Quando Cláudio Luiz Stenzowski, 69, era criança, as ruas perto de sua casa eram de barro. As importantes avenidas da região não tinham a estrutura que têm hoje. A Avenida República Argentina era ‘‘uma estrada de macadame’’ (com pedras brutas e moídas) e a Avenida Brasília era de terra de chão.
  ‘‘Quando chovia, a pessoa que passava ali à pé encalhava’’, conta o alfaiate aposentado. A divisa entre o bairro Novo Mundo, onde morava, e o Portão, bairro vizinho, era o trilho do trem.
  Quem deu o nome de Novo Mundo ao bairro da região Sul de Curitiba foi o avô de seo Cláudio Luiz. Perto de 1900, o imigrante polonês Alberto Stenzowski abriu um armazém e pensão no número 4.125 da Avenida República Argentina e o chamou de Novo Mundo.
  ‘‘A Europa é o velho mundo, é velha, o novo mundo é aqui no Brasil, ele brincava’’, diz Stenzowski, que não chegou a conhecer o avô, mas soube das histórias por intermédio do pai e da irmã mais velha.
  Além do Novo Mundo, diversas lojas de famílias tradicionais do bairro funcionavam na região, como a dos Schier, aberta até hoje. ‘‘A amizade entre os Stenzowski e os Schier é do tempo de nossos avós’’, afirma.
  Foi no Armazém Novo Mundo que seo Carlos Luiz nasceu, em 1938. Ele ainda se lembra que por um tostão, carroceiros vindos de Araucária e Contenda (Região Metropolitana de Curitiba) com erva-mate, porcos e bois que se hospedavam na pensão deixavam seus cavalos no terreno de trás da casa.
  Depois que casou, Stenzowski foi morar na rua 3 (em um loteamento novo onde as ruas ainda não tinham nome) e que por coincidência, anos mais tarde ganhou o nome de seu pai, João Stenzowski. Além de seu pai, seu avô e seu tio nomeiam as ruas do bairro, assim como vários outros moradores antigos.
  Há aproximadamente 30 anos, a casa do Armazém Novo Mundo deu lugar a uma loja de quase 10 mil metros quadrados, que representa uma das principais características da região. O bairro de 5.992.000 metros quadrados conta hoje com um comércio diversificado, que agrada os moradores. São mais de 1.213 estabelecimentos de comércio no Cadastro de Liberação de Alvará da prefeitura em 2005.
  ‘‘Temos tudo por perto, banco, mercado, shopping e farmácia’’, afirma Renata H. Candia Czeck, 31, que trabalha junto com o pai em uma banca de jornal localizada no bairro há mais de 30 anos. Moradora da região desde quando nasceu, Renata diz que gosta do bairro, mas acredita que com o crescimento do comércio, estão aumentando os casos de violência. Ela e o marido contam que a maioria das lojas da região já foi assaltada. Algumas delas, mais de uma vez e durante o horário de funcionamento, com clientes nas lojas.
  A esposa de Stenzowski, Maria Marlene Stenzowski, 63, também reclama da violência. Ela conta que toma cuidado e evita sair à noite. Ainda assim, diz que só sai do bairro quando for para o ‘‘Água Verde’’, brinca se referindo ao cemitério.
  Wagy Wassouf, 65, que comprou o terreno da família Stenzowski há aproximadamente 30 anos e é dono de uma das maiores lojas da região, acredita que a violência é comum a toda a cidade.
  ‘‘O bairro é maravilhoso, estamos rodeados de conforto. A falta de segurança é de todo o lugar, acho que não temos o direito de reclamar. Aqui é calmo’’, afirma.
  Os quase 47 mil habitantes do Novo Mundo se dividem em 49 pequenas vilas dentro do bairro. É uma população jovem, com média de 30 anos e a maioria dos moradores na faixa dos 20 a 24 anos, de acordo com o Censo 2000.
  Além do comércio, o bairro conta com dois Faróis do Saber, 24 escolas municipais, estaduais e particulares, uma faculdade e quatro unidades
de saúde.