A presença de crianças nos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no HU-UEL (Hospital Universitário de Londrina) é acompanhada diariamente pelas equipes coordenadas pelo médico Arnildo Linch Junior. Diante do agravamento da pandemia, ele fala sobre a preocupação de um possível aumento de casos mais graves que possam comprometer a demanda no setor. O hospital atende o SUS (Sistema Único de Saúde) com 14 leitos Covid-19 para crianças até 14 anos e 11 meses. Até a sexta-feira (5), a taxa de ocupação que vinha se mantendo em 7% saltou para 21% na segunda (8), percentual que se mantinha até esta manhã de quinta (11).

“Podemos dizer que 40% dessa ocupação são voltados para criança com doença respiratória, que são aquelas que ocupam os nossos isolamentos aéreos. Entre elas estão as com suspeita ou confirmação de Covid-19. A outra parte é formada por crianças de pós-operatório de cirurgias de grande porte, vítimas de causas externas, como grandes queimadas ou outras doenças infecciosas não respiratórias”, detalha Linch Junior, chefe da UTI pediátrica.

No boletim divulgado pela secretaria municipal de Saúde, o número de ocupação de leitos pediátricos tem oscilado entre 62% e 70% no último mês. Ao todo, Londrina possui 71 leitos de UTI (SUS e privado) pediátrico; destes, 44 estavam ocupados (62%) até a tarde de quarta (10).

Sobre a evolução desses pacientes para quadros mais graves, o pediatra explica que uma parcela significativa de crianças (em torno de 50%), evolui com doença respiratória mais grave. “Isso significa que elas terão necessidade de intubação orotraqueal e de ventilação mecânica. Mais ou menos metade da nossa população que interna com esse diagnóstico vai precisar de respirador durante o período de internação”, ressalta.

ALERTA

Em setembro do ano passado, a FOLHA também acompanhou o aumento do número de confirmações da Covid-19 em crianças entre 0 e 9 anos, que passou de 71 para 163 em apenas um mês em Londrina. Um salto de 129% que acendeu um alerta sobre a importância das famílias manterem as medidas preventivas, em especial, o isolamento social.

Até o momento, o número acumulado de confirmados com a doença nesta faixa etária é de 829. Um aumento de 408% (666 casos) em seis meses. Cenário que leva novamente os profissionais da saúde reforçarem a importância dos cuidados sanitários entre a população.

“O aumento da ocupação na UTI pediátrica é multifatorial, mas é muito provável que as crianças que internaram por causa respiratória, entre aquelas com suspeita de Covid ou mesmo com diagnóstico confirmado, se deve ao impacto dos feriados de final de ano e mais recentemente o Carnaval. Essas datas acabaram levando uma maior aglomeração de pessoas adultas e esse maior contato social pode ter refletido também numa maior chance de transmissão da doença no ambiente doméstico”, comenta o pediatra, considerando que o aumento era esperado. "Felizmente até o momento temos dado conta dessa demanda, embora sempre fique uma apreensão sobre um aumento de casos mais graves que possam comprometer também a demanda para UTI pediátrica”, afirma.

MENORES DE 1 ANO

Linch Junior revela que a maior parte das crianças que internam na UTI com suspeita ou com diagnóstico confirmado de Covid-19 tem menos de 1 ano de idade. “Tivemos crianças acima dessa idade, mas na maior parte são menores de 1 ano e uma boa parcela são recém-nascidos que nasceram de mãe que tiveram a doença ou a suspeita", afirma.

Recentemente, em Maringá (Noroeste) foi registrada a morte de um bebê de um ano e quatro meses em decorrência da Covid-19. A criança estava internada, mas teve um agravamento no quadro de saúde e morreu na noite do dia 27 de fevereiro.

Nesta semana, o País inteiro acompanha o drama das famílias e dos profissionais que atuam na Maternidade Escola Santa Mônica, em Maceió, capital alagoana, que está com 15 bebês internados em estado grave devido a contaminação pela Covid-19.

RECADO ÀS FAMÍLIAS

O chefe da UTI pediátrica do HU, Arnildo Linch Junior, lembra que as medidas mais efetivas para evitar a contaminação da doença é evitar aglomerações, cuidar da higienização das mãos e usar máscaras. “Especialmente entre os adultos, pois eles podem adquirir essa doença fora de casa e levar o vírus para o ambiente doméstico, tanto é que tivemos recém-nascidos com suspeita da doença, assim como lactantes recentemente", diz.

Questionado sobre uma possível mudança de cenário com a reabertura de escolas particulares, o pediatra cita que a chance da criança adquirir a doença, “em parte pode estar relacionada à atividade escolar, mas nada impede que essa criança ela adquira a doença através dos próprios cuidadores. Uma vez que há a decisão de levar a criança para escola é importante cumprir com as regras de higienização e ao menor sinal de sintoma respiratório, febre, dor abdominal, diarreia ou vômito na criança ou indivíduos que têm contato com essa criança em casa, ela deve ficar afastada do ambiente escolar.