Curitiba - Está em curso, no Irã, um julgamento que vem sendo acompanhado com atenção pelos EUA, a União Européia, a ONU e diversos grupos defensores dos direitos humanos. Sete líderes da Fé Bahá'í, uma das mais significativas minorias religiosas daquele país, podem ser punidos com a pena capital caso sejam condenados. Eles são acusados pelos crimes de corrupção, blasfêmia contra o Islã, conspiração e espionagem para Israel.
Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva interveio a favor dos bahá'ís durante seu último encontro com o chefe do governo iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Mas os apelos foram em vão. Se condenados, os líderes vão engrossar o número de fiéis mortos desde 1979, quando a Revolução Islâmica reforçou a perseguição - que já existia - aos membros da chamada ''seita desviada''.
Uma das religiões monoteístas mais novas, a Fé Bahá'í surgiu no fim do século 19, na Pérsia (onde hoje é o Irã). Espalhou-se rapidamente pelo mundo e atualmente conta com cerca de 7 milhões de seguidores em 240 países. Inclusive no Brasil, onde 50 mil pessoas - descendentes de iranianos ou não - declaram-se bahá'ís.
Os adeptos crêem que o fundador do movimento, Bahá'u'lláh (1817-1892), foi um mestre divino como Buda, Moisés, Maomé, Krishna, Jesus Cristo etc. Em 1863, ele declarou ser o portador de uma mensagem que defendia a unidade das religiões e a igualdade entre os sexos, entre várias outras propostas inovadoras para a época. Logo passou a ser perseguido e terminou seus dias preso na região da Palestina Otomana, atual Estado de Israel.
Aliás, a Casa Universal da Justiça, sede mundial da Fé, fica na cidade de Haifa, em território israelense. É o suficiente para que o governo iraniano acredite que os bahá'ís sejam espiões em defesa do sionismo. O que os impede de se aposentar, ingressar num curso superior, trabalhar como funcionários públicos - enfim, de exercer uma cidadania plena.
Bahá'u'llhá ainda anunciou o advento de uma nova era, baseada na unificação dos homens e do planeta. Em uma série de cartas que enviou aos principais governantes mundiais de seu tempo, ele sugeriu a criação de um tribunal internacional moderador, a implantação de uma língua auxiliar comum a todos os povos, a obrigatoriedade da educação e a redução drástica dos gastos militares.
Para os fiéis, a globalização, como conhecemos, é o início de uma fase de ''maturidade'' da humanidade, baseada na paz universal e no desenvolvimento das potencialidades do indivíduo. Eles também acreditam que o profeta previu a criação da internet (''a base comum para a comunicação dos povos'').
Essa busca por unidade é justamente o principal alvo das críticas contra o bahaísmo, muitas delas feitas em tom de teoria conspiratória. Textos disponíveis na web, especialmente em sites de denominações evangélicas, acusam os líderes de tramar o estabelecimento de uma nova ordem mundial que vai apagar todos os traços culturais e religiosos das nações. E mais: o plano de dominação começa pela infiltração em pontos estratégicos das Nações Unidas.
A Fé Bahá'í tem mesmo fortes laços com a ONU, onde possui ''status consultivo não-governamental'' no Conselho Econômico e Social. Mas os seguidores se defendem alegando que essa ligação tem como objetivo impulsionar os mais de 300 projetos de educação mantidos pela comunidade mundo afora. No mais, os bahá'ís garantem que o surgimento de uma civilização única não significa a eliminação de valores anteriores. A justifica está em um de seus motes -''unidade na diversidade''.