No início desta semana, um comentário nesta mesma página falava da maneira banal como vem sendo tratada a violência em Curitiba. Um dos questionamentos era sobre a banalização promovida pelas próprias autoridades policiais. Ontem, e não foi por mera coincidência, um veículo ocupado por três jovens – entre eles dois estudantes – foi literalmente ‘‘metralhado’’ por policiais militares. Foram 22 tiros, sem que os jovens tivessem disparado uma única vez. Eles, aliás, nem armados estavam.
Levando em consideração que um revólver calibre 38 tem carga de seis tiros (arma mais usada pela polícia), na abordagem policial foram descarregadas quase quatro armas. Um dos estudantes, Ademir Marcio Lenartunicz, 20 anos, foi atingido no abdômen e está no hospital, tornando ainda mais grave a desastrada operação policial. Os outros dois estudantes, que não ficaram feridos, são Eduardo Martini, de 19 anos, e Ayslan Sálvio Mafra, 27 anos.
Despreparo, exagero, imprudência, irresponsabilidade? Tudo isso pode descrever a ação, mas de maneira nenhuma justificar a brutalidade da abordagem contra os estudantes. É a política absurda e equivocada do atirar primeiro e perguntar depois. Vale lembrar que não é a primeira vez que isso acontece em Curitiba. Em 1997 o também estudante Rafael Zanella foi morto em uma abordagem policial, dessa vez feita por policiais civis.
Esses acontecimentos demostram, que além da violência praticada por pessoas comuns, hoje a população precisa preocupar-se com aqueles que, teoricamente, deveriam combater a criminalidade. A polícia está deixando a população amedrontada, com medo e sem ter a quem recorrer.
No caso de ontem, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Guaraci Moraes de Barros, disse que não houve excesso da corporação. Os policiais disparam a quantidade de projéteis que cabem em quase quatro armas e o fato não é considerado exagero pela PM. Imaginem se os três estudantes tivessem morrido. Será que tudo também não seria visto como uma ação normal, de rotina?