Assaí tem 'disparada' nos casos de coronavírus em junho
Município de 15 mil habitantes tem quatro óbitos registrados; muitas pessoas ainda não seguem medidas de prevenção
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quinta-feira, 25 de junho de 2020
Município de 15 mil habitantes tem quatro óbitos registrados; muitas pessoas ainda não seguem medidas de prevenção
Pedro Marconi - Grupo Folha
Assaí - Com pouco mais de 15 mil habitantes, Assaí (Região Metropolitana de Londrina) viu o número de casos de coronavírus disparar nas últimas semanas. A cidade começou junho com apenas quatro confirmações e nenhuma morte, de acordo com a Sesa (secretaria estadual de Saúde). Boletim desta quinta-feira (25), da secretaria municipal de Saúde, apontou que já são 20 moradores infectados pela doença, com quatro óbitos. Treze pessoas são consideradas recuperadas.
Para entrar no município, os motoristas e pedestres precisam passar por uma barreira sanitária. A estrutura foi montada em uma das entradas há quase 70 dias. Outras duas passagens existentes foram bloqueadas pela prefeitura. “Agora que está ficando perigoso”, reconheceu a auxiliar de enfermagem Patrícia, que atua no local. É a interiorização da Covid-19, que migrou das capitais e grandes centros para as pequenas cidades.
As equipes se revezam nas abordagens em três turnos, entre 6h e 22h, de de segunda a segunda. “Perguntamos de onde a pessoa está vindo, o que vai fazer na cidade, verificamos a temperatura, pegamos nome e telefone de todos que estão no veículo”, explicou a servidora pública. Se a medição é acima de 38 graus, a pessoa é encaminhada ao hospital municipal. Quando é pouco mais de 37 graus ela recebe orientação para ficar atenta a possíveis sintomas.
ESPAÇOS PÚBLICOS
A prefeitura interditou os parques e outras áreas de lazer como medida de prevenção e controle do coronavírus, entretanto, ainda existem munícipes que utilizam os espaços para atividades públicas. O expedidor aposentado Ademir Galassi vai ao Parque Ikeda diariamente para caminhada e garantiu que tem se cuidado. “Uso máscara, respeito distanciamento, venho em horário mais tranquilo. O movimentou caiu muito. O problema está nas filas dos bancos e lotéricas”, criticou.
MÁSCARAS E COMÉRCIO
Numa volta pelo centro é comum encontrar pessoas circulando sem máscara ou utilizando da maneira incorreta, abaixo do nariz ou no queixo. Em alguns bancos, apesar da marcação no chão, o distanciamento não é respeitado. “Quem está sem máscara tem que ser chamado atenção, porque é irresponsável”, classificou José Carlos de Souza, que vende alho na avenida Rio de Janeiro. “Confio em Deus que tudo vai passar”, ponderou o “Zé do Alho”, que aos 60 anos mostrou preocupação com o avanço da doença.
O comércio está com horário reduzido: das 9h às 16h, de segunda a sexta-feira, e das 8h às 12h, aos sábados. Apesar das regras, alguns lojistas ainda não têm ofertado álcool em gel logo na entrada. O comerciante Aguinaldo Zopelli tem seguido à risca as determinações. Além do recipiente numa cadeira com álcool, colocou um cartaz alertando os clientes sobre a obrigatoriedade do uso da máscara. “Tem que se cuidar e proteger os funcionários e clientes”, destacou.
Os estabelecimentos não essenciais chegaram a ser fechados por aproximadamente 20 dias no início da pandemia. Na opinião de Zopelli, a ação não se faz mais necessária. “As vendas diminuíram muito. Só na minha loja foram 30%. Nas ruas não vê mais tanta gente. Os casos estão começando a aumentar e onde tem muita aglomeração é nos bancos.”
DISTANCIAMENTO
Pessoas em grupos e sem respeitar o distanciamento mínimo indicado pelo Ministério da Saúde - de dois metros - também são encontradas na praça central, no entorno da paróquia São José. A maioria demonstra pertencer à terceira idade. “Quem tem que pegar, vai pegar, não adianta. Vou deixar de viver por causa desse vírus? Vou ficar trancado dentro de casa até quando?”, questionou o aposentado José Souza, que não usava máscara.
Moradora da zona rural, a agricultora Claudia Sampaio relatou que tem evitado ir à cidade para resguardar ela, o esposo e as duas filhas. “Só venho quando preciso e não estou recebendo visitas em casa. Não é época para isso. O que prejudica é que muitos não se cuidam, não respeitam as regras”, constatou. “Achávamos que a doença ia demorar para chegar aqui ou nem chegaria, mas não foi isso que aconteceu. Cada um tem que fazer sua parte”, frisou a dona de casa Andrea Gomes.
RELAÇÃO COM LONDRINA
Secretário de Saúde de Assaí, Venicius Djalma Rosa relatou que das duas dezenas de casos da Covid-19 na cidade, cerca de três são comunitários, ou seja, em que não é possível identificar a origem do vírus. O restante, segundo ele, tem relação direta ou indireta com a Santa Casa de Londrina. Em maio, o hospital registrou um surto da doença e chegou a fechar o pronto-socorro por conta do problema.
“São técnicos de enfermagem que trabalham no hospital, pacientes que estiveram na instituição de saúde ou familiares e amigos que tiveram algum tipo de contato com estas pessoas”, elencou. Os testes para coronavírus estão sendo realizados naqueles que apresentam sintomas, a partir de indicação médica. Dois locais estão com atendimento exclusivo para síndromes respiratórias, sendo o hospital municipal e o centro de saúde central. Funcionários foram treinados nestes lugares.
Já aqueles que tiveram contato, mas não apresentam sinais da doença, são monitorados pelo município. Até quinta-feira (25) eram 30 pessoas acompanhadas. “É a situação do filho que deu positivo e talvez esteve na casa do pai. Então, monitoramos para saber se apresenta sintomas e, se precisar, isolar”, exemplificou. Atualmente, o município tem três pacientes ativos com o vírus. Um está em isolamento e dois internados.
Assaí é considerado um polo comercial da região, e muitos moradores ainda dependem da cidade para sacar o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal. “De forma geral, a maioria das pessoas tem respeitado e colaborado. Temos pessoas de fora diariamente e isso acaba influenciado ao não uso da máscara ou seguir outras medidas. Uma grande dificuldade nossa tem sido alguns bares”, citou.
TOQUE DE RECOLHER
O município não tem legislação que prevê multa para o não uso da máscara, entretanto, isto não está descartado. “Estamos colocando as equipes na rua para orientar, porém, se continuar assim a multa terá que ser o jeito”, alertou o secretário, que ainda indicou uma queda nas notificações nos últimos sete dias. “O pico foi há algumas semanas.”
O poder público municipal instituiu toque de recolher diário das 22h30 às 6h. O descumprimento pode acarretar em penalidade de R$ 500 e responsabilização na esfera criminal por infração de ordem sanitária. Já os comércios que não respeitam as regras estão sujeitos à sanção no valor de R$ 1 mil.