Em apenas um dia foram recolhidos mais de 100 itens; cada arma vale um brinquedo e os meninos e meninas podem escolher aquele de sua preferência
Em apenas um dia foram recolhidos mais de 100 itens; cada arma vale um brinquedo e os meninos e meninas podem escolher aquele de sua preferência | Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

Promover a cultura de paz em todos os sentidos e formas. Este é o principal sentimento que está sendo transmitido na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, no jardim União da Vitória, zona sul de Londrina. A unidade iniciou nesta semana a campanha “Arma? Nem de brinquedo”. Os alunos estão sendo incentivados a trocar armas de plástico por um brinquedo novo. Em apenas um dia foram recolhidos mais de 100 objetos que remetem a revólveres, pistolas e até metralhadoras.

De acordo com a diretora da instituição, Marlene Valadão, este número surpreendeu e fez com que mais brinquedos fossem comprados às pressas para serem distribuídos. “Percebemos, no dia a dia, que eles gostam de ter a arma de plástico. Os maiores não trouxeram no primeiro dia, porém, viram os menores trocando e se sentiram motivados. Isso é muito legal”, valorizou. Os materiais, como bolas, bonecas, jogos e livros, estão sendo adquiridos pelos próprios funcionários, que “abraçaram a causa”.

A ideia para a iniciativa surgiu após conversa com integrantes do Compaz (Conselho Municipal da Cultura de Paz de Londrina) e Londrina Pazeando, entidades que já trabalham a temática da paz junto à escola e outras localidades. Todas as armas reunidas ao longo de todo este mês de setembro serão destinadas às entidades, que no início de outubro farão a sexta edição do manifesto pela paz e desarmamento infantil, no Calçadão de Londrina, com os objetos sendo destruídos.

O lançamento oficial da campanha no Zumbi dos Palmares ocorreu na terça-feira (10), com os alunos sendo conscientizados sobre a razão e importância da medida. Os pais receberam bilhetes informando sobre a proposta. “Falamos que eles precisam desapegar deste tipo de brincadeira, com arma de plástico. Quando tem, brinca de matar ou outras ações que geram violência e não condizem com a idade deles. As crianças precisam buscar outros tipos de brinquedos”, destacou a diretora.

Todas as armas recolhidas serão destruídas, durante ação que será realizada em outubro
Todas as armas recolhidas serão destruídas, durante ação que será realizada em outubro | Foto: Marcos Zanutto - Grupo Folha

'MAIS FELIZ'
Uma das primeiras alunas a se desfazer da arma foi Sabrina Oliveira Queiroz, 9. A peça era do irmão, que tem dez anos, porém, ela fez questão de entregar na escola. “Acho importante não ter arma em casa. Troquei por uma pulseira”, contou, mostrando com orgulho o adereço no braço. Quem seguiu o exemplo da colega de unidade foi Agatha Domingues de Barros, que escolheu um estojo. “Estou mais feliz com o estojo. Não devemos ter arma em lugar nenhum, seja de brinquedo ou verdade”, opinou.

Já Thailer Fernando Félix dos Santos, 7, trouxe na quarta-feira (11) a arma que ganhou de presente do padrasto. “Vou querer uma bola de futebol. Quando usava a arma de plástico era para brincar de matar zumbi. Melhor ficar sem ela e jogar bola”, refletiu. “Ganhei a minha de uma prima e achei a proposta da escola muito legal. Não vou sentir falta dela, porque sei que faz mal. Mais crianças precisam fazer o mesmo e de deixar de lado este tipo de brinquedo”, ressaltou Ana Luiza Nascimento Pereira, 8.

Todos os dias, até o final da campanha, um servidor passará nas salas de aula recolhendo o objeto. São 847 estudantes do P5 ao quinto ano, nos períodos matutino e vespertino. Cada arma vale um brinquedo e os meninos e meninas podem escolher aquele de sua preferência para a troca. “De vez em quando, quando as crianças são liberadas para trazer brinquedos para escola, algumas vêm com a arma e, até esta iniciativa, pegávamos”, contou Marlene Valadão. “Não significa que isso seja generalizado, mas, quando se brinca com arma de plástico quando criança, poderá querer ter uma verdadeira na fase adulta.”

REALIDADE
A diretora relatou que muitos alunos têm histórico de familiares que perderam a vida pela violência, por meio de armas de fogo. São crianças que ficaram sem pai, tio ou primo. “Estamos num momento em que discutimos o bullying e outras formas de violências dentro do ambiente escolar. Além disso, se fala em desarmamento. Então, temos que conversar sobre paz e difundir isso para que tenhamos um futuro melhor para todos”, elencou.

A Escola Municipal Zumbi dos Palmares vem desenvolvendo ao longo dos últimos anos vários projetos que têm refletido positivamente em diversos aspectos. A instituição abre aos sábados para a comunidade, implementou assembleia de alunos e propõe jogos a não violência. Ainda está sendo a primeira a testar o Sive (Sistema de Informações sobre a Violência nas Escolas), que será levado a outras unidades escolares da cidade até o final do ano. A escola da região sul não possui registro de violência entre alunos ou vandalismo e arrombamento no prédio.

ABRAÇO
Na manhã do dia 22 de setembro, domingo, será realizada a 11º edição do abraço no lago Igapó, promovido pelo Compaz e a ONG Londrina Pazeando. A atividade faz parte da 19ª Semana Municipal da Paz de Londrina e região, que inicia em 21 e segue até 30 de setembro. Recentemente, foi lançada publicação com desenhos de alunos de escolas do município sobre a paz e um jogo que trabalha este tema.