Imagem ilustrativa da imagem "A saudade é enorme", afirma família de jovem atropelado por motorista
| Foto: Reprodução/Arquivo Família


João Pedro Rodrigues da Silva passou mais da metade de sua vida em uma humilde casa de madeira da Rua Saturno, no Jardim do Sol, zona oeste de Londrina. Com a perda da mãe aos oito anos de idade por um problema de saúde, o garoto foi adotado pela tia e veio morar em Londrina, mas manteve contato constante com os dois irmãos que ficaram em Curitiba. Aqui, alternava-se entre o grupo de jovens de uma igreja católica no Jardim Bandeirantes aos sábados, o trabalho em uma empresa que conserta impressoras e o cursinho durante a semana. "Estava nascendo para a vida", lamentou Regiane Cristina Rodrigues da Silva, tia do garoto, que morreu após um grave acidente na Avenida Leste Oeste.

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Segundo a família, o jovem tinha o hábito de jogar vôlei com os amigos aos domingos pela manhã no aterro do Lago Igapó. No dia anterior ao acidente, João dormiu na casa de um colega que residia no Jardim Bandeirantes. Ao acordar bem cedo, ele voltou de bicicleta para pegar as redes que estavam em sua casa. No meio do caminho, enquanto transitava pela Leste Oeste, foi atingido pelo Vectra conduzido por Marcos Gelinski, que fugiu após a colisão.

Nesta foto, tirada uma semana antes do fatídico acidente, João aparece com amigos e familiares
Nesta foto, tirada uma semana antes do fatídico acidente, João aparece com amigos e familiares | Foto: Reprodução/Arquivo Família



Depois de ser levado ao hospital pelo Siate, os familiares de João receberam a ligação da mãe do amigo onde ele havia repousado. "Ela perguntou: O João chegou aí? Eu respondi que não. Foi aí que o desespero bateu e eu comecei a procura-lo. Estranhei porque já tinha dado o tempo dele chegar em casa", afirmou a tia, que entre um café e outro, não conseguiu segurar as lágrimas.

Regiane continuou. "Eu não me conformei com a resposta daquela mãe. 'O João não está aí?', perguntei. Ela me disse que não, e ainda acrescentou dizendo que ele tinha voltado pra casa pegar a rede do futebol. Foi daí que eu vi que a rede e a bola estavam aqui. Isso já 9h". Por diversas vezes, ela refez o percurso costumeiramente feito por João Pedro do endereço onde o amigo morava até sua casa. "Eu tentei todos os caminhos, fui pela BR-369 e até passei na frente do acidente, mas não tinha mais nada lá", comentou.

Sem informações sobre o paradeiro do motorista, a família fez um cartaz para tentar encontrar testemunhas que presenciaram a colisão
Sem informações sobre o paradeiro do motorista, a família fez um cartaz para tentar encontrar testemunhas que presenciaram a colisão | Foto: Reprodução/Arquivo Família


O jeito foi ligar para a Polícia Militar. "Eles me disseram que não registraram nenhum acidente naquela hora (6h30). Eu tentei no 193 do Siate e passei todas as características do João. O bombeiro de plantão confirmou que a vítima era um rapaz alto, que ele tinha se acidentado perto do Terminal da Zona Oeste e estava de bicicleta. Na Santa Casa, o enfermeiro me disse: 'Mãe, você vai precisar ser forte'. Foi aí que o meu mundo caiu".

O primo de João Pedro, Renan Stefano Pasco, também ouvido pela FOLHA, relembrou os momentos alegres com o amigo. "Ele era totalmente 'paz e amor'. Gostava de jogar videogame e bola comigo. Era molecão de tudo, e estava aproveitando a vida ao máximo. A saudade é imensa".

A prisão

Enquanto a família aguardava a recuperação de João Pedro na Santa Casa, Renan decidiu agir. Ele preparou um pequeno texto contendo detalhes do acidente e disparou a mensagem em grupos de WhatsApp. "Uma testemunha, que até hoje não conhecemos e possivelmente se tratava de um senhor que estava correndo na Leste Oeste quando o João foi atingido, chamou o Siate. Ele disse aos policiais que o carro era um Vectra branco. Reuni as informações e mandei pros meus amigos. Horas depois, recebi a foto com a placa e avisei a polícia", disse.

Renan negou que a PM tenha invadido a residência de Gelinski. "Ele liberou a entrada. Não houve agressão. O Marcos só foi levado à delegacia para prestar depoimento. Já passava da meia-noite, e o flagrante ainda não tinha expirado, como alega a advogada". Quase dez meses após a perda do "filho", Regiane quer justiça. "É um absurdo ele (Marcos) estar solto. Até hoje não recebi uma ligação de perdão pelo o que aconteceu. Quero a condenação que ele merecer. Infelizmente, o João não voltará mais", concluiu.