Seara investe em terminais ferroviários
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quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Nelson Bortolin<br>Reportagem Local
Desde 2003, a empresa Seara vem investindo em terminais de embarque ferroviário no interior como forma de melhorar sua logística até o Porto de Paranaguá. Naquele ano, a embarcadora implantou o terminal de Londrina. Depois, criou outras unidades em Maringá e Itiquira (MT). E, no início deste mês, transferiu as atividades do terminal alugado em Maringá para uma sede própria e moderna na cidade vizinha, Marialva. Só ali, a capacidade é para o embarque de 2 milhões de toneladas por ano. São carregadas ao menos três composições por dia, com 80 vagões cada.
O gerente operacional da Seara, Victor Goltz, explica que, inicialmente, o objetivo dos terminais, que ficam em ferrovias concedidas à ALL, era atender apenas à demanda própria. "Mas, vimos que a procura por transporte ferroviário de grãos era muito grande e entendemos que seria um bom negócio prestar serviços também para outras tradings", conta.
A embarcadora cobra uma taxa de seus clientes pela movimentação nos terminais, mas não participa da negociação do frete, que é exclusivo da ALL. No ano passado, a Seara, que também tem um terminal em Paranaguá, movimentou 3 milhões de carga própria, sendo a segunda em volume no porto paranaense.
De acordo com Goltz, 60% da carga pertencente à Seara é transportada por trens. "No setor de grãos, o ferroviário é o modal ideal", afirma. A participação da ferrovia já foi de 95% das cargas da embarcadora. "Mas esse percentual baixou porque crescemos muito", alega. Ele ressalta, no entanto, que o plano é elevar essa participação para 80% com novos investimentos nos terminais. "A ALL consegue atender melhor quem tem armazéns como os nossos", justifica.
Segundo o gerente operacional do terminal de Marialva, Sidnei Aparecido Fritzen, a nova unidade vai agilizar em cerca de 20 horas a viagem até Paranaguá. "Esse tempo a gente perdia só dentro de Maringá, devido aos cruzamentos do perímetro urbano", conta. No total, o investimento em Marialva foi de R$ 80 milhões, o que inclui o terminal - com oito silos com capacidade total de 80 mil toneladas, três tombadores de carretas, e também dois viadutos construídos no município. "O nosso terminal não obstrui a passagem de ninguém pelas rodovias", declara.
A alta participação do modal ferroviário na movimentação da cargas da Seara é uma exceção. Apenas 28% dos grãos que chegam a Paranaguá vão sobre trilhos. Os caminhões levam o resto. A Cooperativa Integrada, que não possui terminais ferroviários, carrega só 20% dos grãos por trem. A empresa movimenta 1,5 milhão de toneladas, que saem do Norte e do Oeste do Paraná. "Nos últimos anos, a gente tem feito poucas exportações diretas e não estamos utilizando a ferrovia", afirma o gerente de Logística, Celso Otani. Somente a parte dos grãos compradas da cooperativa pelas tradings é que segue sobre trilhos.
"Poucas das nossas unidades têm acesso ao trem. Além disso, o trem demora muito e quando a gente está vendendo para a indústria, não dá para esperar", explica o gerente. Ele também ressalta que, no pico da safra, os vagões são poucos para a produção da região. "O trem fica muito concorrido e o frete acaba se equiparando ao do caminhão por causa da oferta e da procura." O custo do frete ferroviário é 30% menor que o rodoviário.
Otani reclama das tarifas de pedágio cobradas no Paraná alegando que elas representam até 15% do valor do frete. "É alto demais e impactam diretamente no preço do produto", afirma. Para ele, a duplicação da PR-445 ajudaria a melhorar a competitividade do agronegócio do Norte do Paraná. "Aumentaria a velocidade de escoamento e poderia reduzir custo de frete. Mas não vai mudar significativamente a nossa logística", declara.
O gerente considera que o trem poderia ser a solução para parte da carga movimentada pela cooperativa. "Mas precisaria ser eficiente e ter uma grande oferta de vagões", afirma.



