Jéssica Burda e Amanda Maloste:
Jéssica Burda e Amanda Maloste: | Foto: Arquivo Pessoal

As amigas Amanda Maloste, 17, e Jéssica Burda, 18, começaram a pesquisar alternativas para produtos alimentícios que teriam outros usos que não a alimentação. A provocação veio da Olimpíada de Matemática no colégio em que estudavam, o Sesi de Campo Largo (Região Metropolitana de Curitiba). O resultado obtido a partir do sabugo de milho gerou entusiasmo e o produto passou a ser melhorado, indo além do evento na escola. Em março, o Samis, nome do produto que criaram, foi premiado em quatro categorias da feira mais importante do país, o Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia). Um dos prêmios é a vaga na delegação brasileira para a feira anual no Estados Unidos.

O projeto para a competição no colégio exigia a utilização de gêneros alimentícios disponíveis na região e por isso elas consideraram o milho, cultivado pelo pai de Burda. A ideia veio do fato que o sabugo é um item descartado após a retirada dos grãos, sem um uso específico na indústria. As estudantes buscaram formas de trabalhar com o material para produzir embalagens sustentáveis, em substituição ao poliestireno expandido, conhecido por isopor. Nesta primeira etapa, o sabugo foi triturado e misturado a uma cola vegetal para formar uma embalagem de proteção para produtos eletrônicos.

A continuidade das pesquisas foi dada nas aulas de iniciação científica, também oferecidas pelo colégio Sesi. Com a coordenação da professora de Biologia, Juliana da Cunha Vidal, os testes sucessivos permitiram que o produto Samis fosse ser melhorado. “Elas estavam determinadas a seguir com o projeto da embalagem, aprimorar para ter um produto ainda melhor”, conta a professora. “Além das pesquisas na prática, elas estavam interessadas em participar de mais feiras pelo país e estar nesse meio da ciência. Isso serviu para terem essa vivência também, fora do ambiente do colégio”, complementa.

Imagem ilustrativa da imagem Alunas do Paraná vão representar o Brasil em feira internacional de ciências
| Foto: Arquivo Pessoal

IDEIA AVANÇA

Em uma segunda fase, as pesquisas passaram a contar com o apoio da professora da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Juliana Regina Kloss, no campus Curitiba. Foi também com a bolsa de iniciação científica conquistada por Burda que a pesquisa foi viabilizada. Pensando em lançar o Samis no mercado, foi buscado um agente expansor para compor o produto final, com um poliuretano associado ao sabugo triturado. Foram vários testes comparando o produto com o isopor e com o poliuretano puro. "Até o momento, elas visualizaram que o Samis se decompõe muito mais rápido que os outros dois também testados", explica Vidal. "O produto tem resistência ainda melhor que o poliuretano puro, mas não tão eficiente quanto o isopor, por isso o trabalho para melhorias prossegue", descreve.

A experiência da professora Kloss, especialista em polímeros, e o acesso ao laboratório da UTFPR melhor equipado foram decisivos para que o produto inicial de sabugo de milho fosse melhorado com técnicas mais avançadas e ganhasse vários prêmios nacionais.

O mais recente deles foi em março, na Febrace, promovida pela da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo). As alunas e as duas professoras receberam prêmios em quatro categorias: o de melhor trabalho do Paraná, segundo lugar para ciências exatas e da terra, o prêmio de projeto com melhor técnica para desenvolvimento sustentável e o mais celebrado de todos, o prêmio de representação na Feira Internacional de Ciências e Engenharia, a Intel Isef, nos Estados Unidos, em maio.

O grupo de Campo Largo vai compor a delegação brasileira com nove projetos selecionados e terá todas as despesas pagas para participar do evento. Também do Paraná estará presente na delegação o aluno João Pedro Silvestre Armani, do Colégio Gabriela Mistral, em Palotina (Oeste).

PROTAGONISMO

Para a professora Juliana Vidal, que acompanha as duas estudantes desde o início do projeto no colégio, o mais interessante é ver o protagonismo delas. “Ao mesmo tempo que elas estão pesquisando para propor mudanças para a sociedade, elas se desenvolvem em áreas como solução de problemas, relacionar-se com pessoas desconhecidas e ao longo do processo vão amadurecendo. É uma oportunidade de abrir os olhos para o mundo e poder ver outras realidades além da escola, da cidade”, defende.

Maloste diz que a recompensa maior neste trajeto de quase dois anos de trabalho é o aprendizado. “Os prêmios todos são consequência, era mesmo um sonho poder ir para os Estados Unidos, mas sempre achei difícil de conseguir. O principal de tudo isso é o crescimento pessoal. Conviver com outras pessoas, conhecer realidades bem mais limitadas que a nossa e ver que é possível encontrar soluções para melhorar a vida das pessoas. Essa experiência é o melhor prêmio”, revela.

Das aulas e vivências que se somaram, as duas amigas perceberam o interesse comum pela área de pesquisa em química. Elas pretendem entrar para a graduação em química e prosseguir com as pesquisas já iniciadas.

*Supervisão: Lucília Okamura -editora Cidades