Após a chuva: cuidados para evitar doenças
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quinta-feira, 03 de novembro de 2011
Fernanda Carreira <br> Reportagem Local
Com o avanço do aquecimento global, a ocorrência de alagamentos e enchentes deverá aumentar nos próximos anos, segundo especialistas. Londrina já começou a sentir ou primeiros efeitos dessa previsão com a enchente histórica ocorrida no mês passado. Apesar da secretaria municipal de Sa© úde não ter registrado casos de diarreia infecciosa ou zoonoses com o transbordamento do Lago Igapó e alagamento em vários pontos da cidade, pequenos cuidados com alimentação e higienização são fundamentais para prevenir o surgimento de doenças.
''No caso do lago que transbordou, por exemplo, a gente não sabe a qualidade daquela água. Imagina-se que ela seja limpa. Ele não é formado por nenhum rio, que sofra descarga de nenhuma indústria, então, teoricamente, não dever ter uma água de qualidade ruim'', salienta o infectologista André Bortoliero, de Londrina. ''Mas, a partir do momento que ele transborda e a água entra em contato com as fossas, esgotos e bueiros, ela se contamina com a sujeira.''
''Precisamos considerar que quando a água sai de seu leito natural, ela enche bueiros e entra em contato com a toca dos ratos e sua urina, podendo carregar a bactéria da leptospira para a casa das pessoas'', exemplifica Bortoliero, referindo-se à leptospirose, infecção grave, desencadeada pela penetração da bactéria no organismo, quando a água contaminada entra em contato com mucosas da boca, dos olhos, nariz ou mesmo por meio de machucados na pele.
Segundo o infectologista, diferente do que se possa imaginar, as pessoas que mais sofrem com as infecções e zoonoses, que surgem a partir de uma enchente, não são crianças ou mesmo idosos, mas homens jovens. ''Este grupo geralmente se expõe mais à água contaminada para tentar salvar móveis e eletrodomésticos e por isso o risco é maior'', afirma Bostoliero, destacando a necessidade de que os adultos utilizem galochas se tiverem que entrar em contato com a água e as crianças evitem brincar na água contaminada.
O infectologista recomenda também que, depois da chuva, é fundamental fazer uma cuidadosa higienização da casa. ''Quando for lavar quintal, casa, rua, lembre-se sempre de usar luvas e botas, assim você estará protegida de contaminação'', destaca. ''E, caso os reservatórios sejam contaminados, é sempre bom dar uma boa limpeza, até mesmo em caixas d'água.''
Bortoliero aconselha ainda que moradores de casas invadidas pela água contaminada utilizem a água mineral filtrada, clorada ou fervida, tanto na preparação de alimentos, quanto para ingestão.
Caso os alimentos entrem em contato com a água de enchente, o especialista recomenda que estes alimentos não sejam consumidos pela família. ''E, é claro, deve-se lembrar de sempre lavar bem as mãos antes de manipular os alimentos'',
complementa.
Quando a família tem animal de estimação, o cuidado deve ser redobrado, na opinião de Bortoliero. E o cuidado começa na observação da saúde do animal. ''Os animais podem veicular algumas bactérias. Embora o rato seja o grande vetor, os cães e gatos também podem ser veiculadores, eventualmente.''
Segundo ele, com a chuva, há também um aumento na proliferação dos vetores de doenças, como ratos e mosquitos, e de picadas de animais peçonhentos, como aranhas, escorpiões e cobras. ''Aumenta e muito a infestação desses insetos e consequentemente, as doenças de pele.''
Pequenos sintomas
De acordo com o Bortoliero, as principais doenças desencadeadas com o transbordamentos de rios, lagos e as enchentes ocorrem devido à ingestão de água contaminada ou pelo simples contato com essa água. ''Por isso, a atenção ao surgimento de pequenos sintomas pode fazer toda a diferença'', destaca. Entre as doenças, especialista cita como principais, além da leptospirose, hepatites A e E, febre tifóide e cólera.
O médico alerta que, no caso da leptospirose, é preciso que as pessoas estejam atentas ao aparecimento de sintomas como febre alta, dor no corpo e dor de cabeça, diarreia e o sangramento do pulmão, em estágios mais avançados da doenças.
No caso das hepatites A e E, em que o vírus é transmitido por meio água e alimentos contaminados ou de uma pessoa para outra, os sintomas são febre, pele e olhos amarelados, náusea e vômitos, mal-estar, dores abdominais, falta de apetite, urina escura e fezes esbranquiçadas.
Quanto à cólera, o infectologista afirma que o principal sintoma é uma diarreia intensa, que pode levar o paciente a um quadro de desidratação. Já no caso da febre tifóide, ele aponta como sintomas a febre, dor de cabeça, cansaço, sono agitado, náusea, vômito, sangramentos nasais, diarreia.