Alunos da Apae de Londrina formalizam cooperativa
Trabalho integra o programa Cooperativa Mirim, do Sicoob Ouro Verde, que leva os princípios do movimento para instituições educacionais
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Trabalho integra o programa Cooperativa Mirim, do Sicoob Ouro Verde, que leva os princípios do movimento para instituições educacionais
Jéssica Sabbadini - Especial para a FOLHA
Uma iniciativa do Sicoob Ouro Verde levou para dentro da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Londrina uma cooperativa. Chamada de Mãos que Transformam, a cooperativa é formada por 20 estudantes de 13 a 50 anos e foi formalizada em assembleia na semana passada. Como resultado do trabalho, o primeiro produto dos associados são pacotes de bolachas artesanais, que já estão disponíveis para venda na instituição.
Especialista em Desenvolvimento Cooperativo do Sicoob Ouro Verde, Maisa Palma Hangai explica que a Cooperativa Mirim é um programa nacional desenvolvido pelo Sicoob dentro de instituições educacionais. Em todo o Paraná já são quase 50. Em Londrina, são três, sendo duas em parceria com a Guarda Mirim no Distrito de Lerroville (zona sul), que atende crianças do assentamento do MST (Movimento Sem Terra). Agora, a terceira é com alunos da Apae.
Inédito no País, Hangai conta que essa é a primeira vez que o projeto é feito em parceria com uma Apae, sendo que toda a parte metodológica e pedagógica foi adaptada para atender os alunos com deficiência mental, múltipla e autismo.
O trabalho começou no mês de março, já que cada associado precisava cumprir 74 horas de atividades para que pudessem entender o que é uma cooperativa, cooperativismo e cooperação. “A cooperativa é deles. Eles são os fundadores e escolheram o nome e a logo”, afirma.
PROTAGONISTAS E LÍDERES
Por ser uma cooperativa educacional, o produto, que é chamado de objeto de aprendizagem, é a bolacha artesanal. Todo o trabalho, desde a parte nutricional e pesagem dos alimentos até a produção, foi feito dentro da Apae, sendo que cada membro da cooperativa tem uma função, que vai desde a parte da produção até os cargos de chefia, como presidente e vice-presidente da cooperativa.
“O objetivo do programa é torná-los protagonistas, líderes e desenvolver as habilidades de cada um”, explica. Segundo ela, a cooperativa ajuda também na autoestima dos estudantes, já que eles sentem que podem fazer cada vez mais, inclusive com visitas a cooperativas de outros segmentos.
Além de todo o trabalho que vem sendo feito dentro da cooperativa na produção das bolachas, os membros também estão envolvidos em uma campanha de Natal para arrecadar brinquedos para crianças de uma creche de Londrina.
Para o ano que vem, a meta é produzir cachecois para serem distribuídos à população idosa. “Eles não sentem que estão sendo ajudados, eles sentem que, fundando a cooperativa deles, estão ajudando as pessoas”, destaca.
“É uma preocupação que a gente tem de atender cada vez mais a nossa comunidade, principalmente sendo mais inclusivo”, pontua, complementando que esse é um dos principais propósitos do cooperativismo.
COMO ADQUIRIR AS BOLACHAS
Para quem quiser adquirir as bolachas artesanais produzidas pelos associados da Mãos que Transformam é só acompanhar a cooperativa nas redes sociais (@cooper_maos_que_transformam), onde são divulgadas todas as informações e os dias de produção, além da rotina dos associados.
COMO DOAR BRINQUEDOS
Sobre a campanha de Natal, os brinquedos novos ou usados (em boas condições) poderão ser doados até o dia 1° de dezembro na sede da Apae, na Avenida Robert Koch, 11, zona leste. Os brinquedos serão entregues às crianças do Centro de Educação Infantil Boas Esperança, na região sul da cidade.
SONHO E RESPONSABILIDADE
Presidente eleita da cooperativa Mãos que Transformam, Mariana Pereira, 32, afirma que participar do programa vem sendo uma experiência de aprendizado muito grande, que a ajudou a ser mais independente. Assumir o posto de presidente, segundo ela, vem sendo um sonho, assim como é uma posição que traz muita responsabilidade.
“A minha família está me ajudando muito”, afirma Pereira, complementando que é ela a pessoa que assina toda a documentação da cooperativa e leva os assuntos para serem discutidos e votados pelos demais associados.
E a alegria da filha é compartilhada com a mãe, Dionér dos Santos Pereira, 55, que percebeu algumas mudanças no comportamento ao longo dos últimos meses. “Ela ficou mais responsável ainda e está se sentindo muito mais útil e independente”, explica. Além disso, garante que a filha vem conseguindo lidar melhor com os momentos de distração e de espera. “Para a família isso não tem preço. A felicidade deles é a de todos”, ressalta.
ENGAJAMENTO
Edson Zanin, presidente da Apae, garante que a iniciativa vai se consolidar como um marco na instituição da instituição educacional, da cooperativa, da cidade de Londrina e em todo o Brasil. “Que outras cooperativas surjam com o mesmo interesse da nossa”, deseja.
Segundo ele, todos estão engajados no movimento, principalmente os associados, que pensaram e colocaram em prática tudo o que envolve a cooperativa Mãos que Transformam. Além disso, a cozinha da instituição foi toda adaptada para atender a produção das bolachas.
HÁ 12 ANOS
Analista de Cidadania e Sustentabilidade do Instituto Sicoob, Fernanda Petrone explica que o programa Cooperativa Mirim já existe há 12 anos como uma forma de proporcionar aos associados uma vivência semelhante à que acontece dentro dos corredores de uma cooperativa tradicional.
Segundo ela, dentre os principais benefícios da iniciativa, destaca o desenvolvimento da capacidade de liderar, do olhar cooperativo e o trabalho em coletivo. “A gente está plantando uma semente para que, no futuro, nós tenhamos líderes que sejam mais conscientes, coletivos”, aponta.