Patrimônio cultural é o que possui valor histórico e cultural para sua sociedade. De acordo com Vinicio Bruni, coordenador do Patrimônio Cultural do Estado do Paraná, os critérios para a escolha de um bem digno de ser tombado estão ligados ao interesse público de conservação, pela sua vinculação a fatos memoráveis da história do Paraná. “Podem, ainda, estar relacionados por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico, assim como os monumentos naturais, os sítios e paisagens. São critérios que levam a conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana.”

Estação ferroviária do Distrito de Marques dos Reis, em Jacarezinho: trem era elemento de conexão com toda a sociedade
Estação ferroviária do Distrito de Marques dos Reis, em Jacarezinho: trem era elemento de conexão com toda a sociedade | Foto: Anderson Coelho - 07/03/2012

No Norte Pioneiro os municípios com bens tombados são: Jacarezinho (pinturas internas de Eugênio Sigaud da Catedral de Jacarezinho, estações ferroviárias de Jacarezinho e do Distrito de Marques dos Reis); Jaguariaíva (edifício da Prefeitura Municipal, Estação Ferroviária de Jaguariaíva, Grupo Escolar Izabel Branco, Igreja do Bom Jesus da Pedra Fria); Joaquim Távora (Estação Ferroviária); Ribeirão Claro (Ponte Pênsil Alves Lima); Santo Antonio da Platina (Estação Ferroviária Platina). Bruni informa que não há no momento análise de mais tombamentos sendo realizada.

Segundo ele, a lei 1211, de 1953, determina que as coisas tombadas não poderão ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização, ser reparadas, pintadas ou restauradas. A lei determina ainda que se o proprietário não tiver recurso conservação deve comunicar à Divisão do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná, para que o Estado arque com a obra. “Muitas vezes as pessoas pensam que o tombamento garante recursos para esse bem e não é bem assim. A gente tem sugerido encaminhar o processo para a Secretaria da Fazenda, mas muitos desses imóveis podem ruir até chegar nessa fase do Estado fazer isso."

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JOAQUIM TÁVORA

Um exemplo de bem destruído e que foi reconstruído graças ao tombamento é a Estação Ferroviária Afonso Camargo, em Joaquim Távora, cuja construção teve início em 1922 e foi fundada em 1926. “Ela é três anos mais nova que a emancipação do município. Em 2013 houve um incêndio criminoso que destruiu totalmente o prédio. Em 2016 ela foi restaurada e em 2017 se tornou a sede do Departamento de Cultura do município", relata Flavio Luiz Ribeiro, secretário de Cultura de Joaquim Távora.

Incêndio destruiu a estação de Joaquim Távora em 2013; restauração aconteceu em 2016
Incêndio destruiu a estação de Joaquim Távora em 2013; restauração aconteceu em 2016 | Foto: Divulgação/Secretaria de Cultura de Joaquim Távora

“Depois do incêndio só havia restado o alicerce de pedra da estação. A Rumo Logística arcou com a reforma e cedeu o prédio para a prefeitura com a condição de que fosse utilizado de forma útil. De tempos em tempos a Rumo vem fazendo reformas." O local abriga também o memorial tavorense, pelo qual há a captação de doações de objetos antigos.

Imagem ilustrativa da imagem A importância de preservar o patrimônio cultural do Norte Pioneiro
| Foto: Divulgação/Secretaria de Cultura de Joaquim Távora

OUTRAS ESTAÇÕES

O pedido de tombamento para o Patrimônio Cultural do Estado do Paraná da estação de Joaquim Távora foi feito em 1999 em conjunto com outras estações da região (Jacarezinho, distrito de Marques dos Reis e Santo Antônio da Platina), inclusive o processo de todas elas possuem o mesmo número. O pedido também requisitava o tombamento de toda a malha ferroviária, acervos, túneis e obras de arte, mas somente as estações foram contempladas devido à complexidade do pedido.

A Rumo Logística afirmou que as estações ferroviárias citadas não fazem parte do contrato de arrendamento da Rumo, todas estão sob o cuidado do DNIT ( Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes). "Deste modo, a responsabilidade de manutenção e zelo por estes bens imóveis é do órgão federal."

BATALHA

Segundo o professor Roberto Bondarik, da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) de Cornélio Procópio, na Revolução de 1930 uma das batalhas aconteceu na estação de Joaquim Távora. A inauguração da estação ferroviária de Jacarezinho, marcada para 5 de outubro de 1930, não ocorreu devido a esse movimento revolucionário de 1930, porque foi utilizada para o desembarque de tropas.

A inauguração da estação ferroviária de Jacarezinho, que deveria ocorrer no dia 5 de outubro de 1930, não ocorreu nesse dia devido a esse movimento revolucionário de 1930.
A inauguração da estação ferroviária de Jacarezinho, que deveria ocorrer no dia 5 de outubro de 1930, não ocorreu nesse dia devido a esse movimento revolucionário de 1930. | Foto: Divulgação/Patrimônio Cultural do Estado do Paraná

SANTO ANTÔNIO DA PLATINA

Em Santo Antônio da Platina a estrada de ferro chegou ao município um pouco antes disso, em 1927, inicialmente de madeira e de pequeno porte e só posteriormente se tornou de alvenaria. A localização da estação ferroviária foi deslocada para leste, pois a população temia que ela pudesse atrair bandidos, prostitutas, doenças, ladrões etc. Por esse motivo a estrada de ferro passaria pela fazenda de café do major Infante Vieira, e a estação construída na localidade denominada Platina.

Em Santo Antônio da Platina a estrada de ferro chegou ao município em 1927.
Em Santo Antônio da Platina a estrada de ferro chegou ao município em 1927. | Foto: Divulgação/Patrimônio Cultural do Estado do Paraná

ELEMENTO DE CONEXÃO

A professora de História da Uenp (Universidade Estadual do Norte do Paraná), Janete Leiko Tanno, afirma que a preservação de estações ferroviárias é importante. “O trem era o elemento de conexão com toda a sociedade. E em cidades do interior a chegada de um trem era um evento. Era um espaço mesmo de distração. Você ia lá na estação para passear”, destacou.

Para a professora de História da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Luciana Evangelista, as estações ferroviárias representam uma materialidade do passado do café. “A valorização e a preservação desses espaços remete a esse passado, a uma parte na história da região que se desenvolve pela cafeicultura."

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