Maringá - Às 6h, quando o sol começa a iluminar o dia, a fila é grande no Terminal Rodoviário de Mandaguaçu, município de 19,2 mil habitantes na Região Metropolitana de Maringá (RMM). Dali partem os ônibus que levam, ao custo de R$ 2,35, aqueles que trabalham ou estudam em Maringá. Os coletivos aguardam ao lado do terminal, encostando a cada cinco minutos e lotando rapidamente.
  Na fila está Jardel Marconi, 21 anos. Nascido e criado em Mandaguaçu, ele conta que gosta da cidade, mas lamenta por não ter conseguido encontrar um emprego ali. Depois de cumprir a jornada como analista de crédito em um estabelecimento do comércio maringaense, ele ainda vai para a faculdade onde cursa Administração e só estará de volta a Mandaguaçu às 23h30.
  Quinze quilômetros adiante pela PR-552, em Ourizona, 3,3 mil habitantes, o auxiliar de laboratório Rodolfo Sevinhago, 19, e o metalúrgico Alan Bandeira, 20, aguardam o ônibus. Eles também trabalham em Maringá e já pensam até em deixar o município onde nasceram, por pura falta de oportunidade. ‘‘A viagem é de 40 minutos. Só estaremos de volta a Ourizona quando já for noite. Não quero viver assim para sempre. Tenho que pensar no meu futuro. Aqui é sempre a mesma coisa. Não evolui’’, reclama Rodolfo. O coletivo que faz a linha Ourizona-Maringá por R$ 3,20 chega e os dois rapazes embarcam junto de mais de uma dezena de outros jovens.
  Essas situações se repetem todos os dias na ‘‘inchada’’ Região Metropolitana de Maringá, que engloba atualmente 25 municípios, 17 desses com menos de 10 mil habitantes.
  Sem estrutura e condições de oferecer oportunidades para os seus moradores, as cidades menores acabam ficando com a pecha de ‘‘dormitórios’’. Estudo do núcleo do Observatório das Metrópoles que funciona na Universidade Estadual de Maringá (UEM), feito em nove municípios da RMM, aponta que em Mandaguaçu 25% da população com mais de 15 anos se dirige diariamente a Maringá, realizando o que é chamado tecnicamente pelos estudiosos da área de ‘‘movimento pendular’’. Em Sarandi e Paiçandu mais de 40% dos moradores vão e voltam todos os dias.
  Enquanto isso, prefeitos fazem queixas sobre a forma injusta quanto ao tratamento que é dado por parte dos governos estadual e federal, que não enxergam a região de forma uniforme e não repartem o bolo dos recursos de maneira igualitária.
  A coordenadora do Observatório das Metrópoles, Ana Lúcia Rodrigues, que estuda a região desde 2004, quando fez doutorado enfocando a ‘‘segregação socioespacial na Região Metropolitana de Maringᒒ, concorda que o movimento pendular acontece pela falta de investimentos nos municípios que estão no entorno da cidade-polo. ‘‘Maringá concentra 85% de toda a riqueza da nossa região. Tudo fica lá, menos boa parte da população, que é obrigada a migrar todos os dias. Muitos até se mudam para a cidade maior, onde não encontram moradia. Estudos nossos mostram que 30% das famílias que residem em Maringá pagam aluguel. Por outro lado, já se inicia um movimento de famílias procurando morar nas cidades do entorno, como Mandaguaçu’’, comenta.
  Ana Lúcia também se queixa do fato de ‘‘barganhas políticas’’ determinarem a formação oficial das regiões metropolitanas. Em fevereiro, sem alardes, a Assembleia Legislativa do Paraná incluiu 12 novos municípios na região de Maringá. Uma das provas de como o processo é feito sem maiores estudos está no fato de Bom Sucesso, Cambira e Jandaia do Sul, cidades que utilizam o código de área 43 para a telefonia, entrarem na região onde todos os outros municípios usam o código 44, dificultando o processo de transformação em locais as chamadas de uma cidade para outra da RM.
  ‘‘Dessa forma, é difícil pensar em políticas para a região. O passe do transporte coletivo, por exemplo, não é integrado. E dificilmente será porque há municípios, como Astorga, que não querem’’, finaliza a pesquisadora. (Colaborou Silvana Leão)