além de manter a calma, lavar o local com água e sabão e colocar gelo. "Quando se coloca o gelo, é possível retardar a absorção do veneno, o que oferece menos riscos até que o paciente busque o serviço de saúde", explica a bióloga Fischer.

Segundo Guidoni, casos de picada de escorpião com quadros moderados ou graves são raros, já que nem todas as espécies oferecem risco para os humanos. "Existem escorpiões de importância médica e escorpiões sem importância médica e é por isso que a identificação deve acontecer. Porém, se o paciente não conseguir capturar, mostrar uma foto ou descrever o animal, o atendimento acontece da mesma forma", diz.

PREVENÇÃO DE ACIDENTES

Os acidentes com picadas de escorpiões podem ser evitados por meio de medidas simples. "Existem diversas formas de prevenir o aparecimento de escorpiões nas residências, que são os locais que mais registram casos de picadas. É importante, por exemplo, manter o quintal sempre limpo, evitar deixar entulhos, rebocar os muros, usar soleira nas portas e deixar os ralos do interior das casas tampados", orienta o coordenador do CIATox.

A ocorrência dos acidentes envolvendo escorpiões, contudo, expõem problemas entre a sociedade urbana e a fauna, conforme aponta Fischer. "As pessoas precisam entender que tudo é uma cadeia. Os escorpiões, por exemplo, são excelentes controladores de pragas, como mosquitos e baratas, e são importantes para o equilíbrio ambiental. O animal, nesse caso, é um termômetro, um sinal de que alguma coisa está errada. O desequilíbrio em uma população animal indica que algo precisa ser feito para que o convívio entre os seres seja funcional."

A reportagem procurou a Vigilância Ambiental do município, mas não houve retorno.

SERVIÇO - O CIATox/PR atende pelo 08000 410 148 e o CIATox Londrina pelo número (43) 3371-2244. O serviço funciona 24 horas, todos os dias do ano.