De bermuda e camiseta. É assim que alguns londrinenses estão enfrentando o inverno com temperaturas que chegaram aos 29ºC no mês de julho. Uma sequência de dias com tempo mais seco e temperaturas mais altas mostra que estamos em pleno veranico, um fenômeno meteorológico que traz dias quentes mesmo na estação mais fria do ano.

Imagem ilustrativa da imagem Acabou o inverno? 'Veranico’ eleva temperatura em Londrina

Quem comemora é o gerente da sorveteria, que tem notado o movimento aumentar desde a semana passada, mas ainda não sabe dizer se foi o calor inesperado ou se as pessoas estão tentando se habituar ao novo ritmo da pandemia. “Na verdade, esse ano, se não fosse a Covid-19, não teríamos tanta redução nas vendas, porque o clima não teria atrapalhado tanto”, menciona Bruno Gil Dias, gerente da unidade da sorveteria Gela Boca da avenida Saul Elkind (zona norte).

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| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Mesmo assim, os poucos dias de frio do ano não esconderam a alta temperatura da última semana, mais pessoas procuraram o estabelecimento, com alta perceptível nas vendas. No entanto, o gerente afirma que enquanto o dia faz calor intenso, à noite o friozinho obriga os clientes a aparecerem de blusa.

Essa variação de temperatura também foi sentida pelo vendedor de frutas Waldemar Oliveira. Na manhã de quinta-feira (23), ele levantou por volta das 5h para ir à Ceasa e conta que ao nascer do sol as vestimentas são diferentes da regata, bermuda, boné e chinelo que usava no final da manhã. “Eu saio de blusa e calça de manhã para ir trabalhar, como eu moro aqui perto, troco de roupa e venho vender. Esta semana ficou quente demais. Eu não gosto, prefiro o frio”, argumenta. No final da manhã, já havia posicionado a cadeira na sombra de uma árvore para dar continuidade à rotina.

 Waldemar Oliveira, vendedor: "Ficou quente demais; eu não gosto, prefiro o frio"
Waldemar Oliveira, vendedor: "Ficou quente demais; eu não gosto, prefiro o frio" | Foto: Lais Taine - Grupo Folha

LOJAS DE ROUPAS

Se o calor vem de surpresa, as lojas de vestuário precisam criar estratégias. Sirlene Batista, vendedora na Charme Lú, na avenida Saul Elkind, disse que as roupas de frio mais pesadas deixaram de ser procuradas e deram espaço às roupas mais leves, com destaque para as peças que mesclam as duas temporadas: inverno e verão. “A gente casa a venda de uma roupa mais fresca, como blusinha de alcinha, com um casaco por cima, tenta misturar”, afirma.

Frio de manhã e calor à tarde obriga os mais precavidos a carregarem as blusas nos braços ou amarrada na cintura, outros preferem enfrentar o período curto de frio do dia com roupas mais leves mesmo e há os mais sensíveis às temperaturas baixas. “Minha filha tirou sarro que eu estava saindo com essa blusa e bota, mas eu tenho frio, vou fazer o quê?”, ri Aparecida Borges, 55.

Aparecida Borges: "Por mim tem que esquentar mais, eu amo calor"
Aparecida Borges: "Por mim tem que esquentar mais, eu amo calor"

A auxiliar de serviços gerais mora no conjunto Semíramis Barros Braga (zona norte) e estava esperando a filha sair do banco do lado de fora com as mãos no bolso. “Por mim tem que esquentar mais, pode bater os 30ºC, eu não gosto de andar no sol, mas eu amo calor”, comenta.

SEM PREVISÃO DE CHUVA

Borges está perto da temperatura desejada. O mês de julho bateu os 29ºC e no final da manhã de quinta-feira, quando ela pedia por mais calor, a temperatura na região era de 25ºC. Segundo Samuel Braun, meteorologista do Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), nos últimos dias, as temperaturas máximas de Londrina estiveram por volta de 26ºC e 27ºC e aponta que isso não vai mudar tão cedo.

“Não temos previsão de chuva para o Norte do Paraná nos próximos dias. Tem uma frente prevista para a semana que vem, mas que só vai aumentar nuvem, posteriormente pode dar uma esfriadinha, isso mais para o outro final de semana, mas a previsão não é estática, muda dia a dia”, indica.

VERANICO

Conforme o meteorologista, é comum a situação de tempo mais seco por período prolongado no período do outono e inverno. “Essa sequência de tempo mais seco acaba proporcionando a condição de aumento de temperatura, que é o que a gente chama de bloqueio atmosférico. É quando os ventos em níveis mais elevados da atmosfera impedem o avanço das frentes frias na região. A gente considera bloqueio a partir de 10 dias de tempo seco que faz a temperatura subir”, explica.

Braun indica que em 2019 houve um veranico no mês de agosto, quando choveu oito milímetros. “Neste ano, por enquanto, nós temos em julho e não sabemos se agosto vai perdurar”, afirma. Em Londrina, o mês de julho teve poucas chuvas, apenas três milímetros no dia 14. “Para a agricultura não muda, mas para a saúde já aumenta a umidade”. A última chuva maior foi do fim do mês de junho, no dia 27, quando os níveis de água atingiram 28 milímetros.

Sobre ter acabado o inverno na região, o especialista indica que é cedo para dizer. “Depende muito do que é inverno para cada um. Se faz 10º C, para algumas pessoas vai ser frio e para outras não. Essa temperatura abaixo de 10ºC pode ser que ainda aconteça em Londrina”, destaca.

O veranico é um fenômeno que ocorre nesse momento em todo o Brasil, principalmente na região Centro-Oeste, em que o ar seco acaba avançando para o Sul do País. Em Londrina, a temperatura mínima prevista para esta sexta-feira (24) é de 15ºC e máxima de 29ºC.