Carro na palma da mão
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quarta-feira, 08 de novembro de 2017
Aline Machado Parodi<br>Reportagem Local
O serviço de compartilhamento de veículos é uma realidade em países da Europa, Estados Unidos e Canadá, principalmente em metrópoles com tráfego intenso e áreas restritas de circulação de automóveis, e vem se mostrando uma solução prática para quem utiliza o carro para curtas distâncias e por pouco tempo.
Um estudo realizado em cinco cidades americanas onde o sistema está disponível mostrou que entre 2% e 5% dos usuários venderam o veículo e, entre 7% a 10% deixaram de comprar o carro por causa das facilidades do serviço.
Em Roma, onde três empresas oferecem o sistema, a locação do carro é feita por meio de aplicativo no celular. Basta fazer um cadastro no site da empresa escolhida, baixar o app e encontrar o carro mais próximo. O pagamento é feito por cartão de crédito e o valor é cobrado em minutos usados. Os brasileiros precisam de carteira de motorista internacional para dirigir pela Itália.
É uma comodidade para os moradores e também aos turistas, pois os veículos podem circular por pelas áreas turísticas da cidade, que têm tráfego restrito, e também podem estacionar em qualquer ponto da cidade, sem a necessidade de pagamento do estacionamento. O usuário pode pegar e deixar o carro em qualquer ponto da cidade.
"É uma coisa revolucionária no processo de ir e vir. É uma grande sacada de mobilidade urbana, que propõe as vantagens de não precisar alugar um carro por muito tempo ou ter que comprar um carro na cidade onde você mora", comentou militar Ricardo Augusto Correa Neto Guimarães, 45, oficial da Marinha do Brasil.
Guimarães e a mulher, Thaise Limas Guimarães, 35, mudaram para Roma em setembro desde ano. O casal ficará na cidade por um ano e é usuário recorrente do sistema de carro compartilhado. "É uma coisa fantástica pela facilidade de encontrar, de estacionar em qualquer lugar e de servir depois para outra pessoa. Mais gente utilizando o mesmo carro é bom para o meio ambiente. Isso sem falar, que você não precisa se preocupar com a segurança, abastecimento e a limpeza", disse.
O aplicativo, que está atrelado ao Google Maps, mostra os carros próximos da localização do usuário, os dados do carro como placa, se é um modelo Smart (muito popular na Itália) ou para quatro pessoas, e quantidade de combustível. "Você consegue calcular se o combustível é suficiente para o tempo que vai usar", explica Guimarães.
O brasileiro afirma que, em Roma, o aluguel do serviço fica mais barato do que a utilização de táxi ou Uber. O carro para duas pessoas custa 24 centavos de Euro (em torno de R$ 1) o minuto e, o carro para quatro ocupadas, 26 centavos de Euro. "Para curtas distâncias e tempo pequeno de locomoção (menos de três horas) vale muito a pena, principalmente se você quer fazer alguma coisa específica tipo ir no supermercado", afirmou. "Tenho certeza que o brasileiro vindo para Europa ou indo para os Estados Unidos vai usar muito esse serviço", disse o oficial.
MOBILIDADE
Morador do Rio de Janeiro, Guimarães acredita que o compartilhamento de veículos faria sucesso no Brasil e poderia ajudar na locomoção das grandes cidades com grande fluxo de turistas e tráfego intenso como o Rio, São Paulo e Curitiba "O Brasil adora uma inovação. O sistema ia pegar muito fácil. O problema do Brasil é a segurança e poderia se desvirtuar o uso pela facilidade de registro no sistema", avaliou.
O geógrafo e professor do Departamento de Geociência da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Fábio César Alves da Cunha, especialista em mobilidade urbana, considera que esse tipo de serviço é interessante, mas em grandes metrópoles com problemas de tráfego intenso e restrição de circulação. "Acredito que em áreas sem restrição não pegue tanto e a pessoa prefira andar no carro dela." Mas, segundo ele, pode ser uma alternativa a mais de locomoção como a bicicleta, o trem, o Uber, o táxi, os veículos sobre trilhos.
A professora do Departamento de Transportes da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Márcia de Andrade Pereira Bernardinis, doutora em Engenharia de Transporte pela USP (Universidade de São Paulo), comenta que é preciso avaliar se a cultura brasileira está no nível de aceitar o compartilhamento, se deixaria o carro em casa ou não teria carro próprio para utilizar o serviço. "Senão acrescentaremos veículos ao sistema viário, tirando usuários do sistema de transporte público e fazendo uma logística reversa", comentou.
Segundo ela, para desafogar o trânsito é preciso dar opção de modais de qualidade aos usuários, permitindo que eles escolham se quer andar de bicicleta, de carro, de táxi, de metro, de ônibus. Assim, na avaliação da professora, nenhum dos modais se sobrecarregam.