Imagem ilustrativa da imagem O nosso dinheiro e as inovações no mercado financeiro
| Foto: Roberto Custódio

Você deve ter percebido que a sua carteira anda cada vez mais digital e ter alguns trocados no bolso, passou a ser coisa rara. Literalmente. Nunca pagamos tanto com o “dinheiro de plástico” e as transações via PIX indicam uma estrada feita cada vez mais de bytes e menos de dinheiro vivo. Para onde estamos caminhando? Essa e outras questões foram debatidas durante a quarta edição da Rodada de Conteúdos, evento online realizado na última quarta-feira (15), promovido pelo Grupo Folha de Londrina e com a participação de especialistas em mercado financeiro. Pode parecer um universo distante, mas acredite: as inovações tecnológicas já fazem parte do dia a dia das finanças do brasileiro.

Durante pouco mais de uma hora, a jornalista e produtora de conteúdo da BitcoinTrade, Flávia Jabur, a diretora da Rede Paraná e Norte de Santa Catarina do Santander Brasil, Marilize Ferrazza e Roberto Rodrigues, gerente de captação na Sicredi União PR-SP, falaram sobre as inovações do mercado e do impacto no futuro dos relacionamento entre empresas, público geral e mercado financeiro. A medição ficou por conta do economista Marcos Rambalducci, professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), consultor econômico da ACIL e colunista da FOLHA.

Marcos Rambalducci e José Nicolás Mejía
Marcos Rambalducci e José Nicolás Mejía | Foto: Roberto Custódio

Ao dar as boas vindas aos participantes, José Nicolás Mejía, superintendente do Grupo Folha, destacou o caráter inovador do mercado financeiro. “A pandemia acelerou a digitalização do setor. Conceitos como banco digital, PIX, fintechs e open banking estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano. Realizamos esse evento para conhecer um pouco mais o que é essa inovação dentro do sistema financeiro e como isso vai afetar o relacionamento junto ao mercado”.

Alguns pontos direcionaram toda a conversa entre os participantes como a atuação das fintechs, as criptomoedas, o open banking e as novas modalidades de transferência de dinheiro; um bom começo para assuntos que poderiam render horas de conversa dado ao extenso conteúdo. “Queremos levar informação e conhecimento, na tentativa de entender onde estamos e para onde caminhamos”, pontua Marcos Rambalducci, mediador da Rodada.

Para a diretora do Santander Brasil, Marilize Ferrazza, as fintechs, por exemplo, exercem uma pressão muito positiva nas instituições bancárias tradicionais ao trazer uma aceleração de processos. “Elas chegam para aumentar a agilidade e a comodidade do cliente, melhoram os custos e atuam de acordo com a necessidade do usuário”, afirma. Ainda assim, na opinião da administradora, seria muito cedo falar da extinção das agências tradicionais.

Misteriosas e sedutoras, as criptomoedas também vêm ganhando espaço e tentando provar que podem ser uma opção segura de investimento. De acordo com a jornalista Flávia Jabur, especialista no assunto, o conhecimento de como funcionam as criptomoedas é determinante para se alcançar rentabilidade. “Desde que a pandemia começou, sentimos um aumento no interesse pelos ativos em criptomoedas. É um mercado volátil e que faz muito sentido no momento econômico que o mundo está

vivendo”, afirma. Para Roberto Rodrigues, gerente de captação na Sicredi União PR-SP, é importante trazer à tona questões do omnichannel, essa tendência do varejo onde acontece a convergência de todos os canais utilizados por uma empresa, onde o consumidor quase não consegue ver a diferença entre o mundo online e o off-line. “Estamos falamos de diversos canais e oportunidades que chegaram ao mercado financeiro junto com as inovações”, diz.

Para o especialista, o movimento de digitalização no setor financeiro traz mais facilidade no acesso à informação, produtos e serviços, provocando uma mudança no perfil do investidor brasileiro. “Hoje, a maior parte dos investidores que atendemos apresenta um perfil moderado. Antes, esse perfil de investidor era predominantemente conservador”, comenta.

Mediador Marcos Rambalducci com os painelistas ao fundo
Mediador Marcos Rambalducci com os painelistas ao fundo | Foto: Roberto Custódio

A tecnologia a serviço das necessidades humanas

Atento às mudanças impostas pela tecnologia no setor, o economista Marcos Rambalducci, mediador da Rodada de Conteúdos FOLHA sobre inovação no mercado financeiro, acredita que as necessidades humanas nunca deixarão de serem levadas em consideração. “Somos seres humanos, não bytes. Caminhamos para um mundo em que precisaremos trabalhar a tecnologia em consonância com o entendimento das necessidades humanas”, afirma.

