Os personagens que amplificam os sons da urbe a cada esquina
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terça-feira, 28 de março de 2000
Rubens Burigo Neto
Olha a cobra ! Borboleta 13, corre hoje ! Juntos, os gritos de Terezinha Leonice Santos e o eclético repertório do saxofonista Antônio Cândido da Costa são a trilha sonora do calçadão da Rua XV há mais de 25 anos. A catarinense de Abelardo Luz (município quase na divisa com o Paraná) começou a trabalhar nas ruas do centro da cidade vendendo doces. Terezinha queria melhorar a situação financeira da família e, há quase 26 anos, passou a vender bilhetes das loterias federal e estadual.
Consegui criar meus seis filhos com o que ganho vendendo bilhetes. Posso sair com um real de casa, mas todo dia volto com meus vintinho, diz. Terezinha, que vai completar 50 anos em maio, conta que já vendeu mais de dez bilhetes premiados. Em 1985 comprei o bilhete númerto 13035, da cobra, e ganhei 50 milhões na época, dinheiro suficiente para eu comprar minha casa, relembra sorrindo.
Aliás, o sorriso e o bom humor são a marca registrada de Terezinha, que fica diariamente das 9 da manhã às cinco da tarde num dos cantos do criuzamernto da Rua XV com a rua Monsenhor Celso. Adoro ficar aqui porque distrai a cabeça, a gente esquece o dia passar. Nem a concorrência de outros vendores a incomoda. O sol brilha para todos.
Antes de começar a tocar Carinhoso um dos maiores sucessos dos compositores Braguinha e Pixinguinha o policial militar aposentado Antônio Cândido da Costa faz questão de frisar que nos mais de 30 anos em que toca na XV a família jamais reclamou pela ausência dele. Estou em Curitiba desde 1948, quando vim de Jacarezinho (Norte do Estado). Ainda toco na banda da PM mas eu gosto mesmo de ficar aqui na XV, sempre mudando de lugar, revela.
Segundo tenente aposentado, Cândido garante que tocar na rua, além de aumentar o ganho mensal, funciona como terapia. Atualmente ele está preocupado em conquistar um companheiro. Quero fazer uma dupla com um gaiteiro, mas estou esperando acabar a preguiça de um amigo para começarmos a tocar.Músicos e vendedores destacam-se na sonoridade urbana
José SuassunaSONORIDADEO policial militar aposentado Antônio Cândido da Costa, que toca saxofone em vários pontos da Rua XV e a vendedora de bilhetes de loteria são dois personagens que enriquecem o espaço sonoro da cidade