Gilberto Martin:  "Precisamos o quanto antes da informatização e da integração nacional do sistema”.
Gilberto Martin: "Precisamos o quanto antes da informatização e da integração nacional do sistema”. | Foto: Gustavo Carneiro

Hospitais lotados, pacientes de UTI em um número nunca visto, sobrecarga das equipes médicas. O tsunami que abateu a saúde pública com os milhões de pacientes da Covid foi um aprendizado compulsório. Do lado de fora deste ambiente de dor e desespero, as empresas que criam produtos e prestam serviços para a área médica se moviam em direção às novas demandas.

A reportagem da FOLHA aproveitou as reflexões da Rodada de Conteúdo para perguntar a um ex-gestor público experiente para entender o que o SUS (Sistema Único de Saúde) poderia absorver desta nova parafernália pós-pandêmica.

“Um problema sanitário gravíssimo como este expõe todas as deficiências do sistema público”, afirma Gilberto Martin, um ex-deputado estadual que já comandou as secretarias estadual e municipal de Saúde e é considerado um especialista do engenhoso sistema que o Brasil nas últimas décadas criou para oferecer saúde gratuita e universal. “Ao mesmo tempo nos mostrou caminhos. Por exemplo: precisamos o quanto antes da informatização e da integração nacional do sistema”.

Na prática, Martin se refere à criação de um cartão magnético de identificação que guardasse um prontuário completo de cada usuário, inclusive com os procedimentos realizados fora do sistema. “Poderíamos criar uma estratégia de testagem e monitoramento de casos suspeitos, por exemplo”, explica.

Os cartões abasteceriam um grande banco de dados e dariam suporte para elaboração e aplicação de políticas públicas mais certeiras. “O maior desafio é a informatização completa do sistema. E a uniformização dos programas que arquivam todas as informações. O que acontece hoje é que é impossível implementar esta base nacional de dados porque as realidades são muito heterogêneas, com muitos registros analógicos e em diferentes tipos de programas não se compatibilizam”.

E o que falta para o Brasil chegar a esta nova realidade? “Especialmente decisão política. O governo central deve liderar esta transformação, com muito diálogo, organizar a participação da iniciativa privada, que poderia criar consórcios para construir e operar este novo modelo”, sugere.

IMPACTO NO ENSINO

Martin também é professor do curso de medicina da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Londrina e comentou como os estudantes estão lidando com os novos paradigmas da carreira médica. “O maior aprendizado destes tempos é que não precisamos fazer tudo de forma presencial. E isso pode ser positivo, porque o trabalho ganha agilidade”, frisa.

Em relação à preparação para exercer a telemedicina, o docente acredita que uma vez regulamentado, as escolas vão naturalmente incluir a modalidade no currículo. “Há uma grande chance de que isso aconteça sem sobressaltos. Justamente porque eles estão vivendo esta realidade durante o curso e também porque são estudantes de uma geração superconectada. Em relação aos mais velhos, que já estão trabalhando, eu lembraria uma frase que a turma da zona rural usa bastante: ‘a necessidade é que faz o sapo pular’. Ou seja, a necessidade é uma grande inovação”, brinca.