David Figueiredo, professor da Unicentro: "Identificamos algumas cepas relatadas em janeiro deste ano, mas circulando em Londrina desde outubro do ano passado"
David Figueiredo, professor da Unicentro: "Identificamos algumas cepas relatadas em janeiro deste ano, mas circulando em Londrina desde outubro do ano passado" | Foto: Gustavo Carneiro

"Em busca de respostas para perguntas sobre saúde humana". Essa foi uma das frases que registraram a participação do médico David Livingstone Alves Figueiredo no Rodadas de Conteúdo do Grupo FOLHA na última terça-feira (8), que tratou de aspectos como Inovação e Tecnologia na Área da Saúde. Figueiredo, que é coordenador do curso de Medicina da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), em Guarapuava, participou remotamente do encontro.

A frase em questão diz respeito ao tema trazido pelo professor aos participantes: o chamado Vale do Genoma, um ecossistema de inovação que faz parte do projeto "Genoma Covid-19", conduzido pela Rede de Estudos Genômicos do Paraná, que envolve mais de 20 instituições - entre elas UEL ( Universidade Estadual de Londrina) - e mais de 270 pesquisadores, além de entidades da sociedade civil organizada.

Em sua essência, o "Vale" tem como objetivo estudar diversas patologias, e se tornou o projeto principal da Rede após o início da pandemia. As atividades são financiadas tanto pelo Governo do Estado, através da Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), por meio da Fundação Araucária, quanto pela Prefeitura Municipal de Guarapuava. Os estudos utilizam da estrutura do Instituto de Pesquisa do Câncer (IPEC) em Guarapuava.

"Tem tudo a ver com o tema deste encontro (inovação). Utilizando dessa plataforma genômica e com a inteligência artificial, queremos enfim trazer essas respostas", resumiu o médico e professor da Unicentro sobre os trabalhos de sequenciamento genético de pacientes acometidos pela Covid-19 para associar a gravidade do coronavírus e suas variantes.

"A classe médica já sabe e a população em geral está tendo conhecimento de que a evolução clínica para casos mais graves não está sempre associada ao perfil de comorbidade". Segundo ele, já foram sequenciadas 160 amostras, grande parte delas vindas de Londrina, por meio de laboratórios da UEL. "Identificamos algumas cepas relatadas em janeiro deste ano, mas circulando em Londrina desde outubro do ano passado", completou o pesquisador, fazendo referência à cepa P2, decretada de forma oficial no Rio de Janeiro.

Divididos em três grupos: evolução leve, moderada e grave - segundo critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Projeto quer sequenciar três mil amostras de todo o Paraná e entender o comportamento do vírus, podendo a curto prazo contribuir para elaboração de novos protocolos de tratamento e prevenção da doença. Figueiredo estabelece a importância deste trabalho. "Na parte epidemiológica, é muito importante (este trabalho), pois novas variantes estão surgindo, muitas delas têm sua transmissibilidade acelerada, outras possuem uma carga viral maior que as outras", explicou.

Também fará parte das atividades do projeto o sequenciamento de pacientes que já receberam pelo menos uma dose da vacina, para obter conhecimento de cepas que sejam resistentes ao imunizante aplicado.

PARANÁ É REFERÊNCIA

Perguntado sobre a posição do Estado na área genômica, o médico David Livingstone Alves Figueiredo não pensou duas vezes em afirmar que o Paraná é referência em âmbito nacional. "Digo até que estamos na vanguarda, devido ao corpo de pesquisadores e equipamentos. Prestamos serviços em sequenciamento para a USP (Universidade de São Paulo) e entidades internacionais. O Brasil, como um todo, tem uma expertise considerável", disse.

Com o Vale do Genoma, segundo o médico, a intenção é de abranger todo um ciclo que vai da pesquisa básica até o produto final para o mercado, através das startups. "Acessar o conhecimento da academia e trazer para a aplicação tecnológica. Custa caro no início? Custa. Quem não investir agora vai perder o caminho. E quem investir terá, além da expertise, um produto para beneficiar toda a população", finalizou.