Imagem ilustrativa da imagem Arte e cor preenchem muro de cemitério em Londrina
| Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

O muro do cemitério Jardim da Saudade, na zona norte de Londrina, não passa mais despercebido. Quem segue pela avenida Saul Elkind, é "seduzido" pelo colorido pela arte do grafite, em uma extensão de aproximadamente 450 metros. O mural a céu aberto é um dos maiores do Sul do Brasil e foi idealizado pelo artista visual londrinense Carão, um dos organizadores do Festival CapStyle Graffiti, que chegou à 6ª edição neste fim de semana.

O evento reuniu 65 grafiteiros de diversos estados brasileiros e do Chile. “O grafite traz uma forma de enxergar a arte nos detalhes. Quem passar de carro pela avenida sempre terá, a partir de agora, algo diferente para apreciar, um detalhe que não tinha percebido antes porque são muitos desenhos”, afirma Carão. Cada participante teve a liberdade de "ocupar" um espaço no muro para expressar sua arte.

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| Foto: Isaac Fontana - FramePhoto - Folhapress

A troca de experiências entre os grafiteiros é um ponto alto do festival, seja para quem está iniciando ou para quem já pinta há muitos anos, como conta o caingangue Severino Borges, mais conhecido como “Xozão”. "Está sendo muito bom poder mostrar um pouco da minha arte e conhecer outras pessoas que, de um jeito ou outro, estão me ajudando a melhorar”, diz. Em seu sétimo trabalho, ele que é da aldeia indígena Apucaraninha, retratou seu povo com a imagem de uma índia.

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| Foto: Micaela Orikasa/Grupo Folha

Enquanto Xozão fazia os retoques finais, a família de Aline da Silva fazia questão de registrar o artista com sua obra. Silva mora no conjunto Vivi Xavier e saiu de casa na tarde deste domingo (31) para apreciar e fotografar os desenhos. “As crianças também estão animadas. É muito bonito, uma verdadeira obra de arte. Minha mãe está enterrada aqui e acaba sendo até gratificante para nós, saber que este espaço está colorido, bonito. Nem parece um muro de cemitério”, comentou Silva.

Para Silvana de Moraes, a visita ao túmulo dos pais foi marcada por uma surpresa agradável. “Cemitério é um espaço pesado, que traz tristeza, mas olhando esses desenhos, a energia muda. Estou gostando muito”, diz.

NO SÃO PEDRO

Em outras edições, o Festival CapStyle Graffiti, produziu intervenções artísticas no muro do Cemitério Municipal São Pedro, no centro da cidade, onde a grafiteira Jay Moraes, de Cascavel (Oeste), já deixou sua marca. Nesta edição, ela retornou a Londrina revelando o talento para o que ela classifica de “etnografite”.

“Gosto de representar os povos originários, retratar a natureza, crianças e mulheres”, conta Moraes, que dessa vez pintou uma mulher indígena trazendo um pedido de cura, uma "bola de energia". “Ao pintar em um muro de cemitério, penso muito na questão da vida, na força espiritual, na esperança”, explica Jéssica Moraes, 34.

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| Foto: Micaela Orikasa/Grupo Folha

Moraes se dedica à arte do grafite há mais de três anos. Quando ela iniciou, era a única em sua cidade e agora já são mais de 20 mulheres. Para Carão, o espaço que o grafite vem ganhando nos últimos anos se deve muito à internet, que aproxima a arte de milhares de pessoas.

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| Foto: Isaac Fontana - FramePhoto - Folhapress

ESSÊNCIA

Mas os trabalhos que o Coletivo CapStyle vem promovendo ao longo de 18 anos em Londrina também tem atraído muitos olhares para a arte das ruas. O coletivo é formado hoje por sete pessoas e promove workshops gratuitos e projetos como o Arte na Escola. “Culturalmente, as pessoas que vivem no centro e em regiões mais nobres da cidade têm um acesso mais facilitado à arte, mas nas periferias isso é mais difícil e esse festival, aqui na zona norte, traz um pouco disso na essência.”

O Festival CapStyle Graffiti é uma realização do Coletivo CapStyle com a Prefeitura de Londrina e diversas parcerias, que resultaram na doação de sprays coloridos, tintas, água e refeições para os participantes.

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| Foto: Micaela Orikasa/Grupo Folha

LOGÍSTICA REVERSA

Uma parceria que é novidade nesta edição é o Projeto Mangue & Tal, do Rio de Janeiro. Uma das fundadoras, Belle Provenzano, explica que a iniciativa tem como base a educação ambiental e a destinação correta das latas de spray. “Não se pode jogar no lixo. É preciso descaracterizar a lata para que cada item possa ser reciclado. Trabalhamos com logística reversa e levamos um pouco de educação ambiental em eventos como este”, conta Provenzano, que estima coletar um volume aproximado de mil latas no evento em Londrina. (Colaborou Marcos Roman)

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