A cuidadora de idosos Raquel Conrado vive com as três filhas - de 10 anos, 7 anos e 8 meses - de favor na casa dos pais no jardim Tarobá, na região sul. Em 2017, ela foi contemplada com um apartamento no residencial Alegro Villagio, na entrada do conjunto Jamile Dequech, na zona sul de Londrina. Naquele ano estava recém-separada e desempregada, mas se esforçou para comprar os móveis que instalaria no imóvel. Quatro anos depois ela segue sem o apartamento e teve que vender a mobília.

Mais de 140 famílias aguardam as conclusões das obras
Mais de 140 famílias aguardam as conclusões das obras | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

“É um sonho morar no Alegro Villagio. Passo em frente com minhas filhas e elas perguntam quando vamos mudar. É um sonho meu e delas e que não se realiza. Estamos cansados de ser enganados. É uma vergonha, um ato desumano. O que estamos passando ninguém deveria passar”, desabafou a cuidadora, que junto com outras famílias sorteadas para viver no lugar protestou em frente ao residencial, nesta terça-feira (30).

Os futuros moradores cobram a entrega dos apartamentos. Segundo os manifestantes, o último prazo dado pela Caixa Econômica Federal e a Cohab (Companhia de Habitação) Londrina para entrega das chaves havia sido fevereiro do ano que vem. Entretanto, a data teria sido postergada para agosto. “São mães solteiras, pessoas com deficiência e idosos que foram contemplados e estão esperando. Muitos até já morreram desde o sorteio. Em vez de falarem uma data real, ficam enrolando. É revoltante”, lamentou a autônoma Indrid Dayane de Oliveira.

O Alegro Villagio é um empreendimento que está sendo construído por meio do programa federal Minha Casa, Minha Vida, hoje rebatizado de Casa Verde e Amarela. O residencial começou a ser edificado em 2014 e deveria ter sido entregue em 2017, porém, as obras foram paralisadas com 90% de execução após a empreiteira responsável decretar falência. Em 2019, durante cerimônia na prefeitura, o poder público anunciou a retomada dos trabalhos com uma nova construtora, de Curitiba, após liberação de recursos pelo Ministério do Desenvolvimento Regional.

Na época, a promessa era de que a finalização aconteceria em 12 meses, período que não foi cumprido, aumentando ainda mais a longa espera das famílias. “Moro de favor na casa de uma pessoa no conjunto Semiramis, na zona norte. A Cohab joga para a Caixa e a Caixa joga para a Cohab. Não queremos apenas resposta, mas ação, que é a entrega. Aqui está minha primeira casa própria e é um sonho que não se concretiza. Isso me deixa triste”, relatou a saladeira Patricia Aparecida de Moraes, que tem dois filhos, de 5 e 11 anos.

Ao todo, o empreendimento terá 144 habitações. A construção ocupa uma área de 7.500 metros quadrados e conta com nove blocos, com quatro andares cada. Os apartamentos possuem 43 metros quadrados distribuídos em dois quartos, banheiro, sala e cozinha conjugada. Os moradores também têm direito a uma vaga de garagem. Na manhã de terça-feira, poucos operários atuavam no lugar.

Nova empresa foi contratada para terminar trabalhos em 2019, restando apenas 10% de execução na época
Nova empresa foi contratada para terminar trabalhos em 2019, restando apenas 10% de execução na época | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

APREENSÃO

As famílias que vão residir no residencial já foram selecionadas pela Cohab em três sorteios promovidos há quatro anos. Todos demonstraram ter renda de até R$ 1.800 por mês. As pessoas ainda temem que seja feito um novo sorteio e alertaram que poderão até ocupar o empreendimento se a entrega não acontecer em fevereiro. “Estou morando de favor na casa de uma pessoa com meus quatro filhos e o prazo para ficar lá é fevereiro. Depois disso não terei como aguardar mais”, destacou Indrid de Oliveira.

COHAB E CAIXA

Segundo o presidente da Cohab Londrina, Luiz Cândido de Oliveira, a Caixa Econômica Federal é quem faz o gerenciamento do contrato junto à empreiteira, cuidando de prazos e cronograma. Ele afirmou que informalmente o banco sinalizou que houve uma prorrogação do prazo para término dos serviços, que venceria em fevereiro do ano que vem, por mais seis. “Sabemos do anseio das famílias, muitas vivem de aluguel, tem o tempo do contrato junto ao locador e não saber quando vai poder mudar gera um estresse”, ponderou.

Oliveira também disse que a única empresa que mostrou interesse em continuar a obra é a que está no lugar. No momento em que finalmente o residencial estiver para ser entregue, a companhia vai chamar novamente as famílias sorteadas para conferir se a atual situação delas ainda se enquadra nos quesitos exigidos pelo Minha Casa, Minha Vida. “Depois da obra entra o processo de constituir o condomínio e retornaremos a conversa com os 144 selecionados. Vamos verificar a condição de cada um e se família não tem mais interesse ou não se encaixa na renda, chamamos os suplentes (também sorteados em 2017)”, explicou.

Por meio de nota, a Caixa Econômica Federal informou que "o cronograma de conclusão do empreendimento estava previsto para dezembro de 2021, contudo, foram identificados problemas construtivos que demandarão serviços adicionais para garantir a habitabilidade. A construtora apresentará seu parecer e novo cronograma de conclusão em até 15 dias."

Atualizada às 11h59 de 01/12/2021

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