'Agricultura perde espaço', diz doutor
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quinta-feira, 19 de outubro de 2000
A agricultura perdeu espaço porque o Brasil não tem políticas públicas adequadas. Não temos também políticas públicas não-agrícolas. A afirmação é do professor doutor José Graziano da Silva, da Universidade de Campinas (Unicamp), que esteve em Londrina ontem, ministrando palestra no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). A palestra tratou das ocupações rurais não agrícolas.
Segundo Graziano, a agricultura não garante mais o sustento das famílias que habitam o meio rural. Sem condições de sobrevivência, as famílias continuam a morar no campo, mas buscam trabalho nas cidades.
Ainda segundo Graziano, nos anos 90 à medida que se acelerava a queda do emprego agrícola a população rural não diminuiu. O êxodo rural, que teve seu auge no início da década de 80, em função da mecanização agrícola, estancou, apesar da baixa oferta de empregos. Graziano explicou que, atualmente, as famílias do meio rural exercem cada vez mais funções domésticas dentro das propriedades.
Enquanto a mulher fica na chácara trabalhando como caseira, o marido vai para as cidades atuar em outros setores, ou vice-versa. São as chamadas atividades para-agrícolas, assegurou Graziano.
As atividades domésticas, por pior que sejam, ainda são mais lucrativas do que as rendas agrícolas, afirmou Graziano. O Plano Real foi a pá de cal na agricultura brasileira, completou.
De acordo com o professor, em 1998 a renda média mensal de uma família brasileira, com título da propriedade, é de R$ 306,00. Se alguém desta família deixa o campo e procura trabalho fora, a renda, chamada de pluriativa, sobe para R$ 433,00. Se todos da família saem para trabalhar fora do campo a renda sobe para R$ 588,00.
A alternativa para o campo, conforme Graziano, é viabilizar condições para que o agricultor busque novas funções para o campo. O turismo rural é um via. O problema é que, no Brasil, não se tem nem mesmo uma conceituação do que seja turismo rural, disse Graziano.
Ele explicou que não existem linhas de crédito para desenvolver projetos de incrementação turística no campo. Segundo Graziano, se o agricultor for ao banco financiar uma pocilga, ele terá crédito, mas se quiser recursos para construir bangalôs para abrigar turistas, ele nada conseguirá.
Com a globalização atingindo também o campo, a tendência é de que as pessoas resgatem as tradições e identidade das regiões em que habitam. Explorar as comidas típicas, as danças, festas religiosas e costumes locais são opções que se encaixam sobremaneira no meio rural, ressaltou Graziano. O professor considera que o Paraná é o único Estado do País que tem uma visão clara de que é preciso conceber políticas públicas não-agrícolas para o campo.