Ibiporã - 'Ouro' do Norte paranaense entre as décadas de 1930 e 1970 e propulsor do desenvolvimento da região, o café tem seu valor reconhecido no museu que leva o nome do fruto em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina). Inaugurado em 2012, o Museu do Café é um dos poucos com essa temática no Brasil. O funcionamento é na antiga estação ferroviária da cidade, tombada pela Coordenadoria do Patrimônio Histórico do Estado do Paraná.

Tombado pelo Patrimônio Histórico do Paraná, prédio é de 1952 e foi revitalizado há cerca de dez anos
Tombado pelo Patrimônio Histórico do Paraná, prédio é de 1952 e foi revitalizado há cerca de dez anos | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A FOLHA traz reportagens sobre como estão as antigas estações ferroviárias. Em janeiro, a matéria foi do espaço de Arapongas, que vai ser reformado para se tornar sede da secretaria de Cultura. O prédio em Ibiporã, a segunda estação do município, foi construído em 1952 e revitalizado há cerca de dez anos, sendo mantida a arquitetura original. Os recursos foram do Ministério do Turismo. O pátio ferroviário é da União e foi cedido ao município em contrato.

O Museu do Café faz parte do Complexo Socioeducativo, Turístico e Cultural de Ibiporã, que abriga ainda casas históricas dos ferroviários que trabalhavam na estação, auditório e a sede de duas secretarias. “A ferrovia escoou o café para o Porto de Paranaguá e Santos, trouxe pessoas para urbanizar o entorno de grandes centros”, recorda o jornalista Jaime Kaster, que tem vasta pesquisa sobre a história de Ibiporã e da estação.

A história e a importância do café estão valorizadas do teto ao chão do museu. Na parte de cima, peneiras decoram, mas também rementem ao passado. Nas paredes e painéis, uma linha de tempo formada com fotos mostram a evolução e principais acontecimentos do município e da própria estação. Ao lado, sacarias denotam o peso do fruto para a formação de todo um território.

OBJETOS HISTÓRICOS

Além disso, diversos objetos históricos, junto com as fotografias, compõem a exposição permanente "Café: Nossa História", que é autoguiada. Entre as peças estão máquina de costura, louças e rádio antigos e ferro de passar à brasa. Todos os itens foram doados por famílias pioneiras. O restante está guardando como reserva técnica em duas salas.

O secretário de Cultura e Turismo, Agnaldo Adélio,  e o  jornalista Jaime Kaster
O secretário de Cultura e Turismo, Agnaldo Adélio, e o jornalista Jaime Kaster | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

“Tudo isso traduz a força do café para Ibiporã. A matriz, por exemplo, foi construída com doação de sacas de café. Até a década de 1980, a maioria da população da cidade morava na área rural. A maior parte dos pioneiros da cidade chegou pela estação”, destaca Kaster, que é assessor de comunicação da secretaria municipal de Cultura e Turismo. A primeira estação de trem de Ibiporã foi inaugurada em 1936.

As visitas são gratuitas e quando existem grupos guiados - acima de dez pessoas - há a necessidade de agendamento prévio. Muitos alunos de escolas vão ao prédio, principalmente em atividades relacionadas às disciplinas de história e geografia. Uma sala audiovisual é dedicada para transmissão de vídeos gravados com pioneiros. “Queremos que as crianças e jovens entendam o processo econômico e cultural que envolve o café. É a prática” aponta o secretário de Cultura e Turismo de Ibiporã, Agnaldo Adélio.

LIGAÇÃO

Responsável por mostrar o Museu do Café para os visitantes que procuram a estação espontaneamente ou em grupos pequenos, a servidora Maria Aparecida Francisco Ribeiro vê no espaço um pouco de sua história. “Saí da roça com a minha família na década de 1970 por causa da grande geada que teve e acabou com tudo. O museu me lembra da minha trajetória. Limpava os troncos dos pés de café”, conta.

"O museu me lembra da minha trajetória. Limpava os troncos dos pés de café”, conta Maria Aparecida Francisco Ribeiro
"O museu me lembra da minha trajetória. Limpava os troncos dos pés de café”, conta Maria Aparecida Francisco Ribeiro | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Única nascida em Ibiporã numa família de sete irmãos, Cida, como é carinhosamente conhecida e chamada, diz com orgulho que trabalha no local praticamente desde a inauguração. “Gosto muito de ficar aqui. Sou feliz. Nasci em Ibiporã e nunca sai daqui”, frisa.

SERVIÇO - A visitação ao Museu do Café de Ibiporã pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h. O telefone é (43) 3178-0392.

A história e a importância do café estão valorizadas do teto ao chão do museu
A história e a importância do café estão valorizadas do teto ao chão do museu | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

COZINHA DO PIONEIRO

A história também pode ter sabor. Com o objetivo de resgatar a memória de Ibiporã, foi iniciado o projeto “Cozinha do Pioneiro”, que terá como “palco” o Museu do Café. Famílias que se instalaram na cidade até a década de 1950 ou foram para a cidade da Região Metropolitana de Londrina a partir dos anos 1970 estão sendo convidadas a integrar a iniciativa.

Cada participante irá reproduzir um prato típico, que terá todo o processo filmado e divulgado nas redes sociais da Prefeitura de Ibiporã e das secretarias envolvidas. A cozinha onde serão feitas as filmagens é o café desativado da antiga estação ferroviária, que ganhou novos apetrechos para ambientar a proposta. O bar foi inativado por conta da baixa demanda.

Posteriormente, as receitas serão reunidas num livro, que ainda vai contar com fotos e depoimentos das famílias. A expectativa de lançamento é o primeiro semestre deste ano. “Escolhemos gravar no museu por ter uma questão nostálgica”, explica Jaime Kaster, assessor de comunicação da secretaria municipal de Cultura e Turismo. “Os vídeos deverão ter, no máximo, cinco minutos”, adiantou.

Segundo Agnaldo Adélio, a intenção também é encontrar, por meio da tradição regional de origem dos participantes, a identidade culinária de Ibiporã. “É uma maneira de encontrarmos um prato típico da cidade ou até da região, o que não temos atualmente. Temos várias influências, mas nada definido”, aponta o secretário de Cultura e Turismo.

Muitas famílias que deverão preparar os pratos têm objetos doados e que fazem parte do Museu do Café. As inscrições continuam abertas.

SERVIÇO - Para participar do projeto “Cozinha do Pioneiro” é preciso ligar para (43) 3178-0215 ou 3178-0216.