Rambalducci confessa ser uma daquelas pessoas que não gosta de ir até à agência bancária, preferindo os atendimentos remotos, mas ainda assim, defende a necessidade do interlocutor de carne e osso. “O Sistema Bancário e Financeiro precisará estar atento a isso e saber mesclar atendimentos virtuais com interações pessoais. As mudanças trazidas pela tecnologia e pelas novas regulamentações precisam ser discutidas e divulgadas para que não exista uma segregação entre aqueles que estão inseridos no sistema e os que ainda não assimilaram as tecnologias, entre pobres e ricos, entre `bancarizados´ e `não-bancarizados’”, analisa.

O crescimento das fintechs já provocaram uma redução significativa nos custos para o cliente bancário. Um exemplo prático é que hoje, fazer uma transferência além de fácil, é seguro, rápido e na maioria das vezes, com custo zero. “As bandeiras de cartões de crédito também reduziram significativamente os custos para os lojistas. A possibilidade de ter direito a uma quantidade de transações bancárias por mês com uma taxa mínima mensal também já é uma realidade. Não podemos esquecer que muitas pessoas utilizam a conta poupança, sem custo algum, como se fosse uma conta corrente”, explica. Para o economista, estes benefícios aconteceram graças à tecnologia que também trouxe uma disputa mais acirrada entre a concorrência por novos consumidores.

E como conquistar clientes que ainda se mostram um tanto resistentes a tanta novidade tecnológica na hora de mexer com o próprio dinheiro? “Sem dúvida ainda há uma resistência bastante grande em depositar confiança em algo que não se pode pegar ou guardar. Mas à medida que estas facilidades vão ficando mais disseminadas, creio que esta resistência vai refluir”, comenta Rambalducci que não acredita que o medo possa provocar um retrocesso na implantação das novas modalidades de movimentação

financeira. “Isso sempre vai esbarrar no nível de insegurança percebido. Vale lembrar que isso não é uma exclusividade do Brasil. A malandragem existe em profusão no mundo todo. Cabe às empresas que atuam no setor garantirem o investimento necessário para o proteção do cliente e ao poder incumbente, a tarefa de criar as leis necessárias para coibir ao máximo praticas desta natureza”, diz.

Mesmo que a inovação demore a chegar no bolso de todos os brasileiros, Rambalducci considera que a tecnologia no setor financeiro traz soluções para problemas de uma parcela significativa da população. “A tecnologia só tem relevância quando está à serviço do homem. Muitas vezes, ela atropela nossa própria capacidade de aprender seu manuseio portanto, eventos como as Rodadas de Conteúdo são fundamentais e colocam as pessoas à par da necessidade de se manterem atualizadas. Uma coisa é certa: é fundamental que a tecnologia seja uma solução capaz de permitir o embarque de todos. Que seja inclusiva e democrática”, completa.

Marilize Ferrazza
Marilize Ferrazza | Foto: Roberto Custódio

Digitalização transforma o futuro das agências bancárias

A presença de Marilize Ferrazza, diretora do Santander Brasil na Rodada de Conteúdos FOLHA sobre inovação no mercado financeiro, trouxe uma perspectiva interessante sobre o futuro das instituições bancárias. A tecnologia decretaria o fim do cafezinho junto com o gerente, na agência? Isso não vai acontecer, na opinião da administradora de empresas e membro do grupo de liderança feminina da instituição.

Segundo Marilize, vem ocorrendo um processo de ressignificação do conceito de agência bancária que com a convergência para o digital, passa a sere tratada como loja. Um exemplo prático é o Work Café, já em funcionamento em algumas cidades do Brasil. “Isso revoluciona o modelo tradicional de agências, fortalecendo a prestação de serviços financeiros. Toda estrutura foi pensada para impulsionar o ecossistema de empreendedorismo. Nesses espaços, além de desfrutar de uma estrutura com cafeteria e wi-fi gratuito, os clientes têm à disposição espaço de coworking onde conseguem promover a interação, a colaboração e os negócios entre seus membros e com o próprio Banco”, conta.

A agência do futuro, continua Marilize, é multifuncional. “Outra iniciativa que vem se fortalecendo são as das lojas vocacionadas para o público do agronegócio”, conta. Na opinião da especialista, as unidades físicas continuarão a existir como loja de negócios, para assistência técnica, venda de tangíveis e consultoria.

