Com as mudanças climáticas batendo à porta, a preocupação com a sustentabilidade em diferentes setores tem sido cada vez maior. Na construção civil, as ações sustentáveis podem ser adotadas desde a elaboração do projeto arquitetônico até a entrega da obra, observando aspectos como a rastreabilidade de materiais, o uso de energias renováveis e o reaproveitamento de resíduos.

A arquiteta e professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Olívia Orquiza, explica que o principal gargalo neste momento é a dificuldade de avaliar os impactos das construções considerando o ciclo de vida do imóvel.

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“Para conseguirmos realmente fazer uma arquitetura sustentável, precisamos saber de onde a matéria-prima veio quando saiu da natureza e o quanto ela impactou o meio ambiente no seu processo de produção. Depois, quando esse material sai da indústria e vai para a obra, ele também tem muita perda”, citando ainda a importância de avaliar o tempo de uso da edificação. “Dependendo das especificações e dos materiais, vamos ter maiores trocas, maior necessidade de manutenção, maior consumo energético e de água. São vários fatores que vão aumentando o impacto.”

Segundo Orquiza, o estado da arte na sustentabilidade, tanto na escala do edifício quanto na escala urbana, dialoga com a economia circular. É necessário pensar em cidades e projetos regenerativos.

COMEÇO, MEIO E FIM

“É compreender que as coisas têm começo, meio e fim, e tentar fazer com que esse material demore mais tempo para voltar à natureza. Reutilizar o máximo possível. Pensar em projetos para a desmontagem”, pontuando que um prédio pode dar lugar a uma escola, por exemplo. “É esse tipo de preocupação que precisamos ter. É o próximo passo para alcançarmos essa tão falada sustentabilidade.”

Sustentabilidade na construção também implica na gentileza urbana e qualidade de vida dos moradores
Sustentabilidade na construção também implica na gentileza urbana e qualidade de vida dos moradores | Foto: iStock

De olho no mercado, a professora acredita que tem havido uma preocupação maior no sentido de encontrar novas soluções. O fato de as mudanças climáticas estarem “escancaradas”, como diz Orquiza, tem contribuído para esse movimento.

FORMAÇÃO ACADÊMICA

Uma prática que pode contribuir para o avanço na área é a adoção de selos ambientais para produtos nos moldes do EPD (Environmental Product Declarations), utilizado na Europa. Trata-se de uma quantificação do impacto gerado por um determinado material, o que pode garantir melhores escolhas para os profissionais da área.

A professora é enfática ao dizer que na academia há uma preocupação na formação de profissionais com responsabilidade social e ambiental. É preciso compreender o papel desempenhado na construção da cidade, acredita.

LONDRINA

De acordo com Rodolfo Sugeta, gerente regional da Plaenge em Londrina, a empresa se preocupa há anos com sustentabilidade em obras residenciais e industriais. Ele cita que os empreendimentos são projetados para que a energia seja usada de forma racional e os térreos adotem o reaproveitamento de água da chuva.

Rodolfo Sugeta, gerente do Grupo Plaenge, referência no Brasil na construção de empreendimentos sustentáveis certificados pelo selo verde Leed
Rodolfo Sugeta, gerente do Grupo Plaenge, referência no Brasil na construção de empreendimentos sustentáveis certificados pelo selo verde Leed | Foto: Felipe Teixeira/ Divulgação

“Nosso maior investimento, atualmente, tem sido na área de processos. Por meio da metodologia da Porsche Consulting e adoção da tecnologia BIM, nossas obras são cada vez mais enxutas e limpas, com uso racional dos materiais de construção e redução no volume de dejetos, que sempre recebem a destinação adequada”, explica.

BEM-ESTAR

O gerente regional aponta que, para além do viés ecológico das obras e cuidado com uso de materiais e resíduos, a sustentabilidade também dialoga com o bem-estar e a usabilidade dos empreendimentos após a entrega.

“São exemplos a preocupação em oferecer um entorno amigável à vizinhança, paisagismo como um dos elementos para conforto ambiental e escolha dos materiais, que sempre norteiam os nossos projetos e constituem um dos nossos diferenciais”, continua.

BIOFILIA

Em Londrina, a Plaenge é pioneira na aplicação de conceitos como biofilia e gentileza urbana visando melhorar a qualidade de vida dos moradores.

“Um exemplo em desenvolvimento é o Plaenge Parque Urbano, um masterplan paisagístico exclusivo que está transformando uma região ocupada por empreendimentos da empresa, próxima a uma região de preservação ambiental que margeia o Lago Igapó. A ideia é usar a arquitetura para incentivar o lazer, o encontro, a prática de esportes e a realização de eventos ao ar livre”, afirma Sugeta, acrescentando que o projeto foi feito pelo paisagista Benedito Abbud, referência internacional em iniciativas que conectam a vida humana à natureza. “Ele desenhou um projeto unificado para toda área externa dos edifícios, com caminhos repletos de árvores, jogos de luz e sombra, e experiências sensoriais que poderão ser aproveitadas por todos que vivem na região.”

SELO VERDE

Sugeta explica que a Plaenge, por meio de sua divisão industrial, é referência no Brasil na construção de empreendimentos sustentáveis certificados pelo selo verde Leed, concedido pela GBC (Green Building Council) Brasil. “O selo atesta fábricas construídas a partir de soluções sustentáveis, como eficiência energética e reuso de águas pluviais, entre outras iniciativas ambientalmente corretas”, acrescenta.

A obra mais recente foi a nova sede do Sicredi Maringá, construída a partir dos conceitos de green building e que busca a conquista da certificação Leed Platinum da GBC, o mais alto grau de sustentabilidade no mundo.

REDUÇÃO DE IMPACTOS

De olho no futuro, Orquiza acredita que é preciso discutir formas de as edificações absorverem mais a água da chuva. É importante pensar tanto na redução de impactos para as pessoas, quanto para a própria cidade.

“Quando a gente impermeabiliza o chão, estamos impactando a cidade como um todo. Essa água vai se juntar com toda a poluição que ela veio lavando e acaba provocando enchentes, maior poluição dos cursos d'água. É preciso pensar em uma arquitetura e em uma cidade esponja, que absorva esses impactos. Isso já nos leva em direção a essa sustentabilidade”, avalia.

Outra tendência para o futuro é aplicar soluções baseadas na natureza, formando uma rede estrategicamente planejada com essas ações, formando uma infraestrutura verde para ajudar a reduzir os impactos de modo geral. “O pensamento do ciclo de vida é fundamental para chegar nessa cidade sustentável, assim como pensar na economia circular e em projetos regenerativos”.