Morador da zona sul de Londrina, Paulo Lopes dos Anjos, 59, era conhecido por ser uma pessoa animada e de amizade fácil. Trabalhou como motorista na maior parte da vida. Na década de 1990 chegou a dirigir o veículo do time que leva o nome da cidade aos jogos e treinos. Na última terça-feira (2) acabou tendo a vida interrompida pela Covid-19. Foi uma das 31 pessoas que viviam na cidade e morreram vítimas do novo coronavírus.

 Paulo Lopes dos Anjos com a família: "Ele era muito presente"
Paulo Lopes dos Anjos com a família: "Ele era muito presente" | Foto: Arquivo pessoal

O motorista aposentado estava internado no HU (Hospital Universitário). Foram 11 dias lutando pela recuperação num leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e respirando com ajuda de aparelho. Os sintomas apareceram poucos dias depois do Dia das Mães. Começaram semelhantes ao de uma gripe forte e se transformaram em falta de ar e cansaço. Anjos tinha problemas cardíacos, o que contribuiu para agravar o estado de saúde.

“Ele conhecia bastante gente, conversava com todos e era um ótimo pai. Gostava de fazer churrasco e festas para a família. No Dia das Mães foi a última vez que nos reunimos”, lembrou Woshington Cesar dos Anjos, um dos quatro filhos de Anjos, que ainda deixou uma neta de três anos. Ele era casado há 30 anos. “Meu pai foi motorista de ônibus de turismo por muito tempo. Há 13 anos teve que ser afastado por problemas no coração e acabou aposentado por invalidez. Cuidava da saúde.”

Apesar de toda a convivência, laços e lembranças, a família não pôde se despedir do motorista aposentado e atravessar todo o processo do luto. “Só conseguimos vê-lo no hospital, que deixaram. Ele foi colocado no caixão e o corpo direto para o cemitério. Foi tudo muito rápido. É triste (não ter velório). Não desejo para ninguém”, lamentou. O protocolo para casos positivos de coronavírus é que os mortos sejam enterrados sem direito a velório, como medida de segurança.

RECEIO

De acordo ele, o pai tinha medo de contrair o vírus e, por isso, era um dos que mais se cuidava. “Ele tinha tanto medo de pegar a doença que em abril foi o aniversário da minha filha e ele não quis vir, para evitar sair de casa e ter contato. Acabou sendo vítima do coronavírus”, afirmou. “Ele amava muito a família, se preocupava com todos. Como estava aposentado, era muito presente”, relatou.

Outras quatro pessoas da família foram diagnosticadas com a Covid-19. Woshington, que aguarda o resultado de exames, está na fase final do isolamento domiciliar. Ele não morava com o pai, mas teve contato. O rapaz apresentou tosse seca, dor no corpo e perda total do paladar e olfato, sintomas que ainda continuam. A esposa, que é asmática, está com coronavírus e manifestou falta de ar. Outros membros da família não tiveram nenhum sinal aparente, no entanto, os testes deram positivo.

CUIDAR DA SAÚDE

Trabalhando como DJ, Woshington alertou que o coronavírus é sério e não deve ser subestimado. “Não é apenas uma 'gripezinha'. As pessoas precisam acreditar que a doença existe e evitar de sair, fazer aglomerações. Trabalho com eventos e está tudo parado, mas devemos cuidar da saúde, porque se Deus quiser uma solução e vacina serão encontradas. Temos que aguardar”, refletiu.