Após uma década de abandono, mocó na rua Belém é demolido
Imóvel foi colocado abaixo depois de integração entre a proprietária e a Polícia Militar; lugar servia como ponto de tráfico e uso de drogas
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quarta-feira, 27 de março de 2024
Imóvel foi colocado abaixo depois de integração entre a proprietária e a Polícia Militar; lugar servia como ponto de tráfico e uso de drogas
Pedro Marconi
Um dos mais emblemáticos mocós de Londrina foi colocado abaixo. O imóvel abandonado na esquina da rua Belém com a Bahia foi demolido nesta quarta-feira (27) após um trabalho de intermediação do 5º Batalhão da PM (Polícia Militar) com a proprietária do terreno, que estava tomado por pessoas em situação de rua e usuários de drogas há cerca de dez anos. Foram nos últimos dois anos que o problema se agravou, fazendo da insegurança uma rotina para comerciantes e moradores da região.
O trabalho começou nas primeiras horas do dia, com equipes policiais abordando as cerca de 30 pessoas que estavam no interior do prédio. Nenhuma quis ser encaminhada para serviços sociais e se dispersaram. Com o espaço desocupado foi possível ter a dimensão da degradação humana e física. Na parte de dentro tinha muito lixo acumulado, móveis velhos, pichação e um forte odor de fezes e urina.
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Na sequência, uma mini-carregadeira foi derrubando as paredes e muros, reduzindo a estrutura a escombros. "A demolição era um pedido da comunidade, que estava se queixando dos altos índices criminais e da sensação de insegurança gerados por este imóvel. Um local onde as pessoas traficavam, usavam entorpecentes e essas pessoas acabavam cometendo delitos aqui na região, furtando comércios e residências, além do assédio e constrangimento”, pontuou o capitão Emerson Castro, porta-voz do 5º Batalhão.
O militar destacou que foi aplicado o conceito de polícia de proximidade para resolver o conflito que envolvia o prédio de dois andares. “Fomos em busca dos proprietários para conseguir achar uma solução. Chegamos a um acordo e viemos dar apoio na demolição. O que encontramos aqui não foram pessoas que habitam esse lugar, mas que passavam para comprar drogas e fazer o uso. Também faziam a troca e entrega de diversos objetos furtados”, frisou. Nenhum representante da prefeitura esteve no local.
No espaço funcionou uma barbearia, no entanto, há mais de uma década se tornou parte de um imbróglio envolvendo a herança com várias pessoas. “São muitos herdeiros e fica difícil reunir todos, tem a dificuldade dos trâmites burocráticos. Desde quando assumi a responsabilidade, vinha tentando tirar essas pessoas daí. Colocamos cadeados nas portas, cercamos mais o muro, entretanto, continuaram invadindo”, contou a professora de natação Suely Soares de Mello, sobrinha do dono do lugar, que faleceu.
FALSA VENDA
Documentos do imóvel ainda foram falsificados recentemente e um homem que se apresentou como proprietário vendeu o terreno. “Foram falsificadas assinaturas, tivemos que entrar na Justiça para fazer a nulidade e conseguimos reverter a situação. Neste período a situação foi piorando e já não era possível mais entrar. Acabou virando uma briga da sociedade ter essa demolição”, destacou.
O falso dono, inclusive, foi preso pela PM nesta quarta por promover o furto de energia elétrica. Dois “gatos” garantiam a energia do mocó: de uma casa de repouso que fica ao lado e de um poste da Copel. “As pessoas foram coagidas a deixarem que fizessem o chamado ‘gato’. Esse homem se apresentava até recentemente como proprietário”, informou o capitão Castro.
PROMESSA NÃO CUMPRIDA
Há oito meses, representantes do município foram à imprensa e afirmaram que a prefeitura é quem iria promover a demolição. Todavia, a garantia não saiu da promessa. Segundo a proprietária, o que o poder público londrinense fez foi conceder o alvará autorizando a destruição. “O município fez a documentação, disse que iria arcar com a demolição, mas como não é público e sim particular, não teria como a prefeitura fazer isso. Ficamos pensando no que iríamos fazer e foi aí que a Polícia Militar nos procurou oferecendo ajuda”, explicou Suely Mello.
ALÍVIO
Para quem vive nas proximidades, ver a área vazia foi sinônimo de alívio. “Era um consumo de droga dia e noite. As pessoas que passavam aqui viam a droga sendo distribuída para os andarilhos. Não conseguíamos dormir. Na noite de terça-feira (26), por exemplo, tinha um homem batendo numa mulher dentro desse imóvel. A culpada de tudo isso é a prefeitura, que não fez nada e continua não fazendo na cidade. Daqui a pouco Londrina vai virar a cracolândia de São Paulo”, criticou.
A expectativa é de que o terreno – avaliando em cerca de R$ 600 mil - seja vendido, tema que é consenso entre os 30 herdeiros. “O desfecho agora é a venda. Isso que vamos prosseguir a partir de agora”, garantiu a mulher.
TRAFICANTE SUSPEITO
Durante a demolição, a PM abordou um rapaz num carro no momento que passava ao lado do imóvel, na rua Bahia. Ele, que estava com uma adolescente de 15 anos, é suspeito de “abastecer” o lugar com drogas. Não foram encontrados entorpecentes com a dupla, porém, o veículo foi apreendido por documentação irregular. O jovem – que acabou liberado - não tinha CNH (Carteira Nacional de Habilitação).