Imagem ilustrativa da imagem As dificuldades na inclusão da criança autista na escola
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O início do período escolar pode ser uma experiência difícil para muitas crianças, seja para aquelas que vão para a aula pela primeira vez ou para as que agora estudarão em uma nova escola. Imagine, então, para o aluno que possui características, comportamentos e habilidades diferentes dos colegas de turma. Para ele, a adaptação pode levar mais tempo e, muitas vezes, há a necessidade de receber atenção especial e individualizada dos professores. É o caso de crianças diagnosticadas com TEA (transtorno do espectro autista).

Muitas escolas não estão preparadas para receber e lidar com essas crianças. É o que afirma o médico pediatra e neurologista infantil Clay Brites. Apesar disso, ele garante que é possível oferecer um atendimento personalizado e melhorar a estrutura e o preparo da equipe em pouco tempo. Segundo ele, é importante respeitar os medos que o autista tem. Em geral, possui hipersensibilidade a barulho, não tolera locais muito lotados e fechados e nem mudanças súbitas de realidade, tem dificuldade para adaptar-se ao chegar a ambientes onde existem horários e regras a serem cumpridas.

"A escola precisa ter jogo de cintura para lidar com essas situações. É importante conversar com os pais para saber o que conforta a criança e o que causa medo", orienta. O médico garante que existem formas de integrar o autista na escola e conduzir o processo de aprendizagem de forma prazerosa. Segundo ele, a maioria tem dificuldade na execução de tarefas, leitura, escrita, matemática, coordenação motora e visual, possui problemas de linguagem. Brites diz que a escola precisa fazer uma avaliação dos maiores deficits que o aluno possui e promover a adaptação curricular. Alguns precisarão de um professor de apoio.

Na avaliação do neurologista infantil, uma das principais dificuldades na inclusão é a falta de intercomunicação entre as escolas regulares, pais e profissionais da saúde. Ele lembra que o tratamento se baseia em uma estratégia multidisciplinar, com suporte médico e apoio de psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, nutricionistas, de acordo com cada caso. Por isso, quando um aluno com autismo é matriculado, é dever da escola colher todas essas informações com os pais para oferecer o atendimento adequado. É importante lembrar que, além de desenvolver o aprendizado, as escolas possuem papel importante no estímulo à interação social.

DIAGNÓSTICO PRECOCE
A fonoaudióloga Eliane Brancalhão Guerra lembra que as principais dificuldades de crianças autistas estão na comunicação e interação com outras pessoas. Por isso, antes de matricular é importante que os pais se assegurem de que o filho já tenha uma orientação social, se possui a capacidade de buscar o amigo, imitar os colegas com frequência. "Se a criança ainda não faz isso, o ganho na escola é reduzido. O interessante é, primeiro, investir em uma terapia intensiva", afirma.

Nos casos em que os pais não possuem condições financeiras ou acesso ao tratamento, a escola, segundo Guerra, torna-se um excelente ambiente para a criança autista. A fonoaudióloga lembra que o diagnóstico precoce é fundamental para suavizar os sintomas e facilitar o desenvolvimento. "Hoje, tenho crianças de um ano e quatro meses em tratamento", conta a profissional, que trabalha com a aplicação de terapia baseada no Modelo Denver de Intervenção Precoce em Crianças com Autismo. Por isso, assim que os pais perceberem sinais atípicos e comportamentos inadequados é importante que busquem imediatamente por tratamento. Na fonoaudiologia, por exemplo, são trabalhados os vários aspectos da comunicação, como visual, auditiva e corporal, além da fala.

DESCULPAS

Para encontrar uma escola que aceitasse a matrícula do filho Gabriel, de dois anos e nove meses, Andreia Juliana Abonísio passou por oito instituições de ensino e enfrentou uma série de desculpas. Ela conta que procurou uma instituição por orientação da terapeuta ocupacional. O filho também faz acompanhamento com neurologista infantil, psicólogo e fonoaudiólogo. "Infelizmente, as escolas não estão preparadas. Existe o custo de deixar um profissional de apoio com a criança autista e eles colocam o limite de uma por sala", lamenta.

Apesar das dificuldades, ela afirma que o filho deu um salto no desenvolvimento após três meses na escola. "Eles são muito abertos, dão livre acesso para os psicólogos e terapeutas do meu filho e esse entrosamento é muito importante", conta. O menino estuda de manhã e faz as terapias à tarde. "Não é fácil. Chorei por dois dias seguidos quando recebemos o diagnóstico", confessa.

O Centro de Educação Infantil Navegantes possui um número considerável de alunos autistas com idades entre 2 e 5 anos - 8% do total de matriculados. Para a diretora geral e orientadora educacional da escola, Alessandra Peres, os principais desafios da criança autista são a socialização e o entendimento de limites. "Quando não damos limites estamos negando que a criança seja capaz de se desenvolver e se comportar como qualquer outra", pondera.

Peres conta que, quando a escola começou a receber crianças com autismo, há cerca de cinco anos, a equipe começou a buscar informações na literatura, os professores fizeram uma formação coletiva e cada um, individualmente, buscou aprimorar os conhecimentos. Ela diz que a escola respeita a condição e o tempo de cada criança e cria um canal aberto de comunicação com o terapeuta e demais profissionais envolvidos no tratamento do aluno. "A neurociência mostra o que vemos acontecer com frequência, o aprendizado depende de maturação neurológica e estímulo. Temos que preparar as crianças para atuarem de forma autônoma", afirma.

Depois de passar por cinco escolas e, finalmente, conseguir matricular Bruno, de três anos e oito meses, a mãe, Paula Barreto de Assis Tamarozzi, diz que passou a ver as terapias como complemento do tratamento do filho. "O comportamento dele evoluiu muito, voltou a falar, começou a socializar. O carinho, a paciência e a vontade da escola para incluir o nosso filho fizeram toda a diferença na vida dele", comemora. O canal aberto com os profissionais da saúde envolvidos no tratamento contribuiu para esse salto no desenvolvimento. "Hoje, ele faz terapia duas vezes por semana e, por indicação médica, passou a ficar o período integral na escola", conta a mãe.