Imagem ilustrativa da imagem Assistência Social amplia estratégias para abordar moradores em situação de rua
| Foto: Marcos Zanutto - 08-08-2019

O jovem Jeniton Stein, 26, faz parte do reforço na equipe da assistência social em Londrina. O rapaz, que viveu nas ruas durante seis anos, aceitou ajuda após insistentes abordagens realizadas pela equipe do Centro Pop. Para ele, a própria experiência deve facilitar a abordagem aos demais moradores em situação de rua.

“Por ter vivido e ter passado isso na pele, fica um pouco mais fácil. [...] Espero ver mais pessoas saindo da rua. Do jeito que eu saí, muitas outras pessoas podem sair também”, garantiu.

Stein assumiu a função de ‘educador par’, iniciativa já adotada em Belo Horizonte (MG) e agora implantada em Londrina. A intenção é quebrar barreiras e diminuir a resistência da população de rua durante as abordagens realizadas pelas equipes da Secretaria Municipal de Assistência Social. A medida faz parte de uma série de estratégias lançadas nesta segunda-feira (9) para ampliar o atendimento a essa população.

Conforme a secretária Jacqueline Micalli, o município convocou novos servidores concursados para o cargo de orientador social. Ao todo, 15 já estão em atividade desde outubro e outros dez passarão a integrar a equipe nas próximas semanas.

“O importante para nós não é eles migrarem de um lugar para o outro. É que realmente se tenha uma solução ou, como esse que hoje é educador par, que eles saiam da rua. Então nós estamos fazendo um trabalho horizontal. É evidente que nos pontos em que há mais permanência, nós iremos focar com uma atuação mais forte”, destacou. Em janeiro, o município também deve criar 40 vagas para pernoite, além das 200 vagas de acolhimento já disponíveis.

A arte também será utilizada para sensibilizar a população de rua. Um dos coordenadores da Escola de Circo de Londrina, Sérgio Oliveira, afirmou que várias atividades serão ofertadas para resgatar a autoestima das pessoas abordadas.

“As ações estão sendo planejadas para que a gente ofereça parte delas nas abordagens de rua que já são feitas. A gente vai apenas incrementar esse serviço, qualificando uma ação ou outra, que já faz parte do repertório da própria Escola de Circo durante mais de 20 anos. [...] A gente está fazendo um estudo para verificar onde tem maior incidência de moradores de rua para estar, de certa forma, amortecendo todo esse problema que é um problema social. Acho que todo o munícipe tem culpabilidade sobre isso e a gente tem que fazer alguma coisa criativa ou produtiva de inclusão para essas pessoas, ressignificando a vida de muitos aí."

RODOVIÁRIA

Londrina possui cerca de mil moradores em situação de rua. No final de julho, a instalação de gradis na Rodoviária de Londrina reforçou a necessidade de ampliar as medidas de abordagem a essa população e estabelecer novas estratégias para enfrentar a questão social sem ferir a dignidade de quem não escolheu estar nas ruas.

“As pessoas não estão na rua porque elas querem. Ninguém escolhe morar na rua. Uma pesquisa feita pelo município, por duas universidades de Londrina e pelo Ministério Público demonstrou que essas pessoas estão nas ruas porque sofreram violência, porque são portadoras de doença mental, porque tiveram grandes traumas na vida e isso levou essas pessoas a estarem na rua. [...] Estamos investindo para que essas pessoas deem a volta por cima, retornem ao mercado de trabalho, tenham uma atividade, voltem a sorrir, voltem a se integrar com os outros e isso não é um caminho fácil porque elas perderam a sua dignidade, não se valorizam, não tem autoconfiança, não tem autoestima... É um caminho longo”, ressaltou a promotora de Justiça, Susana Lacerda.

Ações integradas também são desenvolvidas com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde. Na última sexta-feira, as equipes realizaram dez encaminhamentos de pessoas que estavam na rodoviária e aceitaram a ajuda ofertada.