As transformações são muitas, continua Ferrazza, principalmente no que diz respeito à digitalização, com os clientes escolhendo como querem ser atendidos. “O que fazemos é atendê-los no canal da sua preferência, seja ele físico ou digital. O cliente quer ter autonomia no dia a dia e uma consultoria para algumas situações especiais como investimentos e financiamentos”, conta. Treinamentos constantes dos colaboradores e acompanhamento individual do cliente, faria toda a diferença na análise de Marilize. “Nosso trabalho é desenvolver os nossos meios digitais, mas sem deixar de lado as nossas lojas físicas, que ainda são muito procuradas pelos consumidores”.

Impossível não levar em consideração os desafios do País em relação à saúde financeira do brasileiro, com um perfil de clientela muito diversificado. “Em uma ponta, temos os nativos digitais que absorvem e exigem diariamente muitas inovações. Em outra ponta, termos um perfil de cliente tradicional, que muitas vezes se sente mais seguro com o atendimento presencial. Indiferente do perfil, estamos investindo em inovação para gerar excelência no atendimento ao cliente e melhorar sua experiência. A digitalização deve ser vista sempre como parte da solução para atendermos às necessidades do consumidor, em qualquer cenário”, analisa.

Assim como em outros setores, a solidez das instituições bancárias mais tradicionais acaba por conquistar até os consumidores mais desconfiados. “A imagem de solidez e confiabilidade construída por um Banco é um dos seus maiores patrimônios, junto com a cartela de clientes. Construímos essa imagem ao longo de décadas e isso inspira confiança junto à clientela ao mercado financeiro nacional e internacional. Temos investimentos importantes e sistemáticos em segurança cibernética para que os clientes possam utilizar esses espaços virtuais sem preocupações. Essa confiança está se intensificando à medida em que desenvolvemos nossos canais digitais, deixando-os cada vez intuitivos e seguros”, conta.

Para Marilize Ferrazza, o acesso à informação sobre as novas ferramentas disponíveis com a transformação digital, deve ir além da simples demonstração de como tudo funciona. “Um evento como a Rodada de Conteúdos FOLHA mostra a melhor maneira de utilizar os serviços e apoia a educação financeira, um conhecimento fundamental para toda a população. A Folha de Londrina, mais uma vez, aproxima seu público dessa área tão importante na vida de todos nós”, pontua.

Roberto Rodrigues
Roberto Rodrigues | Foto: Roberto Custódio

Tecnologias mudaram o perfil do investidor

O gerente de captação na Sicredi União PR-SP, Roberto Rodrigues, ressalta que as novas tecnologias e plataformas de acesso ao sistema financeiro têm mudado o perfil do investidor atual.

“Esse movimento de digitalização traz muito mais facilidade, tanto no acesso a informação quanto a produtos e serviços. Isso balançou todo o mercado de investimentos recentemente, de maneira que quem consome esse produto no final acaba sendo beneficiado”, pontua.

Por outro lado, Rodrigues ressalta que o excesso de informação com relação a investimentos e aplicações financeiras hoje talvez tenha um efeito colateral: a ansiedade que isso tem gerado em muitos investidores.

“Parece que de uma hora para outra todos os investimentos ficaram ruins e, se você não está investindo em algo moderno. ficou para trás. Isso é bom porque faz o investidor questionar o seu gerente de negócios, o seu consultor.”

O gerente acrescenta que esse sentimento ficou muito evidente no início do ano passado, quando a pandemia eclodiu no mundo todo e houve um movimento muito intenso de queda dos investimentos na Bolsa de Valores.

“Pessoas que não estavam com os seus investimentos adequados ao seu perfil acabaram perdendo dinheiro. Os que estavam bem-assessorados investindo de forma consciente surfaram muito bem essa onda.”

Ele comenta que no último ano, na região de Londrina, houve um aumento considerável do perfil de investidores moderados, quando anteriormente predominavam os de perfil conservador. “Hoje a maior parte dos investidores que nós atendemos na região de Londrina é de perfil moderado.”

Essa informação é corroborada pela pesquisa recente publicada pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) sobre o raio-X do investidor.

“Todos os produtos de investimentos, com exceção da poupança, o produto mais simples e tradicional, tiveram aumento de uso, como fundos de ações, títulos públicos e fundos de investimentos. A poupança, por sua vez, perdeu cerca de 5 milhões de poupadores.”

