Maringá – A Volvo apresentou o primeiro caminhão autônomo feito no Brasil. O VM Autonomus foi desenvolvido para o segmento sucroalcooleiro. A solução foi projetada para eliminar as perdas de produtividade provocadas pelo pisoteamento de soqueiras (brotos) por parte do caminhão durante a colheita da cana-de-açúcar. A estimativa da marca é que o veículo esteja em produção customizada até 2020.

O desafio foi projetar um sistema autônomo que garantisse precisão levando em consideração os desníveis do solo
O desafio foi projetar um sistema autônomo que garantisse precisão levando em consideração os desníveis do solo | Foto: Divulgação



Segundo os especialistas Volvo, com o VM autônomo a perda com pisoteio pode ser reduzida em 4%.O novo caminhão foi desenvolvido em pouco mais de um ano e testado nas lavouras da Usina Santa Terezinha, uma das empresas do Grupo Usaçucar, um dos maiores produtores e exportadores de açúcar do Brasil, sediado em Maringá. O desenvolvimento de um veículo que diminuísse as perdas partiu de uma demanda do grupo sucroalcooleiro, que já utiliza o VM SugarCane, caminhão específico para a cultura da cana.

Vídeo da repórter Aline Parodi:



"Eles (empresa) disseram que o VM estava excelente, só faltava andar sozinho. E lançaram o desafio", conta Roberson Oliveira, gerente de projeto de engenharia avançada do Grupo Volvo América Latina. O desafio foi projetar um sistema autônomo que garantisse precisão levando em consideração os desníveis do solo.

O caminhão roda ao longo das linhas da plantação, sem passar por cima das soqueiras. A precisão é de 2,5 centímetros. Durante a colheita, que ocorre 24 horas por dia, o motorista precisa manter o alinhamento com a colhedeira e evitar ao máximo passar sobre os brotos, que estão encobertos por palha. Durante a noite, esta tarefa fica ainda mais difícil. Eles trabalham com uma precisão de 30 centímetros.

"Não esmagar os pés de cana remanescentes na colheita era uma reivindicação antiga que tínhamos. O pisoteamento de soqueiras é atualmente o principal malefício da cultura da cana-de-açúcar no Brasil, maior inclusive que os problemas provocados pelo clima e por pragas", afirma Paulo Meneguetti, diretor financeiro e de suprimentos do Grupo Usaçucar.

Para criar a solução, a equipe de engenheiros da Volvo, do complexo industrial em Curitiba, com colaboração de especialistas da marca na Suécia e técnicos da Usina Santa Terezinha, aproveitou as tecnologias da plataforma global da montadora, que já são utilizadas nos VMX para mineração de profundidade e o caminhão lixeiro autônomo.

"Somos reconhecidos mundialmente por soluções de transporte inovadoras. Este é mais um lançamento que vai revolucionar o transporte no agronegócio brasileiro, um dos mais competitivos do mundo", declara Wilson Lirmann, presidente do Grupo Volvo América Latina.

PRECISÃO

A precisão do novo VM é garantida por uma rede de sensores instalados ao longo do veículo, que permitem a correção automática do curso. Caso, por exemplo, o eixo traseiro desvie da linha, o software corrige os eixos dianteiros para mantê-los alinhados. "É uma tecnologia que resolve o problema de precisão, o que é humanamente impossível de conseguir, inclusive nas manobras em marcha a ré", explica Oliveira.

O mapa digital do canavial é inserido no computador de bordo do caminhão e a solução da Volvo reconhece as linhas de plantação. O motorista tem o papel de conduzir o veículo até o início da linha e depois retirá-lo da plantação para fazer o transbordo nos veículos que levarão a carga até a usina.

INOVAÇÃO

A rede de sensores utiliza duas antenas de GPS de alta precisão (GNSS/RTK), parte do sistema VDS (Volvo Dynamic Steering, o revolucionário sistema de esterçamento da marca), dois giroscópios de alta sensibilidade e um display posicionado no interior da cabine do caminhão, que funciona como interface homem-máquina. "É uma solução extremamente inovadora, desenvolvida a partir de tecnologias já disponíveis comercialmente no grupo", diz o gerente. Os giroscópicos permitem a identificação da inclinação e deslocamento do veículo, tanto da cabina como do chassi, e o seu movimento relativo, inclusive
de angulação do terreno.

O VM Autonomus desenvolvido para a colheita da cana-de-açúcar mecanizada é um caminhão de 6x4 eixos, com pneus de alta flutuação, mas dotado de outros modernos equipamentos. Ele pode atingir até 12km/h, mas acompanha a velocidade da colhedeira, que também utiliza a tecnologia RTK para geolocalização. A velocidade é definida pela densidade da cana-de-açúcar.

(*) A repórter viajou a convite do Grupo Volvo América Latina.