Paulista de Mineiros do Tietê, na região de Jaú, Maria Aparecida Luz chegou ao Paraná em 1941, aos 14 anos. Como tinha o ginásio completo, foi nomeada professora primária pelo prefeito de Sertanópolis para lecionar em Santa Margarida (hoje distrito de Bela Vista do Paraíso). De professorinha primária, Aparecida chegou à secretária municipal da Educação (naquele tempo Departamento de Educação e Assistência Social), passando pela direção de várias escolas da cidade, pela Inspetoria de Ensino (2º grau) e pela coordenadoria da reforma educacional de 72, cujo projeto foi implantado em todo o Estado.
Foi professora de várias gerações de londrinenses. Muitos de seus alunos são médicos, engenheiros, advogados, contadores, economistas e também professores espalhados pelo Paraná e até pelo Brasil. A ex-aluna mais destacada é a vice-governadora Emília Salles Belinati. ‘‘Emília foi minha aluna na Faculdade de Educação Física do Norte do Paraná, antiga Fefi, a atual Universidade Norte do Paraná (Unopar). Até hoje, quando me encontra me chama de professora’’, conta, orgulhosa.
Depois de dois anos dando aulas para 1ª, 2ª e 3ª séries em Santa Margarida, a professora Aparecida iniciou o curso de magistério na recém-criada Escola Normal de Londrina, fazendo parte da primeira turma, formada em 46. Logo que chegou na cidade, foi nomeada professora municipal para lecionar na escola da fazenda de Willie Davids, primeiro prefeito de Londrina. Em 45, mesmo antes de formada em magistério, já lecionava no então Grupo Escolar Hugo Simas, principal escola da cidade naquela época.
Depois de formada, foi professora na Escola de Aplicação (hoje Colégio de Aplicação), onde tornou-se diretora dois anos depois. Em 49, casou-se com o fiscal da Receita Estadual, Alciony Pimpão Ferreira Alves, e passou a chamar-se Maria Aparecida Luz Ferreira Alves. Pelos alunos, sempre foi tratada como professora Aparecida. Com o marido, que foi vereador durante quatro legislaturas, teve uma filha, a artista plástica Regina Coeli, que lhe deu um neto, Rafael, estudante do 2º ano de direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL).
‘‘Devo muito ao Alciony, que sempre esteve ao meu lado, com o seu incentivo’’, assegura. ‘‘Na verdade quem mais deve sou eu, sobretudo no período em que fui vereador. Nessa situação o apoio da família, especialmente da mulher, é fundamental’’, emenda Alciony, devolvendo o reconhecimento.
Em 1956, assumiu o cargo de diretora do Departamento de Educação e Assistência Social, equivalente hoje às secretarias de Educação e de Ação Social. Sua grande preocupação à frente do Departamento de Educação foi com a enorme evasão escolar. De acordo com a professora, menos de 10% dos estudantes das escolas rurais que iniciavam os estudos concluíam o antigo primário (da 1ª a 4ª série).
‘‘Investigando as razões da grande evasão escolar, descobrimos que a maioria dos alunos abandonava a escola nos períodos de entressafra. Por isso, implantamos o calendário escolar de acordo com o ano agrícola e também a 4ª série, pois as escolas municipais ofereciam apenas até a terceira’’, conta. Ela diz que essas mudanças não eliminaram a evasão, mas facilitaram a conclusão do antigo primário. ‘‘Os estudantes mudavam, mas podiam concluir a 4ª série em outra escola da rede municipal.’
Outra grande luta da professora Aparecida foi a transformação da Escola Normal em Instituto de Educação. Ela conta que, em 63, a proposta de transformação estava na mesa do governador quando representantes de Maringá, Ponta Grossa e Paranaguá se mobilizaram para pressionar Ney Braga a estender a medida para esses municípios.
‘‘Até hoje, somente Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Paranaguá contam com institutos de educação’’, acrescenta a professora. Aparecida explica que os alunos formados na escola normal têm habilitação para lecionar dentro do Estado, enquanto o instituto habilita para o exercício profissional em todo o País. ‘‘Nos tempos modernos isso perdeu a importância, pois as exigências de hoje são por cursos de nível superior.’
Como diretora de escola, a professora Aparecida destaca como medida curiosa a decisão de abolir o uniforme nos desfiles de 7 de Setembro. É que as professoras também eram obrigadas a desfilar e tinham que usar tailler e sapatos de salto alto. ‘‘Marchar com aquele uniforme era um terror’’, diz, revelando que a inspetora de ensino não gostou da idéia e a chamou para apresentar as justificativas. ‘‘Disse que era uma decisão dentro da minha competência. A inspetora não gostou, mas as professoras adoraram.’
As posições políticas do marido repercutiram positiva e também negativamente na carreira da professora Aparecida. Em 66, depois de ser a diretora da Escola Normal por quatro anos, foi colocada em disponibilidade pelo recém-empossado governador Paulo Pimentel. ‘‘Éramos todos do grupo político coordenado pelo governador Ney Braga. Mas, logo depois da posse, Pimentel decidiu criar estatura política própria, nomeando pessoas que não tinham ligações diretas com Ney Braga’’, detalha a professora para explicar a ‘‘puxada de tapete’’.
Depois da ‘‘geladeira’’ imposta por Pimentel, a professora Aparecida foi inspetora de Ensino de 2º Grau e coordenou a organização do projeto de reforma educacional de 72. Ajudou, ainda, a fundar a Faculdade de Educação Física do Norte do Paraná (Fefi), onde foi professora e coordenadora pedagógica até 82. De 83 a 94, trabalhou na UEL, na coordenadoria de Planejamento e Controle e na Auditoria Interna.
‘‘Apesar do direito de aposentadoria aos 25 anos de serviço, só me aposentei depois de 35 anos. E só deixei de trabalhar porque sofri problemas de saúde’’, destaca, orgulhosa. ‘‘Férias, praticamente não as tirei, exceto alguns dias por ano.’
Comparando o ensino do tempo do início de sua carreira e dos dias atuais, a professora Aparecida diz que houve muitas mudanças. Umas para melhor; outras para pior. ‘‘O sistema está muito mudado. Os professores perderam o status que gozavam há algumas décadas’’, opina, atribuindo como causas o fato de os estudantes estarem muito mais informados e, de modo geral, os professores tornaram-se burocratas. ‘‘Isso ocorreu também porque faltam lideranças entre o professorado.’
Projetando o próximo século, a professora teme que os professores sejam substituídos por robôs (computadores) e transformem-se em meros repassadores de informação. ‘‘A missão do professor é muito mais nobre: contribuir para a formação do cidadão. As novas tecnologias devem ser utilizadas como facilitador neste processo de formação de um homem novo.’

PERFIL
Nome:Maria Aparecida Luz Ferreira Alves
Idade: 71 anos
Onde nasceu:Mineiros do Tietê (SP)
Profissão:Professora aposentada
Passatempo:Cuidar de animais e plantas em sua chácara
Sonho:Trabalho e vida melhor para todos os brasileirosDorico da SilvaNobre missãoAparecida da Luz, em sua casa: ‘‘O professor tem o papel de contribuir para a formação do cidadão. Tecnologias devem ser uusadas como facilitador neste processo.’’Áureo Nogueira