O geriatra e gerontólogo Rubens de Fraga Júnior: “A saúde é o melhor negócio”
O geriatra e gerontólogo Rubens de Fraga Júnior: “A saúde é o melhor negócio” | Foto: Gustavo Carneiro

Um quarto de século atrás, o antropólogo norte-americano Merril Singer, pesquisador da Universidade de Connecticut, cunhou o termo sindemia, um neologismo que junta os termos epidemia e sinergia.

De acordo com seu raciocínio, as epidemias podem se sobrepor umas às outras sob fatores sociais, ambientais e culturais propícios ao desenvolvimento de determinadas doenças. Em outras palavras, a combinação de enfermidades gera um gigantesco problema que se espalha em larga escala.

Portanto, a humanidade não enfrenta apenas a pandemia do Covid-19, mas algo maior ainda, uma sindemia, na qual doenças crônicas como obesidade, diabetes e hipertensão se somam à contaminação do vírus. A tese, publicada em revistas científicas conceituadas, já foi avalizada até mesmo pela Organização Mundial de Saúde.

Para o painelista Rubens Fraga Júnior, geriatra e gerontólogo que também é professor da Faculdade Evangélica Mackenzie, de Curitiba, o conceito é muito adequado para entender a atual realidade.

Ele lembra que o tratamento dos idosos, o grupo etário que mais sofre com as chamadas comorbidades e que contabiliza a maior parte das 3,7 milhões de vítimas da atual crise sanitária, está vivendo uma fase adaptativa, com novos modos de abordagem e cuidados especiais.

Neste contexto, o avanço tecnológico que permitiu o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde foi um fator decisivo para salvar vidas e manter a esperança das famílias e do mercado. A imunização preferencial dos idosos evitou uma realidade ainda mais sombria, avalia o especialista. “O que seria esta pandemia hoje sem a vacinação?”, questiona.

Para ele, a grande inovação imposta pela sindemia é a clareza inédita de uma ideia antiga: “a saúde é o melhor negócio”. Ele constata que há uma valorização de produtos, serviços e hábitos que naturalmente se encaixam nesta nova sensação.

“O conceito de envelhecimento saudável ganhou muita força. A boa alimentação e a atividade física ao ar livre são hábitos que serão assimilados mais naturalmente. O próprio confinamento expôs a necessidade da importância de ser disciplinado neste aspecto, com hora certa para acordar, dormir, se alimentar, trabalhar, se movimentar e se divertir”, analisou.

Outro ponto destacado pelo painelista foi a aceleração do uso da telemedicina, um recurso que já estava em discussão havia duas décadas mas que evoluía lentamente. A comunicação remota entre médico e paciente já não é mais um tabu. Conselhos e governos discutem legislações e protocolos para sua regulamentação.

“A telemedicina já mostrou que é capaz de reduzir a demanda para atendimentos de emergência, de admissão em procedimentos eletivos, de tempo de permanência em leitos hospitalares e até mesmo da taxa de mortalidade”, afirma.

O ambiente de inovação fomentado pela sindemia, segundo Fraga Júnior, também induziu o uso mais intensivo da inteligência artificial na área médica. Ele lembrou de um estudo da China no qual novas tecnologias foram capazes de distinguir resultados de tomografias de pulmão com pacientes infectados pelo novo coronavírus de pacientes com outros tipos de pneumonia.