Na construção civil, sustentabilidade é a palavra da vez
Para especialista, a avaliação do ciclo de vida de uma edificação é uma forma de quantificar o impacto ambiental na obra
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sábado, 02 de dezembro de 2023
Para especialista, a avaliação do ciclo de vida de uma edificação é uma forma de quantificar o impacto ambiental na obra
Douglas Kuspiosz - Especial para a FOLHA
Com as mudanças climáticas batendo à porta, a preocupação com a sustentabilidade em diferentes setores tem sido cada vez maior. Na construção civil, as ações sustentáveis podem ser adotadas desde a elaboração do projeto arquitetônico até a entrega da obra, observando aspectos como a rastreabilidade de materiais, o uso de energias renováveis e o reaproveitamento de resíduos.
A arquiteta e professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Olívia Orquiza, explica que o principal gargalo neste momento é a dificuldade de avaliar os impactos das construções considerando o ciclo de vida do imóvel.
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“Para conseguirmos realmente fazer uma arquitetura sustentável, precisamos saber de onde a matéria-prima veio quando saiu da natureza e o quanto ela impactou o meio ambiente no seu processo de produção. Depois, quando esse material sai da indústria e vai para a obra, ele também tem muita perda”, citando ainda a importância de avaliar o tempo de uso da edificação. “Dependendo das especificações e dos materiais, vamos ter maiores trocas, maior necessidade de manutenção, maior consumo energético e de água. São vários fatores que vão aumentando o impacto.”
Segundo Orquiza, o estado da arte na sustentabilidade, tanto na escala do edifício quanto na escala urbana, dialoga com a economia circular. É necessário pensar em cidades e projetos regenerativos.
COMEÇO, MEIO E FIM
“É compreender que as coisas têm começo, meio e fim, e tentar fazer com que esse material demore mais tempo para voltar à natureza. Reutilizar o máximo possível. Pensar em projetos para a desmontagem”, pontuando que um prédio pode dar lugar a uma escola, por exemplo. “É esse tipo de preocupação que precisamos ter. É o próximo passo para alcançarmos essa tão falada sustentabilidade.”
De olho no mercado, a professora acredita que tem havido uma preocupação maior no sentido de encontrar novas soluções. O fato de as mudanças climáticas estarem “escancaradas”, como diz Orquiza, tem contribuído para esse movimento.
FORMAÇÃO ACADÊMICA
Uma prática que pode contribuir para o avanço na área é a adoção de selos ambientais para produtos nos moldes do EPD (Environmental Product Declarations), utilizado na Europa. Trata-se de uma quantificação do impacto gerado por um determinado material, o que pode garantir melhores escolhas para os profissionais da área.
A professora é enfática ao dizer que na academia há uma preocupação na formação de profissionais com responsabilidade social e ambiental. É preciso compreender o papel desempenhado na construção da cidade, acredita.
LONDRINA
De acordo com Rodolfo Sugeta, gerente regional da Plaenge em Londrina, a empresa se preocupa há anos com sustentabilidade em obras residenciais e industriais. Ele cita que os empreendimentos são projetados para que a energia seja usada de forma racional e os térreos adotem o reaproveitamento de água da chuva.
“Nosso maior investimento, atualmente, tem sido na área de processos. Por meio da metodologia da Porsche Consulting e adoção da tecnologia BIM, nossas obras são cada vez mais enxutas e limpas, com uso racional dos materiais de construção e redução no volume de dejetos, que sempre recebem a destinação adequada”, explica.
BEM-ESTAR
O gerente regional aponta que, para além do viés ecológico das obras e cuidado com uso de materiais e resíduos, a sustentabilidade também dialoga com o bem-estar e a usabilidade dos empreendimentos após a entrega.
“São exemplos a preocupação em oferecer um entorno amigável à vizinhança, paisagismo como um dos elementos para conforto ambiental e escolha dos materiais, que sempre norteiam os nossos projetos e constituem um dos nossos diferenciais”, continua.
BIOFILIA
Em Londrina, a Plaenge é pioneira na aplicação de conceitos como biofilia e gentileza urbana visando melhorar a qualidade de vida dos moradores.
“Um exemplo em desenvolvimento é o Plaenge Parque Urbano, um masterplan paisagístico exclusivo que está transformando uma região ocupada por empreendimentos da empresa, próxima a uma região de preservação ambiental que margeia o Lago Igapó. A ideia é usar a arquitetura para incentivar o lazer, o encontro, a prática de esportes e a realização de eventos ao ar livre”, afirma Sugeta, acrescentando que o projeto foi feito pelo paisagista Benedito Abbud, referência internacional em iniciativas que conectam a vida humana à natureza. “Ele desenhou um projeto unificado para toda área externa dos edifícios, com caminhos repletos de árvores, jogos de luz e sombra, e experiências sensoriais que poderão ser aproveitadas por todos que vivem na região.”
SELO VERDE
Sugeta explica que a Plaenge, por meio de sua divisão industrial, é referência no Brasil na construção de empreendimentos sustentáveis certificados pelo selo verde Leed, concedido pela GBC (Green Building Council) Brasil. “O selo atesta fábricas construídas a partir de soluções sustentáveis, como eficiência energética e reuso de águas pluviais, entre outras iniciativas ambientalmente corretas”, acrescenta.
A obra mais recente foi a nova sede do Sicredi Maringá, construída a partir dos conceitos de green building e que busca a conquista da certificação Leed Platinum da GBC, o mais alto grau de sustentabilidade no mundo.
REDUÇÃO DE IMPACTOS
De olho no futuro, Orquiza acredita que é preciso discutir formas de as edificações absorverem mais a água da chuva. É importante pensar tanto na redução de impactos para as pessoas, quanto para a própria cidade.
“Quando a gente impermeabiliza o chão, estamos impactando a cidade como um todo. Essa água vai se juntar com toda a poluição que ela veio lavando e acaba provocando enchentes, maior poluição dos cursos d'água. É preciso pensar em uma arquitetura e em uma cidade esponja, que absorva esses impactos. Isso já nos leva em direção a essa sustentabilidade”, avalia.
Outra tendência para o futuro é aplicar soluções baseadas na natureza, formando uma rede estrategicamente planejada com essas ações, formando uma infraestrutura verde para ajudar a reduzir os impactos de modo geral. “O pensamento do ciclo de vida é fundamental para chegar nessa cidade sustentável, assim como pensar na economia circular e em projetos regenerativos”.