De um lado, há um movimento de mais informação, e isso faz com que a propensão e a tolerância a riscos por parte do investidor mude. “Isso é muito positivo. Mas por outro lado, a perda de poupadores reflete infelizmente um desdobramento da crise, em que há perda de recursos e esse investidor está resgatando as suas reservas.”

OPEN BANKING

Sobre o Open Banking, o gerente destaca que, felizmente, o novo sistema bancário está ocorrendo de forma concomitante com o aprofundamento e a implantação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

“Todo mundo tende a ser cada vez menos abordado, seja por e-mail ou por telefone. A LGPD obriga quem faz o contato que haja uma autorização da pessoa receptora. Isso evita que o cliente seja bombardeado por um monte de informação e oferta que às vezes não quer receber. Pelo Open Banking, os meus dados passam a ser meus e eu decido com quem eu vou compartilhar, com qual instituição eu vou compartilhar”, explica.

ENTRAVE

O gerente considera que um entrave para o movimento de inovação ser mais intenso é a realidade do Brasil, já que estamos em um país de infraestrutura muito heterogênea, sendo que a internet não é a mesma em todos os lugares. Além disso, a renda média do brasileiro é baixa.

“Por mais que a digitalização tenha diminuído a desbancarização, ainda permanece um outro grande desafio, que são os sub-bancarizados, pessoas que têm uma conta numa instituição financeira, mas não utilizam todas as potencialidades que essa relação traz.”

Por fim, o gerente espera que todas essas inovações possam ser cada vez mais inclusivas e trazer contribuição para que haja um mercado financeiro cada vez mais sustentável. “Que a gente possa contribuir para que as pessoas tenham mais saúde financeira”, conclui.

Flávia Jabur
Flávia Jabur | Foto: Roberto Custódio

Investir em moedas digitais demanda conhecimento

A jornalista especializada em moeda digital Flávia Jabur também sentiu a mudança do perfil de investidores no mercado desde o início da pandemia. “As pessoas buscaram alternativas, e muitos começaram a olhar para o mercado de criptomoedas.”

Ela destaca que esse é um movimento positivo, apesar de que as pessoas ingressaram nesse mercado sem ter conhecimento.

“O reflexo disso me preocupa um pouco, principalmente por ser um mercado muito volátil, mas que faz muito sentido, principalmente no momento econômico que o mundo está vivendo.”

Flávia Jabur acrescenta que notou muita gente querendo ganhar dinheiro muito rápido com criptomoedas. “Precisamos tomar um certo cuidado, e esse é o meu trabalho: ensinar as pessoas a investirem com calma no mercado e não entrarem achando que vão ter um superlucro amanhã.”

A criptomoeda é uma moeda virtual que se utiliza da tecnologia blockchain para criptografá-la e mantê-la segura. Hoje, são mais de 11 mil criptomoedas no mercado, sendo o bitcoin a principal delas.

“É uma moeda totalmente virtual que não depende de nenhum banco ou instituição para funcionar, totalmente descentralizada, permitindo que você seja dono do próprio dinheiro. A tecnologia blockchain traz segurança para o mercado cripto.”, destaca.

Outro aspecto importante da moeda virtual apontado pela especialista é promover liberdade ao investidor.

“Tivemos o Talibã tomando o Afeganistão, muitas pessoas chegaram preocupadas para retirar o dinheiro. Chegaram na porta e não conseguiram porque estava fechado. O bitcoin te dá liberdade de ter acesso ao seu dinheiro do mundo inteiro, 24 horas por dia.”

Por ser um mercado de renda variável, o bitcoin subiu muito do ano passado para este ano.

“No ano passado, chegou a ficar abaixo de 4 mil dólares. Esse ano bateu 65 mil dólares. Uma valorização absurda, mas não temos como prometer esse rendimento, é variável. Se alguém chega prometendo algum rendimento para você, desconfie porque isso é impossível. Tem que tomar alguns cuidados, com a empresa que vai colocar seu dinheiro e com a criptomoeda que você vai investir.”

Segundo Flávia, o Brasil está trabalhando para criar a sua moeda digital do Banco Central e há outros países desenvolvendo suas moedas digitais. “A China está batendo de frente com as criptomoedas porque está lançando a sua moeda digital. E ano que vem o Brasil deve ter novidades em relação ao real digital.”

Apesar de ser bem mais divulgado, o assunto criptomoedas ainda é novo e complicado para muita gente. “Se grandes empresas olham já para o mercado cripto, já possuem criptomoedas, acredito que precisamos olhar para esse mercado, mas começar a estudar, a entender o verdadeiro sentido. É muito importante buscar maior liberdade financeira”, conclui.

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